quinta-feira, 3 de abril de 2014

O CONTRATO



                     O CONTRATO

     

Com as ásperas costas, das encardidas mãos,

limpou o resto do amaro e rascante vinho azedo

que deixou na boca o gosto acre de vinagre;

Não era pacífica, a imagem do homem que ali estava

Nem eram doces, seus olhos que espreitavam

Camisa aberta e amarfanhada era a janela que a pele usava

e o que bastava para se entrever o amuleto que o resguardava

Dedos nodosos, embrutecidos, impacientes um som tiravam

da velha mesa que carcomida pela idade, inda ecoava

Os pés calçados pelas botinas descoloridas, empoeiradas

moviam-se rápidos e batiam os joelhos que revidavam

Na cabeça, roto chapéu de couro cru que mal cheirava

sombreava no duro rosto, os vincos que a vida seca cravara

Dentes dourados adornavam a boca fina, escorrida;

A cena inteira se conspurcara pelo fumo, enegrecida

Agora, tudo a volta se tornara tenso, denso, irrespirável...

até a luz bruxuleara, diante da figura rara!

O silêncio instalado emudeceu a sanfona atrevida

As mulheres, perspicazes, recolheram-se aos lares

e às orações pela vida

As crianças, de repente, perceberam tementes,

 a tal presença macabra

E os homens cismados com o intruso sentado

afastaram-se dos bares...

Todos se constrangiam e o forasteiro sentia que a hora era de pavor...

Pois, alguém o contratara e ali, ele aguardava,

 sem remorso ou piedade,

por “aquele” que não sabia que a curiosidade envolvia:

- Um “matador” na cidade!



                            Zelia da Costa/RO/2005

Nenhum comentário:

Postar um comentário