sábado, 24 de setembro de 2022

                                          "CADÊ VOCÊ??? "                 

                  Existem expressões que grafadas ou não, atravessam o tempo... No entanto, há outras que, apesar de muito populares, não resistem porque caem em desuso. Creio, que este vácuo a que me refiro, ocorre devido à evolução dos costumes que não abrigam mais o sentido original da "experiência" infantil. Explico - porque quero saber, leitor, sua opinião.

                  Para que a dúvida não se instale entre nós, responda-me:

                  - Por onde anda o "Bicho Carpinteiro"? 

                  Se você não é "parte da minha geração", nem deve ter entendido a pergunta. Vou tentar esclarecer:

                   Quando eu era criança(faz tempo hein...kkkk), minha mãe usava esta indagação que me fez crer "ser amiga fiel de uma entidade invisível":

                   _ Olha o estado em que está vestida?Você rasgou a saia! A blusa mudou até de cor!!!Seus braços e pernas cheios de arranhões!...Vá tirar a lama desses pés!Não!....Melhor, tomar um banho! Um banho "caprichado", minha filha!...Que aconteceu? 

                   - Meu Deus! Você estava com o "bicho carpinteiro"? 

                   Eu dizia que não, claro, mas não conseguia convencê-la.

                 - Ninguém fica neste estado se não estiver com "Bicho Carpinteiro", minha filha! Onde você andou? Você precisa parar de andar nestes matos...É perigoso! Isso é coisa do "Bicho Carpinteiro"! Você é uma menina!Olha a Oneida(filha da vizinha)...Ela está sempre bonitinha, limpinha, arrumada... Você também devia se comportar assim:                                Parar de andar no mato, subir em árvore, pular na lama!                         

             Ela, a Oneida,  não tem "Bicho Carpinteiro"!

             E eu ficava ali, ouvindo aquela "ladainha" e pensando:                         -Se eu era seguida pelo "Bicho Carpinteiro"...                                                Por que não o via?                         

             Bem, com o tempo, fui me acostumando a conviver com aquela "entidade", também citada na escola pelas professoras, ao reclamarem do comportamento dos meus colegas! Sim! Porque lá.... Eu? Creia! Eu era um exemplo de virtudes! O Bicho Carpinteiro não conseguia tumultuar minha vida escolar. Ali, eu era "um modelo de aluna exemplar"! Ganhei até medalha de ouro por " Aplicação e Bom Comportamento" - um impacto inexplicável para minha mãe!

              Minha mãe era informada nos "Boletins Escolares" das avaliações nas provas,mas não havia registro de comportamento,portanto os elogios de dona Eumaya, minha professora e dos demais funcionários eram sempre uma razão de surpresa para ela. Só "dona Elza", a gorda e simpática cozinheira, se queixava da minha dificuldade para merendar:

            -  Ela enrola...enrola...mas não come nada! Eu fico espiando, insisto, mas não adianta...

              Aí, eu ouvia minha mãe, quase se desculpando dizendo que eu era mesmo muito "difícil para comer".

             Durante minha infância, até minha mãe morrer, dividi com o "Bicho Carpinteiro"minhas peraltices e aprendi a compartilhar com ele o ineditismo  das minhas aventuras. 

             Um dia... Ele também se foi e nunca mais ouvi falar dele.

             Hoje, subitamente,me recordei desse tempo e resolvi fazer esta indagação:

           - Você que me lê, algum dia, teve contato com o "Bicho Carpinteiro"? Sabe, acaso, por onde ele anda? Chegou a ser acusado de participar, quando criança, de alguma aventura capitaneada por ele?

              Pode me explicar porque esta "entidade"incoerente, audaciosa, aventureira, valente, divertida e fugaz, hoje não é citada? Reconheço que o "Bicho Carpinteiro" responde por minha audácia e criatividade.Devo a ele a coragem de enfrentar situações que não admitem fragilidade, nem ambiguidade de conceitos.Ensinou-me a evitar o perigo contido nas aparências e, que a Natureza não admite vícios, porque eles degeneram a realidade. 

             Subi morros, atravessei vaus de rios, caí de árvores e me sujei e escorreguei e "levei tombos", levantei e registrei que, não raro, me "emporcalhava" e cheirava mal! 

             Enquanto minha mãe definhava... "Fez-me alfabetizada" enquanto a Natureza se alinhava e sabiamente cumpria seu destino, revelando-me outra linguagem, descortinando a intimidade de seus cenários e me expondo soluções surpreendentes.

              Quanto ao "Bicho Carpinteiro", invisivelmente regia minha audácia... 

             Devo a ele, o acesso livre à intimidade dos habitantes da floresta - sapos, jabutis, morcegos, peixes, cobras e lagartos e também a possibilidade de entender e compartilhar sua peculiar linguagem, recursos e soluções! 

              Ele, o Bicho Carpinteiro - é "Meu Herói" - presente de um tempo certo!

             Por onde andará meu invisível companheiro de traquinagens?

             Bicho Carpinteirooooooo??? Cadê você? 

                                    Ou melhor :

             Bicho Carpinteiroooooooo??? 

                - As novas crianças precisam de você! 

domingo, 4 de setembro de 2022

              NEM TUDO É.... "FAZ DE CONTA"!

      O "Dia da Criança"estava próximo e deveria ser comemorado com especial intenção! Eram todas, crianças carentes e nós queríamos tornar esse dia - inesquecível! Desta vez, uma ideia começou a "tomar corpo"... De repente, sentimos que um clima de festa ia, pouco a pouco, se insinuando no ambiente entre as crianças. 

            Só um aluno, naquela época, tinha televisão em casa. Era pelo rádio, com a difusão de suas propagandas de festa e brinquedos para o "Dia das Crianças", a razão daqueles inocentes sorrisos.    As crianças sabiam que podiam contar com bolo e um saquinho de balas dados por nós. Esta foi a informação que recebemos da merendeira d. Maria, que ali trabalhava há anos. Ela nos deu esse recado a ser atendido e entendido. A diretora estava fora, de licença, aguardando  aposentadoria !      Assim, assumimos enfeitar a escola com correntes coloridas de papel! Era  nossa primeira experiência no magistério e exercido na surpreendente Zona Rural do Rio de Janeiro!          

          Para completar, Marilene,nossa colega e amiga de ginásio chegou com a notícia que Sr. Alfredo, seu pai, comovido com nossa carência de recursos para os festejos resolveu doar o bolo e os saquinhos de doces!        Para mim não foi surpresa porque ele tinha um "coração de tamanho desmedido". 

                Não sei como, nem de quem surgiu a ideia de fazermos "uma vaquinha" e completarmos as surpresas com um brinquedinho de lembrança nossa! Imagina! Que ideia mais estapafúrdia! Teríamos que adquirir cerca de sessenta brinquedos, atendendo aos interesses de crianças na faixa etária específica de sete a doze anos! O custo seria desastroso, mas a ideia nos dominou, apesar de combatida pelo bom senso... Ganhou adeptos e volume e venceu!          

          Que "raio" de brinquedos compraríamos? 

        Alguém sugeriu uma boneca para as meninas e um caminhãozinho para os meninos... 

        Caminhãozinho!Imagina! O custo seria alto...Que tal uma ideia mais humilde? Uma bolinha?... Uma bonequinha de plástico para as meninas? Boneca? E o custo? Uma bem  "baratinha"! Elas são horrorosas... Parecem bruxas! As crianças vão ficar com medo! Todas rimos muito! E essa bola?...Bola! Que bola? De que tamanho? É...Não havia acordo porque faltavam recursos!

        Ouvi, outro dia, uma menininha dizer que sonhava ter uma boneca com cabelinhos!...

        - E se a gente comprasse uma boneca dessas?

         Ouvi alguém reclamar:

        - Tá doida! "Pirou" de vez? Uma bonequinha pra cada uma vai ficar muito dispendioso! Somos nós que vamos assumir esta despesa, esqueceram?

           - Vamos tentar dar uma boneca com cabelo e para os meninos, que tal  uma "bola de capotão"( era como eles chamavam a "bola de futebol" revestida de couro...)

            - Nem pensar...Esta bola custa "uma nota"!

             Sabíamos ser quase impossível comprar os brinquedos, mas nós nunca fomos carentes. Tivemos uma infância saudável e feliz e nos sentimos tomadas por uma espécie de remorso... Nós tivemos muitos brinquedos e a ideia se fixou como "culpa," um remorso inconveniente e ganhou a certeza de uma boa ação.

          Não dormi com o desassossego dessa ideia!

           Dia seguinte,  fui a lojinha que havia próximo à estação de Santa Cruz! Lá existia um  pequeno bazar! De quando em vez, eu comprava, cadernos e lápis de cor para as crianças e o dono sempre parcelava a conta. Fui até ele porque conhecia a penúria de nossos alunos e falei do desejo de comprar aqueles presentes...Ele balançou a cabeça, penalizado e incrédulo!

           - Por que está me contando esta história?

            - Porque se houvesse a possibilidade do senhor comprar pra nós esses brinquedos no revendedor...Nós lhe pagaríamos parcelado, como prestações... Na verdade, ninguém da escola sabe que eu vim lhe pedir isso, mas vão ficar doidas se o senhor aceitar esta proposta porque nossas crianças são muito pobres e nunca terão esses brinquedos se não for nessas condições... Juro que o senhor receberá tudo" direitinho"... Eu me responsabilizo! Nós lhe pagaremos mensalmente!

         Dia seguinte, fui ao bazar e recebida com um sorriso inesquecível do seu Antenor, dizendo pra mim:

 _ Conversei com o revendedor e ele me disse que conhece a sua escola e sabe das condições do lugar... Primeira vez que vi aquele homem comovido com alguma coisa!A conta é grande, mas ele fez um preço "camarada", porque ficou impressionado com o gesto das professoras. Confio na senhora e sei que as professoras daquela escola tem um carinho especial pela criançada! Pronto! Negócio fechado! Os brinquedos devem chegar logo no início da semana que vem! Podem vir buscar!

         Bem, chegou o Dia da Criança! O filho de d.Maria, o Juju, montou a barraquinha onde foram servidas fatias do enorme bolo recheado e vários doces! Só isto, já era "uma festa"!

        Pularam corda, brincaram de roda, de esconde/esconde... Até que cansados foram chamados em fila para receber os saquinhos de balas, tabletes de doce de leite... Agora, o momento especial, quase solene: 

Antes de sair, cada criança recebeu, com um grande e carinhoso abraço, uma sacola que continha, para os meninos uma bola de couro, enquanto as meninas, maravilhadas, se extasiavam carregando nos braços... uma boneca "de cabelos longos"!

         Enlouqueceram! 

         Uns riam... Outros choravam! Não acreditavam no ineditismo da surpresa dos presentes...Nós também chorávamos...Não era só uma boa ação ! Soubemos, naquele instante, que aquilo se transformara num evento concreto  inesquecível de amor e esperança!

        O sonho pode se tornar realidade e nós faríamos isso ocorrer!

         Felizes e exaustos começaram a sair, encantados!...

         Súbito, ouvi uma gritaria, algo anormal estava ocorrendo!            D. Maria veio ao meu encontro, transtornada e do seu jeito canhestro me pediu que corresse porque uma professora e a mãe de uma aluna estavam quase se "atracando"!

          Corri e deparei com uma cena inesquecível e fora do contexto de até então! Para meu espanto, a professora chorava apontando para o chão onde uma boneca jazia espatifada!               Gritando, enlouquecida, a mãe dizia que aquele era um brinquedo maldito e, desvairada, pisava no que restava, enquanto a filha, chorando, pedia pelo amor de Deus que a mãe ficasse calma e não destruísse seu presente!

         Chocada, a professora foi retirada aos prantos da cena, enquanto eu  consolava a menina Solange e pedia a mãe que se acalmasse e fosse embora em paz, dando fim ao espetáculo desaprovado até pelas crianças!

          Dia seguinte a menina, muito acabrunhada, voltou às aulas. Na hora da saída eu a acompanhei. Sua mãe ao me ver, mostrou seu descontentamento. Ignorei! Abri a sacola que eu levava e retirei de lá duas bonecas - dei uma para a mãe e outra para a filha!  A criança enlouqueceu de alegria!

   Abracei a mãe que chorava!

   Disse-lhe baixinho:

 - Esta boneca é sua! Perdão ficou guardada muitos anos! Ela abraçou o brinquedo como se sentisse saudades...É sua! Sempre foi! Agora pode levar!

    Dias depois, ela me procurou pra contar que ia embora daquele lugar. Era uma fuga! O marido - presidiário -  mandou avisar que estava pra sair da cadeia. Anunciou também, que sabia que a filha estava crescida e que ela "seria dele" - antes de qualquer vagabundo! Ela sabia o que ele queria dizer e, por isso, resolveu sumir no mundo! Abraçou-me chorando...Agradeceu a sua "primeira boneca" que jurou guardar para o resto da vida...

         Seu sonhado brinquedo de infância - uma boneca!

       Pediu-me perdão e rogou que a outra professora a desculpasse pela cena do dia anterior. Estava se sentindo envergonhada e não tinha coragem de encará-la! 

        Ela me deu um longo abraço! Estava triste com a partida de um lugar onde tinha feito amigos e pelo fato de impedir a filha de frequentar a escola que amava! Eu,lamentando tal destino, roguei a Deus que as protegesse e também as suas bonecas pelo resto de suas vidas!

Zelia da Costa/NM/MT/Sábado/03/09/2022.

   


    

                                      

 

                                    

     

sábado, 13 de agosto de 2022

                      QUEM DÁ AOS POBRES....      

       - Dona Zelia ! Tenho uma notícia ruim! Sabe aqueles canteiros prantados cum mandioca? Pois é... Tem alguém roubandu elas... E devi chegá di madrugada, proque eu venhu bem cedo e num tem ninguém. Se pulasse o muro ou passasse debaixo da cerca...Ah!...Aí,eu veria proque já "fico de oio"no malandro.Quem é... sabe direitinho onde está a mandioca "prantada" e que tá pronta pra "coíê"! Só qué sabê da mandioca! Quando "se entope bem", larga uns pedacinhos no chão!Ou, então, é quando escuta eu chegá e aí, foge de mim!

        - Mas, d.Maria a gente tem mais de um canteiro plantado... Não fará tanta falta,assim! Quem quer que seja deve estar com muita fome...Talvez, sinta vergonha!

        - Olha, professora, pedir não é vregonha! Vregonha é roubá!E eu sei que agente tem mais canteru, sei disso? Mas quem tá fazendu issu vai direitinho no que tá pronto pra gente usá! Onde a mandioca é grande, bonita!Olha! Vou dá um avisu...Amanhã, eu acabo com essa farra...Num quero saber se é criança ou se é véio...É ladrão! Podia pidi, né? Mas não, o safado preferi roubá!... Deixa está...De amanhã num passa! Vou chegá de madrugada... Deixa lá!

         Comecei a pensar na situação...Tinha que ser alguém estranho porque se fosse conhecido...pediria!Plantamos dois longos canteiros e queríamos usar a mandioca na merenda das crianças. Consegui isolar uma parte do quintal que era uma espécie de mangue e solicitei à Admistração Regional a orientação de um engenheiro agrícola que nos ajudasse na recuperação do terreno alagado para plantio de uma horta.Isto ocorreu e logo pudemos preparar o espaço, agora "corrigido", para fazer plantar salsa, hortelã, mandioca,abóbora, berinjela e cebola. Esta ideia surgiu quando o Estado se desentendeu com os fornecedores que lhes vendiam legumes, frutas, carnes e por um tempo difícil, a merenda ficou reduzida a chocolate e mingau.

            Agora, com nossa horta, tínhamos algum recurso para evitar a fome. Podíamos fazer sopas, saladas, sucos... 

            De repente, d.Maria irrompeu pela Secretaria, aflita me chamando:

            - Dona Zelia! Corre aqui! Peguei o ladrão de mandioca e ele é tão sem vregonha que nem ligou pra mim!Tá lá se entupindo! E não está sozinho, não!Corre! Vem ver!

             Corri, atendendo aquele pedido aflito!

             _ Agora vem devagar! Espia só!... O sem vergonha nem liga pra gente!

                 Para minha surpresa, sem a menor cerimônia, lá estava uma Mamãe Coelha e toda sua família!

               Conclusão:

               Aquele espaço da horta...Ganhou novos donos! A Mamãe Coelha virou sócia!

                           Zelia da Costa/NM/MT/13/08/2021


quinta-feira, 11 de agosto de 2022

ERA UMA VEZ

                   ERA UMA VEZ...  

              Vivi no Magistério momentos mágicos, lindos, comoventes, vitoriosos e fascinantes que alimentaram minha Vocação!

              Também vivi inacreditáveis episódios pérfidos que me fizeram entender porque alguns seres humanos eliminaram os sentimentos que enobrecem e se embruteceram, perdendo pela existência a identidade humana.          

             -Há muito, quero falar com você!

             Buscava esse momento, assim, só com você. Estou bastante preocupada.Precisava de um tempo e de um lugar, quietinho como esse agora. Só eu e você! Por favor,diga-me o que está acontecendo. Você está  desatento... Não conversa e é grosseiro com seus colegas!Reage revoltado quando chamo sua atenção! Você não gosta mais da minha aula? Você não era assim... Fico muito triste com esse comportamento novo, alheio...

         Ele reagiu magoado. Olhou-me com os olhos mais tristes que eu já vi.

         - Professora, eu gosto da aula e gosto muito da senhora sim...mas... eu tenho muito sono!

         - Minha aula dá sono, David? Você acha minha aula "chata"?

         - Não! Não!Não é isso! Eu não durmo direito, não consigo, sabe? 

         -Você não faz mais as tarefas... Quais as suas dificuldades?

 Não entende os exercícios ou tem preguiça de fazê-los?

          - Eu não posso dormir!

          - Por quê? Você dorme no "chão duro"(o que era muito comum lá) ou tem vizinho fazendo muito barulho à noite, onde mora e você fica perturbado?

          - Não! Eu tenho cama,sim senhora...Não é isso!

          - Então, você não dorme por quê?Você tem medo de bicho? Tem pesadelo, sabe sonho ruim? Sente alguma dor?

         - Nada disso!

          _ Escuta David, eu quero ajudar você, quero saber por que seu rendimento na escola não é o mesmo...Você não agia assim! Quero ajudá-lo!O que eu posso fazer? O que impede você de dormir? Não é medo, não é barulho, você tem lugar pra dormir...Então...Qual a razão de tanto sono na escola? Você  até se recusa brincar com seus colegas, come a merenda sozinho e não participa de nenhuma atividade no recreio!É um comportamento estranho porque você não era assim!Você me preocupa!

          - Meus irmãos não deixam eu dormir..

          - Ah! Eles fazem bagunça?  A bagunça é grande?

           - Não,professora! Não é nada disso! 

           - Agora,fiquei curiosa... Se não há barulho...Você sente alguma dor? Tem medo de escuro? Fala pra mim!...Quero lhe ajudar...Você não tem sono à noite?Sabe, se chama insônia. Você sofre de insônia? Você anda cochilando durante o tempo todo da aula...Não dá pra eu entender! Precisamos resolver isso, David! Quero ajudar...Não estou zangada!Não quero vê-lo cochilando durante a aula toda! Insônia na sua idade...É estranho!...

        - Meus irmãos não me deixam dormir...

       - Ah!...Isto, você já disse. Quero saber o por quê?

       - Eles "trepa"comigo a noite inteira?

        - Não entendi, David? Seus irmãos o quê?

        - Eles "trepa"! Não entendeu? Eles trepa!!! Eu não "consego"dormi!

          Fiquei pasma! Achei que tinha entendido errado.

         - E seus pais? Eles não veem isso? Por que você não chama seus pais, meu Deus! Por que não pede ajuda?

         - Meu pai trepa neles antes e aí, eles vem pra cima de mim, depois!

           Ele tinha dois irmãos mais velhos que ele!

          David não chorava!

           Baixou a cabeça quando viu minha expressão de horror e surpresa!

             Calada, em "choque", nem sei quanto tempo demorei pra reagir!

              - Vou pedir a "seu Inacinho"pra me levar até sua casa! Quero conversar com seu pai!

                Conversei com "seu Inacinho", o motorista do carro que o Estado alugava para nos levar à escola  e que conhecia bem a região e nos socorria, nestas emergências, com rara solicitude porque dizia que admirava nosso trabalho e dedicação! Ele se prontificou a me acompanhar, disse-lhe que depois iria comunicar ao Serviço Social!

                _ Vou fazer isso,mas queria conversar antes com a mãe deles porque quero conhecer essa gente! Quero saber se é verdade, depois vou à Polícia! Isso é um crime monstruoso!Inacreditável!

                  - Conta comigo, professora! Coisa horrível! A senhora não vai lá sozinha, não!

                  Dia seguinte, eu e "seu Inacinho"nos embrenhamos pela estrada até à casa!Batemos palmas! Gritamos por David! Nada! Ninguém! A casa estava vazia!

                Súbito, ouvimos uma voz:

                - Fessoooora! Conheço a sinhora! A casa tá vazia! Eles foi "imbora" madrugada. A gente viu o movimento, mas eles num era "de muita conversa". Cedo, vimu a casa vazia e esse caixote de lixo, aí! Eles num tinha amigo aqui... Gente "isquisita"! Os mininu num "si dava" com ninguém...Brincava, não! Sei não, pra onde foram...A senhora queria falá com eles?

           - Queria, mas parece que chegamos tarde!

           A Polícia foi comunicada, mas disse que eles deixaram o Estado e o Serviço Social lamentou o ocorrido, por ser impossível localizá-los! 

           E eu? 

           Eu nunca mais esqueci David!

                               Zelia da Costa/NM/11/08/2022/22:18


               

           

 

 

         

          

quarta-feira, 2 de março de 2022

EM NOME DO PAI

               EM NOME DO PAI.... AMÉM!!!

        Tenho certeza! 

        O impacto da violência desta guerra corrobora minha opinião negativa, a respeito do nocivo comportamento do Ser Humano. 

         A televisão, com imagens aterradoras, não transmite cenas trágicas... Ela registra o quão deprimente, mesquinho, violento, impiedoso, ganancioso e covarde, o comportamento humano pode se denunciar...

       Não é triste...

      É humilhante! Sinto vergonha, nojo...

       É um jogo sujo! Vale tudo, mas não me iludo...            A causa maior é a ostentação do Domínio do Poder!                                                                          A  determinação dos regentes dos submundos nacionais domina a Política na exploração de populações para alimentar a ganância e exibir majestade!                                                                             São estes poderosos governos, a instituição legal, de"quadrilhas internacionais"!    Sim! Investidas dos inerentes Poderes Públicos Nacionais, elas agem com a mesma e condenada violência, imposta e manipu-lada no submundo das gangues corruptas e combati-das, só que estas agora, agindo sob o manto da legalidade, imposta pela internacionalização mórbida da defesa inversa e ataques bélicos. Cabe ao acuado, sob a alegação da luta pela manutenção da indepen- dência manter "direitos inalienáveis" de seu povo e, como consequência condenar ao terror a própria população, tornando-a refugiada, acossada, expandindo também, às vizinhas e indefesas populações fronteiriças o compartilhar a miséria da fome, a violação de direitos civis, a destruição de bens públicos e privados e também à pena da perda de familiares,amigos. Os "senhores da guerra" ainda se arrogando, de forma canalha, impedem que países pacíficos alimentem seus justos sonhos de grandeza!

         Assim, o terror se expande!

       Onde aquela liderança moral enaltecida, cívica e de humana nobreza?...    

      - Ela foi execrada por líderes venais!

      Estamos divididos em manadas!

      Não, aquelas nobres manadas, dos ditos, Irracionais!       

      Não!

      Estamos em currais dominados pela demência de indivíduos capazes de matar e morrer pelo comando e posse das Riquezas Naturais e Nacionais de Países inertes e do poder bélico que eles armazenam, da tomada de liderança de grupos empresariais, consequentemente, senhores do império político e financeiro deste Planeta!              

      Seletos grupos humanos, movidos pelo mesmo pacto de ambição criminosa, aderem à fidelidade dos interesses escusos, sem sentir culpa!

        Não há neste registro, sentimentos nobres como piedade, respeito, civilidade, fraternidade... NÃO!  

        A Vaidade que alimenta à Ambição não abre espaço à DIGNIDADE!

        "Neste tempo incomum em que cenários ardem"... Esperança não tem lugar!  Nem a Vitória! 

         Bem, nos tornamos inimigos da "CRIAÇÃO" e ELA está perdendo a Paciência! A Natureza não admite seus próprios Erros! Não demora! Como de outras vezes.......

         Vai corrigi-los!

      Que pena! 

      Tentará outra HUMANA POPULAÇÃO?

         Sei não...

         ELA havia confiado em nós!  

Zelia da Costa02/03/2022/NM/MT/07:10               


 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

MEUS PÊSAMES

  

               MEUS PÊSAMES

Não sei como me dirigir a você. Estou ciente da péssima situação pronominal e adversa em que me encontro. Primeiro, cabe um pedido de desculpa que se perdeu no Tempo Presente.Este Presente, que urge passar..... Não tem futuro!

Esta constatação não é pueril, nem arcaica e por incrível, ganhou a solidez da mentira. Tudo ocorre, num tempo ignaro e sorrateiro, como as personagens humanas que povoam esta era que devassa -um Futuro perverso.Quem responde a esta interrogação malígna? Os autores! Nós!

      Se meu texto parece confuso... Não é anacrônico! É o inverso!É a visão realista da projeção dos atos impensados, desumanos, egoístas, maniqueístas,corruptos, visando famintos interesses sórdidos  de quem perdeu a generosidade, privilegiando o caos! Não viverei este Futuro,mas lamento por quem está nascendo... Talvez, tenham perdido a humana oportunidade de viver o "meu Passado"! Perdão!

sábado, 15 de janeiro de 2022

          Dói agora e com certeza ainda vai me machucar bastante, a partida desta amiga querida e sempre atenta.

          Estes tempos estão sendo perversos. Amigos inestimáveis estão partindo e está difícil a busca de consolo.

          Agora, foi você, Meire, uma mulher forte, capaz de encontrar fôlego na fé, mesmo vivendo dores imerecidas. Lamento ver este mundo empobrecendo diante da partida de pessoas que o faziam mais nobre, por pertencerem à casta dos puros de sentimentos e caráter.

           Espero que seu encontro com seu único filho Allison, meu querido aluno, cuja vida foi ceifada brutalmente, tenha glorificado sua fé praticada e modelar. Um grande e carinhoso abraço e receba minhas orações, minha saudade e gratidão pelo seu sempre enorme carinho!                 

                        Zelia e Família

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

ALERTA

                              ALERTA!

      Fiquei impactada com a notícia, mas a visão do esqueleto de um réptil de mais de dez metros de comprimento e que viveu neste planeta cerca de cento e vinte(120) milhões de anos atrás...  É algo assustador.

       Mesmo investindo toda a fantasia, é impossível pra mim, imaginar o cenário que privilegiou a existência de seres desta dimensão impactante, povoando uma indescritível realidade neste distante tempo onde animais de extraordinários volumes dominavam o planeta, senhores de uma Natureza rica e de surpreendentes contrastes.

     Aquele impressionante esqueleto soterrado por tempos imemoriais, não pode ser considerado apenas como um fabuloso "achado"... Pesquisadores experientes e surpresos custaram  crer estar diante de um registro de incalculável valor histórico. 

      Este fóssil é uma espécie de mensagem do Tempo que determina o limite da existência de todos os seres vivos. O fabuloso esqueleto, historicamente datado, cerca de milhões de anos, parece fazer um alerta para nossa frágil existência:

- Neste Planeta, que julgamos dominar...Eterno?

Só o TEMPO!