quarta-feira, 15 de julho de 2015

Só acreditei porque li



- Faça-se a luz!
E houve um apagão!

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RUY CASTRO
Presidenta por decreto
RIO DE JANEIRO - Amigos me alertam para um decreto-lei recém-publicado no "Diário Oficial da União": "A Presidenta da República faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º. As instituições de ensino públicas e privadas expedirão diplomas e certificados com a flexão de gênero correspondente ao sexo da pessoa diplomada, ao designar a profissão e o grau obtido. [...]
Art. 3º. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 3 de abril de 2012. Dilma Rousseff. Aloizio Mercadante. Eleonora Menicucci de Oliveira".
Tal lei serve apenas à teimosa vontade da presidente Dilma de ser chamada de presidenta, na ilusão de, com isso, estar valorizando as mulheres. E não adianta dizer-lhe que não é assim que a língua funciona. O problema é que, com a medida, ela obriga a que se parem as máquinas e se corrijam a jato todos os dicionários da língua portuguesa.
Porque, se Dilma agora é presidenta por decreto, também quero ser chamado de jornalisto, articulisto, colunisto ou cronisto.
Idem, os calistas, juristas, dentistas, arquivistas, criminalistas, ortopedistas, ginecologistas e médicos-legistas do sexo masculino, todos podem requerer diplomas de calistos, dentistos, arquivistos, criminalistos, ortopedistos, ginecologistos e médicos-legistos. O próprio Aloizio Mercadante, ministro da Educação e cúmplice da presidenta nessa emboscada contra a língua, deve exigir ser chamado de congressisto quando voltar ao Senado.
Pela novilíngua da presidenta, o sindicalista Lula teria sido um sindicalisto. Luiz Carlos Prestes, um comunisto. Millôr Fernandes, um humoristo. Luizinho Eça, um pianisto. Guimarães Rosa, um romancisto. O cego Aderaldo, um repentisto. Ayrton Senna, um automobilisto.
Dilma acha pouco ser presidenta. Quer ser também linguista.
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terça-feira, 14 de julho de 2015

AS SOMBRAS DE CADA UM

  

AS SOMBRAS DE CADA UM

A claridade se interpôs 
entre grossas colunas
Construindo fantásticas imagens
 no cenário pétreo

Sem esforço, elas deslizam reptícias
Como se zombassem...
Criando sombrios espectros

Impedida de romper os totens de mármore
A luz perde a autoria da cena
- Arte rara a induzir visões -

Num esforço, a luz tenta confundir desenhos
Que a provocam, num rito sem conexões
Enquanto pelos vãos e entre frestas
Num painel de formas excitantes
Sombras infiltram nas figuras
Secretas mensagens 
entre as colunas gigantes

Assim, também na vida, luzes encandeiam
E desenhos fazem, refazem, desfazem...
Signos que nos liberam ou cerceiam
 Projetam nas formas que nos seduzem
Sombras de cada um, sombras alheias.


Zelia da Costa/NM/MT
zeliadacostamt@gmail.com

quinta-feira, 9 de julho de 2015

PALAVRAS AO VENTO

  
 PALAVRAS AO VENTO

Se as palavras  interditas...
Em que intrincada teia teces a tua vida?
Se os textos codificados garantem o teu discurso
Com que palavras  assomas ao medo  e ao futuro?
Em que vago tu transitas, no teu nefasto momento?
Em que solidão habitas?
Qual teu rumo? Qual teu tempo?
Em que cores tu definhas neste sombrio evento?
Quais os sons das tuas mágoas?
Quais as liras que deságuam?
Quantas vias tu descartas só para ser indiferente
Mas a  indiferença te iguala a quem a sede  avassala
No  turbilhão,  em cascatas...
                      Voam palavras ao vento!
Zelia da Costa/NM/MT
zeliadacostamt@gmail.com

sábado, 4 de julho de 2015

FALSA MODÉSTIA

      FALSA MODÉSTIA
        
Não quero a Lua toda, quero um pedaço de luar

Deste imenso mar, quero uma concha para escutar

Do turbilhão de sons, quero um trecho da canção

Da dança quero dois passos e um rodopio no espaço

De todos os aromas, quero o cheiro do mato

Do que houver de mais belo, quero apenas o tato

Das cores que embriagam, quero do rosa, o matiz

Não quero ser o doutor, quero ser o aprendiz

Não quero do sábio, o olhar, quero olhar da criança

Não quero tudo obter, quero ter a esperança

De todos os segredos, quero apenas o por quê

Do rio, de suas águas, quero o turbilhonar

Da floresta poderosa, das  sementes, o germinar

Do Sol que tudo ilumina, quero de um raio, o fascínio

Da chuva que rompe a rotina, quero o  surpreendente

Se o dom da humildade morasse em meu coração

Eu queria a vaidade de saber pedir perdão.


                   Zelia da Costa/RO/ 2006.
zeliadacostamt@gmail.com

EXTREMA UNÇÃO




                 EXTREMA  UNÇÃO


Disse o moribundo em seu apelo final:

-Creiam nas vozes das cores...
Elas expurgam o mal!
 Sintam as vibrações das notas
que não se ouvem
 e cantem a melodia que afasta as dores

 Façam com o tato,
 o contato com as formas
que estão reclusas
 Não existem imperfeições,
nem harmonias escusas!

 Procurem no imutável a rara mobilidade!

 Busquem no imperscrutável
 a escancarada verdade!

 Neguem as definições
que cerceiam e limitam

 Somos a síntese do imponderável.
 Acreditem!

 Não permitam a qualquer cheiro
escapar do seu olfato:
 Inalem - do frescor ao putrefato!

 Sintam medo, do medo
 e a covardia da coragem

 Abandonem-se à vertigem,
 em qualquer paisagem!

 Deixem que seu sangue,
em seiva, se transforme
 e sintam a pulsação da terra
que nunca dorme

 Quando em água se banharem,
deixem que penetre as entranhas
 Somos parte deste mar,
não há simbiose estranha!

 Partículas de estrelas
habitam nosso corpo!

 - Por Deus! Creiam na revelação!
 Sou homem quase morto!
 Não esperem como eu,
que a morte, a vida revele
 porque este perdão...
- Ela nunca nos concede!
...........................................
Se lhes conto o que ouvi,
 é porque desde então...
Libertei os meus sentidos,
tentando outra dimensão!


     Zelia da Costa/RO/2004.
zeliadacostamt@gmail.com

sexta-feira, 3 de julho de 2015

DESCARTE

                  DESCARTE

Ah!O ser humano é tão desumano!

Vive a buscar quem tenha pelo amor
 - os mesmos amores  -
Que sinta na dor
 - as mesmas dores -
Que se encante  
 - pelos mesmos encantos da beleza -
Que sofra
  - os mesmos sofrimentos da tristeza -
Que alimente
 - as mesmas feridas da saudade -
Que tenha pelo destino
 - os mesmos anseios divinos
e a suprema e igualitária raça...

Inútil!
Não existe tal similaridade!
E quando solidários somos,
somos por sedentos!
Por ser original o nosso invento
 - somos singulares
Nem o som, que penetra nossos ouvidos,
provoca as mesmas reações nos sentidos...

Somos formidáveis!

Mas não sabemos viver esta magia
E o que é nossa identidade: a diferença...
Torna-nos insanos, destrutivos, inumanos:
“Projeto Falido da Criação”

Que a Natureza, com toda certeza
 condenará à extinção!
E o Universo perderá a única possibilidade
de viver a excelsa magnanimidade
do resultado da nossa Infinita Adição!


  Zelia da Costa/Ouro Preto do Oeste/RO/2006.
zeliadacostamt@gmail.com

A PERGUNTA QUE NÃO CALA

       A PERGUNTA QUE NÃO CALA                  
  (PELO SACRIFÍCIO DA JUÍZA P.ACCIOLI)

É tarde...
Inútil buscar a verdade que a origem perdeu
Quando a morte não desculpa ...
  A vida se culpa e perde a razão
Tantos atos insanos,
desprezíveis, desumanos
  não se esgotam no tempo!

Diante das evidências,
afloram as consciências  
que o remorso corrói!

           Dói – uma dor inaudita
           Dor – a palavra maldita
                       que não cala!
                       que não fala!
     que não se dilui na memória!

            O silêncio se expande...
            A vida se abre em chagas!
Pelo Universo em pranto  ecoa,
 em todo canto, a pergunta:
- Por que matas?

             Zelia da Costa/RO/2003.
zeliadacostamt@gmail.com

quarta-feira, 1 de julho de 2015

MARESIA

               MARESIA

Olhos turvos, chorosos,vencidos
Lagos de melancolia
Opacos
Distantes da alegria
Contidos na nostalgia
de antigos tempos

Amarfanhadas pálpebras
cobrem tua visão
Em serena agonia,
definhas teu dia-a-dia, em vão

Olho tua face,
onde a coragem em risos se abria
Mas só um esboço
 se abriga no teu triste rosto,
hoje máscara fria

Busco a alma que antes saltitava
para além do teu corpo
Descubro que a dissipaste no pranto
As lágrimas diluíram o encanto

Restou indecifrável,
          uma sombra impenetrável
   uma perene apatia

        Zelia da Costa/RJ/2005
zeliadacostamt@gmail.com