sábado, 29 de agosto de 2015

SOMOS NÓS


        SOMOS NÓS

Não é fácil tentar enxergar em meio à bruma, o cais.
Difícil crer que há horizonte.
Mesmo a fé duvida de tão cruenta e nebulosa esperança.
Em meio à convulsão de forças e diante do feroz antagonismo das vaidades que disputam o poder, parece que Deus se abstém. Acho que há muito Ele deixou de crer em nós.
Você pode alegar que Ele já teve motivos mais graves, tenebrosos mesmos, crueldades praticadas sem remorsos, sem culpa, em nome de supremacia racial, ideologia religiosa e outras barbaridades.  Líderes políticos e fanáticos fizeram de seus seguidores carrascos impiedosos e conduziram populações torturadas ao massacre ignorando a Sua existência divina e generosa.
Acredito que hoje somos escravos da nossa própria sanha.
Neste Universo de incalculáveis possibilidades reduzimos nossa existência à mesquinha condição humana de poder. Pelo poder e para obtê-lo somos capazes de cometer qualquer ato espúrio, crimes sórdidos. Essa determinação embota sentidos e inteligências produzindo seres alienados de sua predestinação para a morte. Nossa existência é breve, fugaz, mas as consequências de nossos atos repercutem pelo espaço envenenando qualquer vida. Somos uma espécie de infecção.
Tanta preocupação com alienígenas...
Alienígenas? 
Somos nós!
                                        Zelia da Costa/NM
zeliadacostamt@gmail.com

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

REVÉS

                           
                      
                   REVÉS

                    Rútilo
                    Roto
                    Raramente
                    Ria
                    Repetidamente
                    Rangia
                    Rude
                    Recuava
                    Resvalava
                    Repetindo
                    Ritualìsticamente
                    Retórica
                    Ríspida
                    Rampeira
                    Reverso
                    Retido
                    Rumo
                    Rasgado
                    Rompido
                    Rastreado
                    Remido
                    Ranço

                    Passado!
      
             zeliadacostamt@gmail.com


AGORA OU NUNCA

                     AGORA OU NUNCA
Como se deu tal desatino?
Como permitimos que a traição zombasse de nós com tamanha impetuosidade e desfaçatez, num rito de sordidez e potência. Como consentimos que nossos olhos fossem vendados e nos mantivessem alheios à realidade esfacelada que se escancarava diante de nós e que, por comodidade ou por vingança, deixamos que extrapolasse os limites do bom senso?
O que queríamos provar?
Queríamos deixar claro que estávamos certos?
Cada um de nós é responsável por toda desgraça que ocorrerá.
Pagamos para ver o fracasso.
Se a vaidade dos incompetentes não tem limites... A nossa vaidade nos fará pagar o preço trágico da omissão.
Ah! Eles são maquiavélicos!
Esta é sua única reconhecida, louvada e exacerbada qualidade.
E agora? Como reverter o estrago que se propagará por tempos sem limites de espaço e prejuízo!
Não são eles os desmoralizados, os incompetentes, os desonestos.        
Somos nós!
Nós, talvez por comodidade ou vingança, por sentimentos inferiores resolvemos “pagar pra ver”.
A gente sabia do futuro e do preço incomensurável.
O prejuízo não será só financeiro. Se não conseguirmos reverter o processo de degradação moral, não será mais possível respirar sem culpa.
Cartas na mesa.
Façam o jogo!
Zélia da Costa/27/08/2015
zeliadacostamt@gmail.com

O ABRAÇO

                   O ABRAÇO

A mágoa resistiu ao tempo
Ainda escorria pelo rosto a verdade
Nas lágrimas...
Quando em vez disfarçadas

No outro...
Vazava do sorriso perolado
A ironia da sordidez inclemente
Materializada a figura do sarcasmo
Nos braços agora abertos ...
Qual garras afiadas!

No encontro de almas tão avessas
O abraço era uma quase sentença

Duas verdades condenadas. Era fato.
Num só momento. Num mesmo ato :
A grandeza da generosidade magoada

E a sordidez da falsidade velada.
zeliadacostamt@gmail.com

domingo, 23 de agosto de 2015

CAPÍTULO


                         CAPÍTULO
                   

Vejo a vela desfraldada como lenço acenando,

podia ser a chegada, mas é você me deixando...

Vejo o horizonte distante marcando o limite extremo,

podia ser de esperança, mas é você me perdendo!

Sinto a brisa suave a me envolver num afago,

podia ser de amizade, mas é pena, da saudade.

Afoguei minhas lembranças neste mar cinza escuro...

Fecho os olhos pro presente

e saúdo o futuro!

No turbilhão de encontros,

desencontros, lhe asseguro, sempre hão de acontecer...

Compondo mais uma história que a vida há de escrever!


            Zelia da Costa/Rondônia/2005 
zeliadacostamt@gmail.com

A UM AMIGO INESQUECÍVEL

       A UM AMIGO INESQUECÍVEL

Nosso encontro foi assaz perturbador.
Praticamente nos confrontamos. Os dois assustados.      Passou por mim e retornou pelo corredor em direção à cozinha. Lembrei-me, então, de tê-lo visto na véspera, pousado na torneira, sugando uma gota que teimava em não cair.
Quando cheguei à cozinha ele já pousara na torneira que, bem fechada, negava-lhe a oportunidade de saciar sua sede.
Ao me ver voou na minha direção. 
Não sei por que razão não temi sua investida.
Não exibi nenhum gesto de repulsa ou temor. 
Fui até à bica e delicadamente tentei deixar uma gota d’agua retida e me afastei ficando a observar.
O reluzente e grande maribondo voou em torno da minha cabeça, agradecido.
Era negro brilhante, porém algumas regiões do corpo emitiam um tom vermelho bem escuro.
Delicadamente, ele pousou e após saciar a sede, recolheu a minúscula gota que levaria num voo para algum lugar. Certamente para usar na construção de sua casa, pensei.
Esta amizade inesperada e curiosa durou algum tempo.
Se eu esquecia de manter a torneira pronta para sua utilização, ele percorria as dependências da casa a minha procura e voava sob minha cabeça executando um arabesco aéreo que eu traduzia rápido e aflita, correndo à cozinha e me desculpando no caminho pela distração.
 Ele fazia várias viagens. Saía pela janela da área por onde entrava e que eu nunca mais fechara.
Quando não me via, voava pelos cômodos da casa a minha procura e ao me encontrar executava um desenho aéreo a meu redor e eu, erguendo-me, caso estivesse sentada ou deitada, agradecia a saudação cumprimentando-o em voz alta e rindo da alienada situação.
Não raras vezes, voava diante de mim, tão próximo que eu ouvia o zunir das asas. Eu também exibia movimentos suaves falando, rindo, saudando a irresistível, enigmática e querida presença.
Ficamos amigos. Eu e o maribondo. Nosso convívio durou algum tempo.
Um dia ele parou de vir.
Continuei deixando a torneira pronta.
Ele não veio mais. Fiquei triste. Muito triste.
Sua curta existência foi para mim uma experiência mágica, rara, inusitada, inesquecível.
Aprendi com ele que o tempo é insignificante diante da grandeza dos sentidos e nada, nada é improvável, tudo pode ser comunicado, intensamente vivido e compartilhado neste fantástico e imprevisível universo das emoções.

Zelia da Costa/NM/MT/23/08/2015/13h42min
zeliadacostamt@gmail.com