sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

CENA

         CENA

Tudo fora de sentido!
Tudo embaralhado!
Tudo submetido à loucura plena!


E, no entanto, estavas tão sereno

quanto o veneno que transbordava

e manchava o chão de azul cobalto,

 Um desenho varo, sobre a pedra fria,

como um Picasso em sua agonia;

um azul profundo e por isso raro

banhava o quadro em que a vida

escorria...


    Zelia da Costa/RO/2006


O QUE NÃO SE PODE CONTER



O QUE NÃO SE PODE CONTER

Não foi como poderia ter sido
Nem poderia ter sido como foi

Por mais que a dubiedade fosse
a hermética palavra chave
Era tão fácil prever!

O incrível é que a vida nos veda
toda clareza evidente
Quando tudo se pressente
e não se quer aceitar

Se nada é imponderável...
Tudo é visível e palpável
Quando se está pronto pra Ser!

 Ser – a única verdade
Que não se pode conter!

Zelia da Costa/MT

EM TEMPO

         

            EM TEMPO

O Amor tem pressa
E a vida não espera o Tempo passar!
O Amor tem vida
E o Tempo do Amor não pode esperar!
O Tempo passa!
A Vida passa!
O Amor não passa  e não passará!
A Solidão imensa é o triste prêmio
Que receberá
Quem muito esperou
E assim, perdeu o Tempo de Amar!

Zelia da Costa/MT

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

AMIGOS URSOS

                   

                                  AMIGOS URSOS


          Durante a minha infância, acompanhada por meus pais, frequentei regularmente o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro.   Embora ficasse extasiada com a beleza dos animais, meu coração doía quando os imaginava livres como eu.
Mesmo aqueles nascidos em cativeiro guardavam no olhar a nostalgia de um tempo ausente nas suas vidas.
Mais tarde, passei a visitar o Jardim todo sábado porque minha escola ficava próxima. Tanta assiduidade tornou-me conhecida dos tratadores e vigias. Gostava de conversar com eles. Eles me contavam das manias de certos bichos.
Havia um macaquinho que só comia amendoim descascado. Tinha que ser amendoim natural e sem aquela “pelinha vermelha”. Fora cativo de uma família. Sua dona morreu e eles o doaram ao Zoológico. Por isso era muito dengoso. Eu levava escondido amendoim para ele, que ficava me olhando ansioso, aguardando o fim da operação “limpa amendoim”. Tudo pronto, ele pegava um a um da minha mão e os comia feliz, mas de costas. Parecia magoado pela rejeição sofrida. Devia sentir saudades da “sua dona”.
Nunca foi permitido alimentar os animais, porém quando o Verão inclemente fervia, eu comprava picolés de limão e os escondia na bolsa.
Você imagina cinco ursos numa jaula, sem grades. Era uma casa baixa e pequena construída em alvenaria numa espécie de ilhota, portanto, cercada pela água depositada no entorno fundo que funcionava como piscina, limitado por um muro, o que impedia qualquer aproximação. Ali, eles ficavam expostos num calor infernal.
Disfarçando para não ser pega no “crime”, preocupada com o sorvete derretendo, cuidadosamente eu livrava cada um da embalagem e atirava o mais próximo deles possível. Era uma festa.
Às vezes, um pedaço caía na água. Rapidamente alguém mergulhava e dentro do fosso mesmo, nadando ou boiando, saboreava o presente olhando pra mim. Parecia zombar da minha pontaria.
Quando um guarda se aproximava, eu era obrigada a interromper “a farra”.
O incrível é que meus ursos percebiam a dificuldade da situação e também disfarçavam, se dispersando.
Logo que me livrava do “problema”- o guarda- eu retornava e reiniciava a ação.
Acho que os vigilantes sabiam porque demoravam a voltar, porém nunca facilitaram “meu trabalho”.
 Meus “amigos peludos” gravaram minha imagem e com seu faro privilegiado, mesmo dormindo sentiam a minha presença.
Muitas vezes o calor infernal os derrubava. Deitavam e ficavam inertes. Aí, eu chegava. Desembrulhava os picolés dentro da bolsa para evitar que os guardas vissem e aí um urso, o Grandão, mexia o nariz, “tomando faro”, ainda deitado e de olhos fechados e lentamente se movia pela “ilha” posicionando-se na beirada.
Era lindo vê-lo acordar e de pé, sacudindo o corpo, abrir os enormes braços até a altura dos ombros, e, batendo palmas executar uma dança divertida. Os outros, então, se erguiam e de pé exibiam a mesma coreografia. Pronto! Eu começava a atirar o picolé, sabor limão sempre, aos pedaços, sem o pauzinho para que não sofressem engasgos.
Era uma festa!
Para finalizar, era eu quem fazia a sua coreografia e eles felizes a repetiam numa orgia de movimentos.
O tratador deles, quando nos surpreendia, ria muito da cena.
- Eles reconhecem quem ama os animais, dizia sempre.
Eu concordava.
Era tão pouco. E era tanto pra nós.
Zelia da Costa/NM/MT


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

QUEM QUER BRINCAR DE FAZ DE CONTA?

     

   QUEM QUER BRINCAR DE “FAZ DE CONTA”?


Nossos políticos deveriam concorrer ao prêmio:
      - “MAIOR DESCARADO DO BRASIL!”. -
Seria difícil escolher um campeão ou a campeã!
Raros governantes se preocupam com o saneamento básico. Não investem em Usinas para o Tratamento do Lixo, não só para reciclagem de materiais, como para o processo de compostagem de restos orgânicos tão úteis à lavoura.
Não é surpresa deparar-se com esgotos “a céu aberto”.
Montanhas de lixo acumulado são exibidas sem pudor.
O lixo hospitalar se amontoa: seringas, luvas, máscaras, gases, bolos de algodões infectos decoram a podridão desta imundície pública.
 Poucos Municípios tem Estações de Tratamento da Água rigorosamente cuidadas e administradas por funcionários especialistas e competentes.
Agora, subitamente, a população é fiscalizada em suas residências, como se fora a única responsável pela expansão, em nosso país, de uma epidemia que se alastra e se prenuncia aterradora.
Não sou idiota para imaginar que a população está inocente nesta tragédia. O povo não tem a mínima noção de civismo. Ele cospe, sim, no chão. Ele mija na rua. Joga suas guimbas de cigarro em qualquer lugar. Livra-se do lixo, sem a menor responsabilidade pelas consequências do ato. Ele é capaz depositar seus detritos no mato e atear fogo, sem se importar com a devastação das matas.
O brasileiro não está atento à responsabilidade de seus atos.
Ele não é capaz de dimensionar o prejuízo da sua irresponsabilidade e isso fica mais evidente quando se depara com o comportamento político dos eleitos nesse país,
Posso considerar revoltante o desempenho dos nossos políticos, porém tenho que reconhecer nesta seleção, a imagem deles reproduzida espelha o rasteiro eleitorado.
Daí, os governos se sentirem absolutamente à vontade para, cinicamente, se exibirem como inocentes nesta dramática questão.
É claro que sou favorável à Campanha de Combate Aos Mosquitos. Pneus, piscinas, vasos de plantas, caixas d’água tem que ser observadas com cuidado. O que não concordo é que seja este o limite do combate à infestação.
Os rios e lagos que estão em processo de seca perderam os peixes e se tornaram depósitos infectos de resíduos . E o que está sendo feito com estas águas mortas e acumuladas?
Elas são berçários de mosquitos e outros insetos também nocivos.
E os longos esgotos abertos correndo com insuportável odor como molduras putrefatas a exibir a incompetência administrativa?
O que as “otoridades” pretendem fazer a respeito?
Cabe aos governos municipais, estaduais e federal combater estes nascedouros.
E o que está sendo feito? Insisto.
Que providências drásticas estão sendo tomadas?
Destes “berçários amaldiçoados” virão as nuvens de mosquitos que infestarão os logradouros públicos, as cidades, as populações, etc.
Portanto, estejamos atentos. A coisa é séria e grave. Se hoje os hospitais não conseguem atender a população...
Imagina a tragédia de uma epidemia!
Zelia da Costa/NM/MT/26/01/2016

AS DEZ PRAGAS

                              
                                                  AS DEZ PRAGAS


         Será que há alguma semelhança entre o momento atual e as “Dez Pragas do Egito”? Não. Não estou brincando.
         Assistindo hoje na televisão a um documentário realizado por cientistas pesquisadores do texto bíblico, fiquei severamente impressionada. Eles chegaram à conclusão devastadora:
        As dez pragas descritas no texto não ocorreram numa sequência de rápido intervalo. Não. Elas tiveram entre si, um razoável espaço de tempo.
         Segundo os cientistas, as provas que registram esta afirmação estão nas amostras de solo dos terrenos retirados que indicam ter havido, inicialmente, uma seca impiedosa que gerou a desagregação social. O Faraó Ramsés II teve nos seus primeiros dez anos de governo as benesses do clima e, portanto, paz e fartura. Tudo mudou com a seca que assolou as terras egípcias.
        O delta do rio Nilo e toda a sua extensão e afluentes passaram a receber ventos trazendo enormes quantidades de areia. Assim, os rios assoreados não mais atendiam às necessidades vitais de irrigação. A seca foi devastadora. As generosas enchentes do Rio Nilo deixaram de fertilizar o solo de suas margens e de matar a sede do seu povo.
Com a seca chegaram os insetos como pragas e entre elas, nuvens de mosquitos. Sem alimentos, sem água, atacados por moléstias, até então desconhecidas, a população debilitada começou a se dispersar. As crianças foram as primeiras a sucumbirem. A Bíblia narra a morte do filho do Faraó, entre tantas. Os cientistas apontam a Malária, com destaque.
Toda a tragédia está registrada nas entranhas da terra. Nas montanhas cavadas. Nas cavernas. Nas preciosas estalagmites exibidas na tela da TV.
         O Egito entrou em decadência.
         Muitos corpos ainda são encontrados pelas areias do deserto. Sucumbiram no desespero da fuga. Mulheres abraçadas aos seus filhos.
         Os pesquisadores documentaram suas pesquisas com amostras colhidas e estudadas em laboratórios. A intenção deles era provar que todo este drama ocorreu em etapas distantes entre si, numa sequência dramática: a praga da seca, a praga dos insetos, a morte das crianças,crianças e adultos, a desagregação social, o fim do esplendor de uma civilização.
Talvez o fenômeno no Egito tenha cumprido apenas seu natural destino. Ou talvez, os egípcios tenham abusado de sua fonte natural de sobrevivência.
Nosso planeta tem vida própria. Seu clima cria desertos, vulcões, penhascos , florestas, ilhas, lagos, oceanos, abismos.. A Terra é poderosa e decide suas questões, sem levar em consideração nossa frágil existência. Ocorre, às vezes imagino,  que nós poderíamos contemporizar, isto é, dar-nos a oportunidade de usufruir por mais tempo do modelo de Natureza que está a nossa disposição, sem transtorná-la tanto.
        Os egípcios podem, sem intenção, ter provocado seu “sagrado” rio Nilo. Devem ter sugado suas margens na construção de suas Pirâmides, talvez. Não sei. Ou desviando suas águas na construção de canais. Alguma coisa aconteceu para desencadear a fúria natural. Para provar a insignificância humana. Acho, sinceramente, que corremos o risco de quando em vez, sermos interpretados como seres nocivos e aí, condenados ao extermínio. É quando, a Natureza investe contra sua própria criação.
         Preste atenção!
 Houve no Egito -  a seca, pragas de insetos nas lavouras, pragas de mosquitos. Logo houve as febres que os cientistas comprovam com a presença da Malária. Será que houve “Zika”? Chicungunha? Quantas crianças morreram!Quantos adultos também!
        Derrubamos nossas florestas. Secamos nossos rios. Aterramos pântanos. Na busca por minérios sugamos o solo, ferimos o mar manchando suas entranhas com o negro óleo. Exterminamos espécies de animais e vegetais!
        Cobrimos de lixo oceanos, rios, solos, etc.
 Crianças estão sendo vítimas inocentes e adultos estão sofrendo as doenças causadas por mosquitos.
Nossas chuvas estão irregulares. Há secas e inundações. O calor insuportável Os meteorologistas em pânico avisam que este será o ano mais quente que já ocorreu. Enquanto tempestades de neve são anunciadas  como “nunca antes ocorridas com tamanha gravidade”.
      Responsabilizam o “El Niño”, fenômeno intensificado pelo aquecimento global. Terá sido este processo acelerado por nós? Causado por “nossa” poluição? Quem sabe.
O certo é que a Terra nunca teve uma população humana tão numerosa. Para que seja mantida, “sustentada”, é preciso cada vez mais recursos.
Qual será a intenção da Terra?
         Que tal olharmos lá atrás? Só um pouquinho.
Zelia da Costa/NM/MT/25/01/2016.01:49.
        


QUEM QUER BRINCAR DE FAZ DE CONTA

     
   QUEM QUER BRINCAR DE “FAZ DE CONTA”?


Nossos políticos deveriam concorrer ao prêmio: “MAIOR DESCARADO DO BRASIL!”.
Seria difícil escolher um campeão ou a campeã!
Raros governantes se preocupam com o saneamento 

básico. Não investem em Usinas para o Tratamento do

 Lixo, não só para reciclagem de materiais

como também para compostagem dos restos orgânicos, tão

 úteis. Poucos Municípios tem Estações de Tratamento da 

Água com adequados cuidados e administrados por 

funcionários especialistas e competentes.

Agora, subitamente, a população é fiscalizada em suas residências como se fosse a única responsável pela epidemia que se prenuncia devastadora.
Não sou idiota para imaginar que a população está inocente nesta tragédia. O povo não tem a mínima noção de civismo. Ele cospe sim no chão, ele mija na rua, joga suas guimbas de cigarro em qualquer lugar e se livra do lixo sem a menor responsabilidade pelo ato. (Se meu vocabulário se tornou grosseiro, ele se justifica nas ações.) Ele deposita seus detritos no mato e ateia fogo, sem se importar com a devastação das matas, causada por incêndios.
Só que este povo não tem a atenção adequada no seu cotidiano.
O brasileiro não está atento à responsabilidade de seus atos. Ele não é capaz de dimensionar o prejuízo da sua irresponsabilidade e isso fica mais evidente quando se depara o comportamento político dos eleitos nesse país,
Posso considerar revoltante o desempenho dos nossos políticos, porém tenho que reconhecer nesta seleção, o desempenho que espelha o rasteiro eleitorado. Daí, os governos se sentirem absolutamente à vontade para, cinicamente, se exibirem como inocentes nesta dramática questão.
É claro que sou favorável à Campanha de Combate Aos Mosquitos. Pneus, piscinas, vasos de plantas, caixas d’água tem que ser observadas com cuidado. O que não concordo é que seja este o limite do combate à infestação.
Os rios e lagos que estão em processo de seca perderam os peixes e se tornaram depósitos  deteriorados de resíduos. E o que está sendo feito com estas águas mortas e acumuladas? Elas são berçários de mosquitos e outros insetos também nocivos.
Cabe aos governos municipais, estaduais e federal combater estes nascedouros. E o que está sendo feito? Destes “berçários” virão as nuvens de mosquitos que infestarão os logradouros, as cidades, as populações, etc.
Portanto, estejamos atentos. A coisa é séria e grave. Se hoje os hospitais não conseguem atender a população...
Imagina a tragédia de uma epidemia!
Zelia da Costa/nm/MT/26/01/2006.1:40.



quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

VATICÍNIO

       
               VATICÍNIO

      Essa boneca de pano
      Vestida de desengano
      E enfeitada de fita
      Parece um ser humano

      Essa boneca de pano
      Será sempre um objeto

      Perdeu-se em qualquer infância

      Essa boneca de pano
      Cresceu como um dejeto

      Essa boneca arremedo

      Nunca foi uma criança
      Nunca será um brinquedo

         Zelia da Costa/SP

DESFUTURO

        
      DESFUTURO

   Tanto medo do Futuro
     Tantas consultas...
          Presságios...

   O Presente esperando
   Invocando tua coragem

      As coisas acontecendo
      A  VIDA se desdobrando
              E tu?
       Olhando da margem...
      Zelia da Costa/RO
  


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

NA AMAZÔNIA

                  


                           NA AMAZÔNIA

Chovia chuva miúda
Assim... Meio constrangida...
Por se sentir intrusa na paisagem deslumbrante
Que só admite a grandeza da tempestade gigante!

E aquela chuva fininha de gotinhas delicadas caía
Com certo jeito de chuvinha preocupada
Enquanto a passarada com alegria pousava
E escancarava as asas que a chuvinha banhava!

A chuvinha inibida, agora tão festejada
Plena de raro fulgor...
Em arco-íris brindava!
Zelia da Costa/RO

MÁ FÉ

              
             MÁ FÉ

Meus segredos, conto a todos
          Melhor, se são revelados...
Assim, divido a culpa
com quem conta meus pecados!

   Zelia da Costa

POR VENTURA...A VIDA!

                  

          POR VENTURA A VIDA

  Por ventura,
   ouviu o miado do gatinho abandonado...

  Por ventura,
   condoeu-se com a tristeza 
                    do infeliz na solidão

  Por ventura,
          o achado aconchegou-se, coitado,
                           na palma da sua mão

  Por ventura, o condenado estava 
             na hora certa, no lugar errado

  Por ventura, teve a sorte 
                          de escapar da morte,
                     em algum lugar se abrigar

  Por ventura...

     Outros, por desventura...
           Perdem a hora certa e o lugar!

 Zelia da Costa/RO

sábado, 16 de janeiro de 2016

CÓDIGO

        Código


Ó doce flor do Lácio!
Se lhe fiz carinho,
(com amor o faço).
Fi-lo porque a distância fê-la sem rumo
Salva-lhe o prumo-a raiz!
Fá-la forte!
Fá-la nobre!
Fê-la antagônica...
Nunca anacrônica!
              Ó doce flor do meu país!
                                            
          Zelia DA COSTA/Ro

CAUSA NATURAL

            CAUSA NATURAL

  Medida exata. Justa causa da alegria.
 No horizonte se esvai o dia, vestido de róseo esplendor
 Quisera que o mundo parasse e detivesse sua faina
 Sua ansiedade insana, sua falta de pudor!
 É que a Natureza se veste com sua melhor fantasia
 Na esperança de um dia ganhar o premio de um olhar
 Quem sabe se a Humanidade que chora...
(neste enlevado instante)
 Pudesse encontrar nesta hora
 Razão para se amar!
Zelia da Costa/Sapezal/MT/

        

                            FÉ

   Nem bem a bruma cautelosa parte...
   E já percebo a concreta ambição
   Que te devora sob a luz que arde,
   Maculando fractal visão

   Se a Natureza sábia admite
    Tal crueldade não dissimular.
     Eu abro mão de todo o limite
    Que a covardia impõe redobrar.

 Rompo as fronteiras que o medo abraça,
 De frente, encaro o teu frio olhar,
 Nem tuas armas, nem a tua crença
 Terão mais forças para me assustar!

   Enquanto os pássaros livres voam...
   Explodem ondas por todo o mar!

   Se a Terra freme em suas entranhas
    E expele lavas para renovar...

    Eu desafio a tua vileza:
      A Liberdade há de te esmagar!
            Zelia da Costa/RO/2005


FALSO CORDEL

                    FALSO CORDEL

O momento era de grande apreensão:
Havia um Juiz e o Advogado de Acusação!
Sentado em uma cadeira
Sem mistério e sem véu...
-DEUS era o RÉU!-

A Humanidade cansara de tanto sofrimento
E num acordo sem precedentes
A população mundial
Chegara ao consenso fatal:
- DEUS deveria ir a Tribunal!

E ali estava ELE, com sua translúcida túnica,
uma oportunidade talvez única,
de ver DEUS... " face a face "!

DEUS estava ali. E Só.
Sem nenhuma escolta.

Enquanto crescia o burburinho e a revolta,
ouviu-se a voz clara e sonora do advogado
que por justiça implora!   

Nunca aconteceu um momento como agora...

DEUS comovido chora!
Olha...
E ouve a Humanidade...
- Queremos explicações:
Porque há tanta seca nos desertos e nos sertões?
Porque o frio do gelo que cobre o solo polar,
castiga a quem ousa aquele lugar habitar?
E por que a tantas doenças estamos predestinados?
E por que permite a ira a que estamos condenados?

As frases ribombavam no estranho Tribunal,
O povo se contorcia como fera animal!

Por que inventou a dor, lágrima da agonia...
Por que se faz alheio?
Em Seu NOME se faz guerra e o sangue cobre a Terra!
Não somos os Filhos Seus?
Responde, por favor, “em Seu Nome, ó DEUS!”.

Não teremos mais clemência!
Perdemos a inocência!
Perdemos a paciência!
Foram tantos os horrores...
Que perdemos os temores!
Resta-nos só a fé na Justiça Real !
Em Nome da Verdade, diga-nos algo afinal!

E DEUS ergueu-se solene,
(Como convém ao Divino)
- Por que vieram a Mim?
Se lhes dei a inteligência...
Dei-lhes amor e bondade,
sentimentos que vencem
qualquer dificuldade!

Dei-lhes todos os climas
para que possam escolher onde quiserem viver!

Há vulcões, há terremotos, ventos, chuvas, maremotos...
As forças da natureza geram original beleza, modelam
e com grandeza abrem-lhes novos caminhos...
Criam raras paisagens!

Minhas Obras respeitassem...
Não estariam sozinhos!

Não lhes dei a Covardia, da falsa superioridade!
Nem o Desejo de Poder que exalta a vaidade!

Se eu criei as Diferenças que são a sua riqueza,
origem de toda Glória...
Por que na mesquinha igualdade
querem viver sua História?

E sem permitir
que alguém O pudesse interromper,
ELE continuou:
-As Doenças?
Vocês as fizeram nascer!
As Guerras são frutos de sua enorme ambição!
A Miséria resulta da Indignidade
Que livre - cerceia toda Humanidade!

Dei-lhes os Sentidos...
Dei-lhes o Prazer...

O que tem vocês a me oferecer?
O JUÍZO FINAL?

Ah!Não!
Não sou EU o julgado neste Tribunal!

Eis que é chegado o momento derradeiro...
Pois, sem perceber a sua ousadia...
Viveram vocês - o Último dos dias!

E, com um gesto, quase trivial,
que o Eterno consagrou...

Reordenou o Universo

E TUDO RECOMEÇOU!

 Zelia da Costa/Adamantina/SP/2004.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

VIENA



            VIENA

Há flores. Há verdes no bosque que fui
Há luz. Há sombras no rio que flui
Há cor de esperança nos rostos crianças
Há sons de chegada.
Há sons de partida.
Brinquedos e homens
Bonecos da vida.
Zelia da Costa/Áustria

SER O NÃO SER



  SER O NÃO SER: EIS A QUESTÃO

Que mistério há em ser

Aquilo que se não é
Se a gente pensa que o ser
Que a gente pensa que é
É um ser que só existe
Num ser que não sei quem é

             Zelia da Costa

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

MEDIDA


                           MEDIDA       

Pode sim, quando quiser, mostrar-se por inteiro
Dar o tom verdadeiro daquilo, o que não quer
Porque dizer sempre sim...
Mostrar-se sempre cordato...
Não avaliza o ato honesto do ser que é
Cada gesto guarda o registro, magnífico indício,
signo de liberdade de quem sabe a dose certa:
Aquela que não deserta da sabedoria, se a quer


                     Zelia da Costa/RO/2006

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

DE CERTO




                DE CERTO

A encruzilhada é o desafio do nada.
A decisão é que é o tudo.
Um tudo imaginário, importância inventada
a desafiar o futuro.

Ah!Chama-se decisão acertada
àquela linear caminhada que elimina obstáculos
e torna a rota segura.

Àquela que, na verdade, não arrisca!

Frustra, talvez, as possibilidades de glória
De se orgulhar na chegada
dos percalços das batalhas
Das perdas que se amealham
e da solitária vitória

Os riscos nos fazem  mais decentes,
menos deuses e mais valentes.

E com o passar dos anos...
Fazem de nós seres humanos.                              

Zelia da Costa/RO/2005

FLORESTA DESENCANTADA OU OPERAÇÂO LAVA-JATO

        FLORESTA DESENCANTADA
                     Ou
         Operação Lava-Jato

Dizem que há um lugar
Onde uma fonte, súbito, jorra  segredos
E o murmúrio a sussurrar se expande
Numa região cheia de arvoredos

Cada sonora palavra como semente
Germina inclemente, quando o vento  ecoa
Desvendando fatos copiosos pelo farfalhar das folhas
Que repercutem nas almas...
Verdades que atordoam!

No início, todos se divertiam ...
Ouviam insaciáveis, notícias escandalosas
Pecados inomináveis, frases escabrosas.
Contaminavam-se os tolos, numa orgia sórdida
Mergulhando inconsequentes na existência mórbida.

Depois de um tempo, a razão se foi perdendo...
E  olhares de azedume retratavam agora
  sentimentos menores
A crueza da realidade os envolveu
O perdão perdeu o sentido, pois, todos estavam feridos
Pelos fatos , consumidos
As revelações contribuíram para vergonha
 De que até hoje padecem.

Obstruir os ouvidos foi, então, a solução engendrada.
Já que a fonte sonora e indestrutível não se calava
E aqueles, cujos segredos não mereceram
 a mágoa do repúdio...
Partiram!
Deixando pra sempre, lá longe...
Uma população de surdos!
Zelia da Costa





UOL NOTÍCIAS

As provas de que a Terra entrou em uma nova era geológica devido ao impacto da atividade humana já são "arrasadoras", segundo um novo estudo elaborado por uma equipe internacional de cientistas liderada pela Universidade de Leicester (Inglaterra).
A entrada nesta nova era geológica, batizada de Antropoceno, pode ter acontecido em meados do século passado e foi marcada pelo consumo em massa de materiais como alumínio, concreto, plástico e pelas consequências dos testes nucleares em todo o planeta, segundo a pesquisa publicada na revista "Science".
A isso é preciso somar o aumento das emissões de gases que provocaram o efeito estufa, assim como uma invasão sem precedentes de espécies em ecossistemas diferentes do seu.
Os cientistas levantam em seu estudo até que ponto as ações humanas registradas são mensuráveis nas camadas geológicas e até que ponto esta nova era geológica se diferencia da anterior, o Holoceno, que começou há 11.700 anos, quando aconteceu o retrocesso das geleiras após a última glaciação.
No Holoceno as sociedades humanas aumentaram a produção de alimentos com o desenvolvimento da agricultura, construíram assentamentos urbanos e aproveitaram os recursos hídricos, minerais e energéticos do planeta.
Por outro lado, o Antropoceno é uma época de rápidas mudanças ambientais provocadas pelo impacto de um aumento da população e pelo consumo, sobretudo após a chamada "grande aceleração" de meados do século 20, segundo os pesquisadores.
"Os humanos estão há algum tempo afetando o meio ambiente, mas recentemente aconteceu uma rápida propagação mundial de novos materiais como alumínio, concreto e plásticos, que estão deixando sua marca nos sedimentos", disse no estudo o professor Colin Waters, do Instituto Geológico Britânico.
Jan Zalasiewicz, cientista da Universidade de Leicester que é um dos líderes do grupo de trabalho, afirmou que a queima de combustíveis fósseis disseminou pelo ar partículas de cinzas por todo o mundo, ao que é preciso somar os radionuclídeos dispersados pelos testes de armas nucleares.
"Tudo isto demonstra que há uma realidade subjacente no conceito Antropoceno", declarou Zalasiewicz, também diretor do chamado Grupo de Trabalho Antropoceno, integrado por 24 cientistas.
Segundo o estudo, os humanos mudaram em tal medida o sistema da Terra que deixaram uma série de sinais nos sedimentos e no gelo dos polos, suficientemente diferentes para justificar o reconhecimento da passagem para uma nova época geológica.
O Grupo de Trabalho Antropoceno quer este ano reunir mais provas desta mudança para ver se pode formalizar esta nova época e estabelecer recomendações.