quarta-feira, 30 de abril de 2014

LUTO

          LUTO

Ai...ai...Esta dor que me comove!
Que absorve a minha ira!
Esta dor que dilacera!
Esta dor que me arrasta pela terra,
pelas farpas
pelas pedras, pela areia
pelos juncos, pelos sombrios lugares
Esta dor que incendeia minhas carnes
Que me rasga as entranhas
Esta dor que me desmancha o corpo
Que me cega os olhos
Que me fura os tímpanos
Que me causa hemorragia
Que me retalha a alma
Esta dor que nega o futuro
Que arranca os dentes do sorriso
e os sonhos, do  sono
Que decepa as mãos 
e rouba os brinquedos
Que mutila os pés...
Que impede de correr, de saltar,
Esta dor que bloqueia os caminhos
Que cala a  voz que canta
Esta dor que se faz em feridas
Esta dor não é minha:
É de todas as sofridas crianças!
Descarnadas pelas guerras
Abandonadas em suas terras
Mortas de fome!
Ai... esta dor é tanta!
Pelos desertos de areias, 
pelas caatingas,
pelas cheias,
pelas florestas, cerrados
Esta dor se expande!
Sobe morros ou se encastela
Habita sombrias vielas
Esta dor se esconde 
atrás de rica vidraça
(entre o vício e a desgraça} 
todos sabem onde
Ah! A dor dos órfãos de pais vivos
Da solidão que aflige
Ai... a  dor dos curumins 
das devastadas aldeias,
dos meninos de rua...
Ai! Esta dor tão desumana 
que atordoa e humilha
Esta dor só se faz presente 
quando o sangue quente
pinga na nossa vida!             
   Zelia da Costa/RO

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