terça-feira, 20 de julho de 2021

AO IMPÁVIDO COLOSSO

           AO IMPÁVIDO COLOSSO ...

                   E AO LÁBARO ESTRELADO!

         O brasileiro ainda não se deu conta de como foi tratado com desprezo pelas autoridades que regem a EDUCAÇÃO, responsáveis pela sua convicção de integração nacional e evolução intelectual, identidade nobre e sucesso pessoal!

       Acompanho, com desencanto crescente e absolutamente  decepcionada, o esfacelamento dos objetivos que visavam oferecer ao povo instrução e meios que possibilitem a toda população acesso enraizado à Cultura de forma lúdica, didática, prática e natural e perene!

       Não há como negar ter havido uma espécie de projeto nocivo e sistemático, um trabalho de exitoso distanciamento dos valores cívicos e intelectuais para induzir nos nativos deste país o menosprezo por suas raízes, sua cultura,tornando-os presas fáceis e submissas a valores externos.   Tudo  planejado, conscientemente, para forjar o alheamento dos ícones que constroem e enraízam o altivo sentimento de nacionalidade, de amor ao Brasil.

       Parece que o povo perdeu a noção da importância de resguardar seu idioma -a Língua Portuguesa - que  com os séculos, ganhou contornos nacionais e identidade própria ao  desenvolver neste solo, expressões brasileiras que se impuseram como registros e que se identificam na energia imantada que nos devia irmanar no sentido de prestigiar e fomentar a "Pátria" invocando a grandeza que eleva nossa Unidade Nacional!

       Se as línguas de outros povos se universalizaram pelas populações humanas estrangeiras, dispersas pelo planeta, mantendo a identidade de suas raízes, pertinentes e impostas a outros povos como índice de " casta de superior  nacionalidade" que as identificam e lhes instigam o sentimento de amor à Pátria, vínculo de origem... Por que não usamos dos mesmos ideais e os assimilamos em nosso benefício???

       Verdade!

       Embora pareça simples detalhe, não há  noutras populações esse alheamento, esse descaso incomum ferindo o sentido emocional de Pátria, de Nação!

      Não há entre as fortes Nações. o menosprezo pela seu idioma original, falado ou escrito e seus símbolos nacionais .Os ditos estrangeiros não admitem substituir suas expressões da língua nativa, orgulho de seu berço, por vocábulos alheios, signos inseridos em suas narrativas como suposta linguagem atual, ferindo o registro de sua identidade, sentida por eles como superior.

       Por que será que, súbito, esta constatação me causou uma emoção tão dolorosa e humilhante?    Pode até parecer uma impressão pueril, mas doeu! 

        Assisti, pela televisão,a um jogo de futebol entre Itália e Inglaterra e fiquei emocionada com a maneira que os jogadores cantaram os hinos nacionais de seus países.Era apenas um jogo de futebol, que embora definisse o campeão do certame, prescindia da sentida emoção com que os hinos de seus países foram patrioticamente cantados com letras quase declamadas, com orgulho pessoal e altivez nacional invejáveis.

        A memória não me perdoou! 

        Os jogadores brasileiros não "conhecem" o Hino Nacional Brasileiro!  

        É uma vergonha! 

        Uma humilhação que se expõe quando as câmeras de TV impõem a visão deprimente dos nossos atletas,timidamente balbuciando o poema de "um texto" que ignoram o sentido, a escrita e exprimem com a inibição de quem sabe ter pouca intimidade com aquele vocabulário nada usual.        Assim, balbuciam, "aos trancos", sem externar o orgulho devido, quase pedindo desculpas pelo ridículo da "ousadia" de cantar, em público, o Hino Nacional do Brasil, sua Pátria! 

       O pior é que comungam com um povo inteiro da mesma ignorância. Estes atletas não estão sós! 

       É uma exposição negativa modelar!            

       É deprimente saber que este cenário infeliz é exposto ao mundo.Pura humilhação!

        Estas são imagens que profanam nossa nacionalidade e expõe, a total descaso, os símbolos que exaltam o amor ao nosso País de origem.

        A verdade é que este evento põe a nu, a fragilidade da Educação Brasileira!

     O brasileiro, após passar por um período escolar inicial, vence o Ensino Médio, se torna candidato ao Curso Técnico ou se propõe à disputar nos exames vestibulares, vaga para atingir a Formação Universitária. Lutam, após, por uma possibilidade de emprego e estudam para atingir esses objetivos, como guerreiros frente ao campo de batalha.

       Estes brasileiros precisam se desdobrar agora nos estudos e descobrem, tardiamente, que os oito anos que precederam os exames vestibulares foram um engodo. Agora, precisam recuperar o tempo perdido e investir como nunca seus esforços para "reaprender" o conteúdo programático exigido e a redigir com eficiência, as temíveis redações,entre outros conteúdos que lhes foram, urdidamente, negados.

    Porém, seguirão seus destinos, vítimas da realidade. Eles não tem a dimensão do crime a que foram submetidos. São brasileiros alheios aos Símbolos Nacionais que os irmana no mesmo Território desta Nação e que deveria fomentar a grandeza de um Povo! O País em que nasceram não projetou e elevou o sentimento do espírito de nativos do mesmo espaço territorial!Não lhes fomentou a grandiosidade de seu berço de origem!

    Assim, a gente vai percebendo que o crime compensa.

    A língua falada no Brasil é vilipendiada por todos. Li, hoje, que o depoimento de um elemento mau caráter identificado," bisonhamente", por "hacker" apavorou. Ele declarou que pode invadir computadores e urnas eletrônicas.Quer dizer para valorizar a informação nossos jornalistas usam desse artifício. Conclusão:

      Não é complexo de inferioridade. São inferiores mesmos!

      Bem na notícia revelada não me intrigou  "superdotação" do cafajeste  para o crime e, sim, a expressão "hacker"! Por que o jornalista não o chamou "vigarista", "malandro", "safado", "bandido", sórdido invasor de computadores? Não seria ofensa e, sim, o reconhecimento da identidade criminosa. Não é por economia intelectual porque sempre é acrescentada à noticia"o hacker violou a memória do computador"e, aí, identificam o local e dissecam o crime.Portanto, vigarista pode substituir o vocábulo inglês.

    Por que o ministro do stf (minúsculo mesmo) mandou prender o sujeito sob suspeita de usar "fake news" e não por  "disseminar notícias falsas", "boatos"?

    Existe coisa mais ridícula do que prefeitos, governadores e ministros decretarem ou aprovarem o "lockdown"?Por que não o imposto "isolamento"?

    Eu sei. São analfabetos!Não conhecem a expressão na idioma nacional!

    O ministro supra citado não domina o vocabulário da Língua Pátria! Se usasse alguma expressão latina, ainda podia ser perdoado, por ser vocábulo "de origem", mas o fato de se apossar de expressões estrangeiras, com tanta arrogância e intimidade, em lugar da Língua Pátria, além da comprovada pobreza vocabular, expõe o detrimento que impõe à própria cultura e nacionalidade.

     Duvido, que um cidadão americano, insira em seu idioma, um vocábulo estrangeiro com a intimidade e constância que o brasileiro o faz. Isto prova nossa falsa erudição.Exemplo, um magistrado americano declarando:

- I will arrest the vigarista!( Em lugar de hacker)

  Nenhum outro povo submete sua Língua Pátria a tamanho desprestígio e humilhação!

   ( Usei um exemplo tosco,para mostrar a inferioridade de nossa cultura!)

      Aqui, usamos vocábulos estrangeiros para passarmos a falsa ideia de erudição, como esse juiz que, lamentavelmente, não se deu conta do ridículo e da evidente ignorância que a ele não é permitida, sob qualquer hipótese.

     Lamentável, mas o povo brasileiro não tem Língua Pátria, nem Hino Nacional...E ignora sua Literatura! Assim, se tornou um amontoado de gente ávida por usar expressões estrangeiras, que por ignorância cívica e cultural os condenará à deteriorização de um rico idioma que se fará avesso e, assim, impossível de ser cantado, recitado ou emitido com o orgulho e intimidade, imposição altaneira da verdadeira Nacionalidade!

      A Língua irmana um povo e lhe proporciona  usufruir da grandeza, do orgulho desmedido da própria existência nacional. 

     Falar outro idioma abre-lhe as portas para uma nova dimensão de cultura e oportunidades de trabalho, mas substituir a linguagem usual - brasileira - por vocabulário estrangeiro...É trair sua cultura e depreciar seus valores pátrios pela vaidade que só aos idiotas cabe ostentar!

      Que aqueles responsáveis pela cultura e sentimento de orgulho e grandeza socorram a Nação Brasileira, traduzindo para seu povo - vocábulos - fomentando raízes de sua origem, ao invés de inseri-los na linguagem esdrúxula, como só os povos submissos e inferiorizados o fazem!

      Brasileiros! 

      Não permitam que a estupidez e a falsa cultura, agregadas à vaidade rasteira e infame de alguns, tirem a grandeza original da sua língua e o orgulho que nos une como irmãos! Conheçam com intimidade seus tesouros! 

    Somos um só Povo, nascidos neste imenso e indescritível Território,Senhores de sua rica Natureza e dos Tesouros que ela segreda!                                  Ei-lo a nossa frente... 

         - Orgulhem-se do "Impávido Colosso"!

 E gritem "Vivas" ao...

          " Lábaro que ostentas estrelado! " 

Zelia da Costa/NM/MT/20/07/2021.                                 

 

terça-feira, 13 de julho de 2021

NÃO CONTEM PRA NINGUÉM

               NÃO CONTEM PRA NINGUÉM!

        Bem, nos reunimos aqui hoje porque quero marcar este momento com a presença de todos.O sr.Galdino, nosso amigo, que doou essa linda caixa para "nossas abelhas"viverem em paz, construindo sua colmeia,já nos informou o quanto é importante para elas, a nossa proteção.Elas foram colocadas nesse cantinho, mais distante um pouco das nossas árvores, para que não sofram ataques de pássaros e outros insetos.

          Aprendi, que não devemos nos aproximar da colmeia porque as abelhas acreditam que somos inimigos e atacam para se defender.              Também, devemos evitar os movimentos bruscos para enxotá-las porque elas pensam que queremos machucá-las.

            - Abelha pensa, professora?

           - Eu desconfio que sim, porque para sobreviver, elas criaram um plano de construção da colmeia. Uma arquitetura frágil e ao mesmo tempo resistente, inserida numa espécie de projeto que garante o manejo da conservação de seu produto e natural sobrevivência desses insetos. Para mim, isso é pensar - talvez, forma diferente da humana,mas inteligente.

           - Vocês já foram informados que elas recolhem o pólen das flores, aquele pozinho que existe dentro das flores e o submetem a um processo que resulta em MEL.Ocorre, que as abelhas ao pousarem, de flor em flor, provocam a multiplicação das espécies vegetais porque depositam o pólen nas flores.  Muitas espécies de plantas raras só sobreviveram graças a reprodução provocada pelas abelhas nas densas florestas e também nos jardins.

          Atenção!Por favor! Não "abanem com as mãos" tentando evitar a aproximação das abelhas porque isso é interpretado como "ataque" nosso, contra elas!

          - Mas, aí. ela vai "morder a gente"?

          - Abelha não morde...Ela pica!Mas...isso só acontece quando se sente ameaçada, e aí, ela se defende!

    Eu li,que elas são capazes de armazenar odores e os reconhecerem. Então,ela " identificará" você como "amigo", se você não lhes fizer mal. 

      Elas vão viver aqui no fundo do quintal... Podemos visitá-las mas, vamos "dar um tempo"pra que elas entendam que estão vivendo entre amigos protetores.

   Vamos deixar que elas nos conheçam melhor!        Vamos provar que não lhes faremos mal e que elas nada tem a temer.

     É hora de deixá-las em paz e como são muito inteligentes e sensíveis logo nos reconhecerão!

   - Quem não gosta de fazer amigos?

   - Amigo de abelha, professora?

   - Deixa eu lhes contar um segredo.Já fiz amizade com um maribondo.Eu deixava escorrer um filete de água da torneira e ele ía lá beber.E quando ele entrava em minha casa e não me via,  me procurava por todo canto pra eu abrir a torneira e ele se servir.Às vezes, levava para algum lugar, uma gotícula segura entre as patinhas! Penso que era para ajudar na construção de sua casinha!Quem sabe?

       Converso com passarinhos... Falo com árvores...E sempre fiz grandes amigas entre as borboletas! Não acreditam?Pois bem, querem fazer amizade com as abelhas? Então faremos!

      - Mas elas picam e minha mãe disse que dói muito!Ela disse que não entende por que a senhora "inventou de criar esse bicho"?

       -Diga a sua mãe que ela vai se arrepender...

        E, assim, demos início ao trabalho de inserção ao Projeto  Apicultura!

       O tempo passou e agora, dado o excesso de produção, era preciso coletar o mel, cortando favos. Conseguimos,graças aos amigos, que um jovem fosse nos prestar esse serviço.

       Levei as crianças para assistir ao "evento"!

       O moço chegou e se dirigiu para os fundos da escola.Da bagagem que levava retirou uma capa de plástico negra e vestiu. Ele já estava com botas de cano longo e aí, para nosso espanto, retirou um pequeno "lança-fumaça" e pediu-me que retirasse as crianças porque as abelhas, certamente, reagiriam atacando.

      - Senhor! Eu e as crianças somos reconhecidos por elas como amigos. Nunca houve aqui uma criança picada! Olha, como elas pousam na gente.Queria lhe pedir que não usasse tanto a fumaça...      Experimenta mexer nelas sem atacá-las...          Por favor...O senhor já está todo protegido...Faça essa experiência...Por favor!

          Ele coçou a cabeça...

          - Bem, peça então, pra eles ficarem mais distantes.

        Atendemos e nos afastamos.

        Sem excessos,ele abriu a caixa.Houve uma reação como se as abelhas estivessem surpresas, mas não atacaram. Voavam ao redor dele, enquanto cortava os favos e os depositava em um recipiente, previamente, higienizado que cedemos.

       Eu e as crianças a curta distância assistíamos Mesmo assim, elas voavam e pousavam em nós,   sem nos atacar!

        Terminada a operação o moço despiu de toda aquela parafernália e veio falar comigo:

        - Olha, professora, a senhora não conta pra ninguém o que aconteceu aqui, porque ninguém vai acreditar! Nunca fiz isso desse jeito e vou lhe dizer que estava preocupado que o pior acontecesse.

         "Suas abelhas" tiveram uma reação estranha, surpreendente e eu nunca pensei que isso pudesse acontecer.

        -  Bem...Que bom que o senhor me atendeu. Todos os dias viemos até aqui.As crianças até cantam pra elas e elas reagem voando ao redor e, muitas vezes pousando nas cabeças e braços.Sei que contado ninguém acredita,mas isso não tem importância!

           Olha, professora, aqui está seu mel.Uma produção e tanto. Parabéns!

          - Agora vou mandar um potinho para aquela mãe que não gostou de eu "criar esses bichos"!

          Ele riu!

          - Moço! Sou filha de uma mulher que "conversava com as plantas"e as elogiava pela beleza. Todos se admiravam com o exuberante frescor que exibiam.Elas pareciam entender o carinho.

            Creio que toda a Natureza tem uma "linguagem" e que podemos traduzi-la quando, de verdade, ela sente que não as ameaçamos e o quanto sua vida nos importa!

          Esclareci minhas crianças sobre o fato de as abelhas destinadas à reprodução receberem uma alimentação especial - um mel especial  de alto valor nutritivo - porém omiti, que a primeira que "nasce"elimina as outras, ainda no "berço", para que não haja competidora a desafiar seu "status" de poder.

          A colmeia é uma sociedade sustentada por "cativos". Tanto a "Rainha", quanto o Zangão e as Operárias são "escravos da sobrevivência". Um modelo que  devemos considerar como similar a muitos "governos humanos" que tornam o povo submisso e cativo. Porém,paradoxalmente,esses governantes   gozam de privilégios imperiais, uma condição vil, rejeitada pelas abelhas,que tem como razão natural da existência da soberana Rainha reproduzir sua  espécie até o fim da própria e curta existência!

      

   Doces lembranças de amargo modelo!

  Zelia da Costa/NM/MT/13/07/2021.

      

    

   

domingo, 11 de julho de 2021

ESTOU ATENTA À CHAMADA!

               

Zelia da Costa/NM/MT/11/07/2021.Domingo/17:55 

 

PUR AMOR DI DEUSU!

                PUR AMOR DI DEUSU!

         - Acodi, fia!Acodi "pur amor di Deusu"! 

        O mininu tá lá fora caído, com a cabeça numa poça de sangue! Vige Maria! Ah! Meu Deusu! Acodi o mininu, fia!Piedadi!

        Piedade era mais que um rogo. Era o desespero de um socorro urgente!

        D. Maria estava desnorteada e me deixou assustada!

       - Lá fora... Onde? Quem?

       - Juntu do portão, fia...Caídu! Achu que ele queria entrá...Vamus lá queu mostru, fia... Coitadu...Qui coisa tristi, meu Deusu!Vamus lá, fia....

       Atravessamos o corredor de saída e o pequeno jardim que envolvia a frente da escola.Abri o portão e me deparei com a cena que me levou e à dona Maria, às lágrimas:

        Caído sobre a terra, um barro vermelho e seco e quente, sob um Sol ardente, vestido de sujos farrapos manchados de sangue e com a cabeça enterrada naquele monturo empapado de sangue... Um menino franzino, desacordado!

         - Vamus levá ele pra drentu, fia!

          - Espera d.Maria... Ele está nos ouvindo...

         - Fio, o que aconteceu?

          Vagarosamente, ele abriu os olhos imundos.

         - Fio, fala pra genti, que é qui hove? Meu Deusu! Eu sei quem é ele! Ele já foi aluno daqui!

         Agora, ela desesperara!

          - Calma d. Maria! Você caiu?Como se machucou? Foi briga?

          Agora, chorando, ele nos encarou.

         - Ela queria arrancar minha orelha!

         - Ela, quem?

         - Minha mãe!

         - Sua mãe? Exclamamos juntas!

         D. Maria fez um sinal pra mim e perguntou:

          - Dá pra ocê andá?Eu ajudu entrá na iscola. Vamu limpá "desse" sangui...

         Em choque com a cena, tornei  a insistir:

         - Onde você se machucou?

         Minha mãe queria que fosse buscar cachaça e  aí eu falei que ela já estava bêbada e eu não ia...Aí, ela avançou pra mim e me mordeu a orelha...Doeu muito...Ainda tá doendo muito... E, aí, gemendo, levou a mão a orelha que ainda sangrava...

          - Vamos entrar...Você toma um banho... Eu vou por um remedinho pra desinfetar e se precisar... A gente vai ao Posto, será melhor um médico ver,certo? Espera até a merenda, está bem?

          - Você já comeu hoje, fio?

        - Nem hoje... nem onti...Cum certeza!

 (Cochichou d. Maria, baixinho). 

         - Faz assim... Enquanto espera servir a merenda, você come um pãozinho,está bem?

           (Eu estava em choque!)

           - Como você se chama?

           - Valdir!

           Soube,por d.Maria que ele frequentara a escola durante um tempo, mas não era um aluno assíduo. A mãe era intratável e alcoólatra. Filho de pai desconhecido, tinha um irmão adolescente, filho de outro pai, que nunca soubera quem.

        E aí? Que fazer?

       Eu tinha na escola, um armário com roupas. Foram doadas por amigas. Rápido, procurei algo que coubesse naquele corpo esquálido, enquanto ele tomava banho. Soube que tinha nove anos, mas parecia bem menos.Agora, vestido e limpo devorava como um animal faminto, a comida servida por d.Maria...

           E aí?

        - Bem, d. Maria e agora? O que fazer com ele?

         - Tem jeito não, professora... Ele comeu e fugiu.

          - Como fugiu?

          - Ele me pediu água e quando voltei...Ele não tava mais!Sumiu na estrada!

           Zelia da Costa/NM/MT/10/07/2021/18:33.



sábado, 10 de julho de 2021

SE CORRER...

                                       SE CORRER...

         Bem, chegamos à Santa Cruz! 

        Agora nos restava agradecer ao engenheiro/apicultor que nos deu a carona e continuar no caminho para nossa escola. Antes de ir embora, ele me recomendou que não desistisse de levar até as crianças, a atividade de Apicultura:

       - Professora! As abelhas foram lhe "procurar"! Por favor! Não desista! Não deixe que as crianças percam essa oportunidade única! As abelhas são amigas queridas e extremamente úteis e importantes, verdadeiramente necessárias! Insubstituíveis na Natureza! !                      A ignorância vai exterminá-las!                   Proteja-nos, defendendo-as!

      Agradecemos a surpreendente viagem e descemos da carona muito abatidas! Era o que nos restava fazer. A tristeza estampada nos rostos foi logo identificada pelo nosso amigo motorista:

     - O que houve? Tá todo mundo desanimado... Que tristeza é essa?

   - O senhor nem pode imaginar...                             É inacreditável!                     Estamos ainda sob o efeito do choque da dolorosa surpresa. Respondi-lhe amargurada. 

    - Gente! Dá pra me contar?

     (Insistiu ele, agora aflito!)

      Narrei, ainda sob impacto e com pesar, a coincidência infeliz. Ele ficou estarrecido!Era um episódio, absolutamente, chocante!    

      Afinal, Seu Inacinho tinha sido também personagem daquele episódio, pois fora quem logo nos acudiu  levando "seu Galdino", o velho apicultor que nos presenteou com a caixa de peroba rosa para abrigar nossa fabulosa colmeia.

      - Não acredito! Que coincidência medonha! Acontece cada coisa.... É quase inacreditável!

Ah! Professora... Será que ele foi capaz dessa maldade?... Que safadeza!

      (A expressão grosseira foi logo corrigida.)

     - Desculpe, saiu sem querer!

     Era um tempo em que se pedia desculpas pela falta de respeito, mesmo que a causa justificasse.

       Estávamos no carro, rumo a nossa escola quando súbito ouvimos dele, outra exclamação irritada:

      - Ah! Isso não vai ficar assim!...             (Gritou, espancando o volante). A senhora "tava" tão contente... E as crianças "tavam" aguardando a surpresa... Todo mundo ansioso...

       - Bem, seu Inacinho! Verdade! Tem razão!O senhor me convenceu a tomar uma decisão! Certo!Eu vou procurar esse homem como "seu Rogério"falou e não vou deixar "barato" esse episódio!                   Aqui se faz...Aqui se paga..."

        - Ah! Vai! E vai mesmo! E vai ser já! Deixo as professoras na escola...A senhora "topa"ir agora resolver essa "pendenga"? 

         - Todo mundo concordou! E assim foi feito!

         Ao chegar ao km47 havia um grupo de homens, funcionários da escola, cuidando dos jardins. Quando perguntei, com expressão pouco simpática, onde encontrar o tal professor?... Eles me indicaram ser naquele prédio mesmo  e quando nos encaminhamos para o espaço interior , ouvi a expressão:

           - "O bicho vai pegar"!

           Fiquei intrigada...

           Por que a razão daquele comentário? 

           Eu não os conhecia, mas de alguma forma fui identificada.    

           De repente, em meio a um pátio, cercado de colunas, vi o professor que me apontavam os funcionários e gritei:

          - Por favor, senhor, quero lhe fazer uma pergunta!

           Ele gritou:

         - Por isso é que eu não gosto de "negócio" com professorinha!

          - Espera! Como sabe quem eu sou? O senhor já me esperava?

          Rápido, ele correu para a "caminhonete"!

          Mais rápido que ele, seu Inacinho, berrou pedindo que esperasse e correu em direção do nosso veículo, ligando o motor!

        - Entra agora no carro, professora... Rápido! Esse cara não vai conseguir fugir de mim!

           Foi quando ouvi, o tal funcionário dizer:

         - Ele tá acostumado a fazer isso e não "vira nada"... Dessa vez, "se estrepou "!

          Seu Inacinho atravessou-lhe, perigosamente, o caminho e desceu do carro comigo.O  homem estava pasmo!

         Antes que ele fugisse de novo, gritei:

          - Vou comunicar ao gabinete do Ministro(que foi quem o indicou), o que ocorreu na minha escola... O senhor trate de me devolver a caixa e minhas abelhas... O senhor não me conhece, moço... Conserta a "besteira"por que eu o faço perder o emprego... Estou cansada de gente assim como você... Conhece o doutor( e aí, eu lhe disse o nome do moço da carona e ele ficou pálido)!... Você deixou lá na minha escola uma colmeia em desagregação, numa caixa destruída! Conserta isso, moço!Minhas crianças não merecem esse desprezo, precisam da Esperança! O senhor nos traiu!

       Quando passei de volta pelos funcionários, vi que estavam surpresos e deixavam entrever um sorriso estranho...

        Perguntei-lhes a razão do espanto e ía comentar o motivo do espetáculo negativo que eu tinha apresentado, mas antes, resolvi indagar por que um deles tinha dito a expressão "o bicho vai pegar"?   O autor da ironia respondeu, para minha surpresa, que sabia quem eu era. Havia acompanhado o professor transgressor até a minha escola pra fazer aquele "serviço"e ouviu quando o "meu motorista" me chamou de "professora  Zelia" e que entendia a razão da minha ira.

    - A senhora desculpa, mas a gente trabalha e cumpre ordem.

        Ouvi seu Inacinho "rosnar" qualquer coisa "entre dentes". 

        Partimos, encerrando o episódio.

       Dia seguinte, fui recebida com um largo sorriso pela dona Maria, a merendeira:

        - Fia...Tem uma surpresa lá no fundo du quintá...  Corre lá!

          Corri!

          Linda e recendendo o aroma de madeira nobre...Lá estava nossa linda caixa de volta e cheia das nossas queridas abelhas! 

          Ele devolveu!

          Logo, as crianças foram apresentadas à colmeia, com uma palestra apaixonada, proferida pelo senhor Galdino, que soube encantar todos nós e  seus pequenos ouvintes.

          Aos poucos, fomos ganhando a confiança de nossas incríveis parceiras. Uma experiência inesquecível de uma história rara, verídica, mas difícil de se crer e que não acaba aqui! 

    Zelia da Costa/NM/MT/sábado/10/07/2021/12:43