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Pela primeira vez, o País era
convocado para ouvir o Presidente da República, recém eleito, na televisão!
Hoje, a gente até desliga o aparelho
se não consegue mudar de canal, mas naquela época a TV era quase uma novidade,
logo, era bastante inusitado este anunciado evento. Nunca antes na história deste País
isto ocorrera sob tal expectativa. Ele faria uma proclamação? Qual seria o teor
de seu discurso? Faria algum desafio? Alguma queixa? Certamente, agradeceria os
votos recebidos na eleição, falaria sobre a posse...
- O Presidente Juscelino
vai falar hoje na televisão!
- Você vai
assistir?
- Vou!
- Eu vou pra casa
da minha avó. Minha família vai toda pra lá. Vamos vê-lo juntos.
Nem
todos tinham “o aparelho de TV”. Por isso os vizinhos, amigos e parentes se
organizaram atraídos pela novidade.
Algumas pessoas que saíam do trabalho se
agrupavam pelas calçadas, diante das vitrines de lojas de eletrodomésticos que
exibiam uma TV funcionando, como irresistível atração e aguardavam, entre o
burburinho das opiniões, o pronunciamento de Juscelino.
Enfim, chegou a hora. Não lembro se o
prefixo musical foi a Protofonia do
Guarani ou parte do Hino Nacional Brasileiro, mas foi algo que criou e
alimentou densa atmosfera de nacionalidade e respeito. A ansiedade tornou-se
quase palpável.
Alto e magro. Ele
não era bonito. Elegante, sim. Tinha um sorriso iluminado e com a radiante
simpatia mineira saudou o povo. Começou por falar do seu Projeto de Governo – Cinquenta
anos em Cinco - e para que todos, sem exceção, o entendessem com
clareza foi, didaticamente, traduzindo o que significava o conjunto de Metas
que organizaria o futuro do País e o conduziria à prosperidade. Explicou, usando quadros estatísticos, cuidadosamente
elaborados, onde detalhava todo o processo -
os objetivos de cada uma das Metas
e sua inserção no plano geral, os limites de tempo para sua execução, o
custo do investimento, o grupo de trabalho envolvido no processo e o nome do responsável pelo gerenciamento.
Tudo tinha consistência, tamanho, importância, preço, definição, datas
de início e fim.
Havia sempre um
compromisso definido. Uma data para prestação de contas ao povo.
Não falava como um Professor, mas como alguém
que nos fazia crer, sermos importantes e a quem ele devia satisfação como se fossemos,
é verdade, seus parceiros leais.
Ele
comprometeu a população com o seu destino!
Imagina! Um povo
acostumado
a ser súdito, verdadeira “massa de manobra”, de repente,
perceber que o governo está sendo compartilhado de forma transparente e inequívoca. Era uma experiência tão nova
quanto surpreendente.
O Presidente
Juscelino Kubitscheck de Oliveira inaugurou, embora com grande atraso, nos idos
de 1956 - o verdadeiro Sistema Democrático Republicano Brasileiro! Era
espantoso. Quase uma traição à comodidade brasileira, ao nosso “espírito
Macunaíma”, aquele herói sem nenhum caráter. Estranhamos. Não era pra menos. Ele não se exibia como o Pai do Povo, título
comum e muito apreciado pelos líderes dos governos ditatoriais. Nem fazia o
estilo soberano inerente aos mandatários que eleitos necessitam impor
distância segura entre suas escusas ações e o povo que
governa. Ele não ocultava suas intenções, não se inseria no jogo corrupto do
poder. Com a oposição foi generoso e severo.
O fato de investir
na prosperidade fez com que os brasileiros acreditassem nas suas próprias
possibilidades de inserção e vitória e fomos tomados por um soberbo amor ao
País! Ele era “pé quente”!
Foram os Anos
Dourados!
Adhemar Ferreira da
Silva se fez Campeão Olímpico no Salto Triplo na Cidade de Melbourne, Austrália. Sua marca só foi batida quarenta e oito anos depois. Esse foi o seu primeiro título e deu início a uma série de vitórias.
Gilmar, De Sordi,
Bellini, Zito, Orlando, Nilton Santos, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé, Zagalo, a
gloriosa Seleção Brasileira de Futebol vence na Suécia e traz para o Brasil, em
1958, sob o comando de Feola, a Primeira Copa do Mundo.
Maria Esther Bueno foi
a primeira tenista brasileira a vencer e se tornar a grande campeã em
Wimbledon. Começo de carreira longa e brilhante.
Havia uma atmosfera
de bem estar e orgulho.
O Cinema Brasileiro
ganha a Palma de Ouro no Festival de Cannes (França) com “O Pagador de Promessas”. Enquanto o filme “O
Cangaceiro” se torna sucesso pelo mundo.
A Bossa Nova
atravessa a fronteira e a Música Brasileira ganha novas dimensões.
Avançar cinquenta anos em cinco!
Depois desta primeira vez, ele aparecia nas
telas dos jornais, exibidos nas salas de cinema e na televisão, inaugurando as
obras propostas, nas datas estabelecidas.
Então, era verdade! Podia acontecer!
Não
era
propaganda enganosa.
Juscelino criou a
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), aumentou a produção
de petróleo da Petrobrás, promoveu a Indústria Naval e a Indústria Siderúrgica.
Construiu as grandes Usinas Hidrelétricas de Furnas e a de Três Marias. Promoveu
a implantação da Indústria Automobilística. Abriu as rodovias que uniram regiões
brasileiras.
A inflação subiu, no
entanto o País crescia 7,9% ao ano, crescimento nunca visto antes,
nem depois na história deste País e o
salário mínimo do trabalhador
brasileiro em 1959, descontada a inflação, quer dizer, em valores reais, foi
considerado o mais alto de todos os tempos.
Ele investiu na
Política Externa quando formulou a Operação Panamericana.
Outras inúmeras
oportunidades de comunicação se tornaram frequentes até que anunciou para
espanto geral, a construção de Brasília!
Há muito, a Constituição Brasileira preconizava a mudança da sede do Governo
Federal para o Planalto. Era importante que acontecesse, mas quando?
Agora, Juscelino
falava com certa intimidade. Ganhara a confiança do povo. Os caminhões FNM
(fenemês) rodavam pelas novas estradas e havia orgulho nos olhares brasileiros
porque todas as metas obedeciam aos cronogramas de execução. Aí, ele convocou a
população mais uma vez para um programa especial na TV e nele anunciou,
minuciosamente, o Projeto da Construção de Brasília e da Estrada Belém/Brasília.
No dia seguinte, começaram as piadas
humorísticas porque o Presidente garantiu a data de lançamento da pedra fundamental e a data da inauguração
das obras.
Era engraçado
mesmo, vê-lo nas telas usando elegantemente terno e “chapéu coco”, sentado sobre uma enorme pedra, em meio a um
matagal, cercado por engenheiros e arquitetos e pranchetas e candangos, todo
sorridente comunicando que ali se ergueria Brasília, a nova capital!
Não é que duvidássemos,
porém desta vez era de tal magnitude a empreitada... Construir uma cidade em quatro
anos, num lugar inóspito, árido... Rasgar
uma floresta virgem ligando a Amazonia ao Cerrado! O Norte ao Centro-Oeste?
Durante alguns
anos o Presidente Juscelino virou motivo de chacota para seus adversários
políticos que não o pouparam. Ironizavam
sua determinação e também sua lucidez foi posta em dúvida. Até que no dia
marcado, chefes de governos ou representantes e convidados chegaram e juntos
com os candangos, (operários das construções), funcionários e com a exatidão de
quem honra compromisso assumido, de
quem ousa tomar as rédeas e domar o destino, BRASÍLIA foi inaugurada. Os
brasileiros assistiram deslumbrados e sob o impacto das imagens da TV à
cerimônia de inauguração da nova Capital do Brasil.
O Governo Federal
mudou-se da BELACAP (Rio de Janeiro) para a NOVACAP (Brasília). Eram as
manchetes.
O Presidente
Juscelino Kubitschek de Oliveira teve a lisura e grandeza para formar uma equipe
de homens de grande competência e seu entusiasmo contaminou todos que
participavam de seu Projeto de Governo.
O gênio de seus arquitetos e engenheiros criou traços tão inovadores que
atravessarão o tempo exibindo sua modernidade. De operários a doutores todos
viveram a magia de compartilhar um raro momento histórico.
Apesar
do trabalho hercúleo exigir muito esforço e uma enorme soma de dinheiro e
empreiteiras e um cem número de outras empresas contratadas, o Presidente
concluiu seu mandato sem enriquecer a
custa da corrupção.
Não
é permitido ao Presidente e a sua esposa e familiares receberem presentes,
acima do valor de cem dólares, portanto ele deixou o Palácio da Alvorada sem
notável bagagem.
Sua esposa Dona Sarah Kubitschek criou a
Organização das Pioneiras Sociais e fundou o Sistema de Hospitais Volantes nos
estados e o Hospital Flutuante, navio fabricado na Alemanha que percorria os
rios da Amazonia, atendendo aos povos ribeirinhos e indígenas. Era uma mulher
ativa e dedicada. Viúva, viveu da pensão do marido e morreu no apartamento que
alugava.
O Presidente Juscelino provou que para evoluir
é indispensável que haja um Projeto de
Governo. Sem isso, se instala a anarquia: obras são iniciadas,
desbaratadas e abandonadas por não obedecerem a nenhum cronograma de realização.
É importante que as Metas
estabelecidas sejam concretizadas com
sucesso no tempo previsto para que não encareçam. É indispensável que a equipe
selecionada para o trabalho tenha competência e compromisso. Urge que se imponham,
de fato e sob o rigor da ética e da lei, severas punições a quem incorrer na malversação
do dinheiro público. Há que se
exigir comprovados: caráter e dignidade de todos os seus colaboradores. O Chefe de Estado tem que ser incorruptível.
Era uma vez um homem
digno, inteligente. Ele governou o BRASIL de 1956 a 1961 e teve a coragem de
concretizar seus sonhos e fazer um Povo
crer no Poder de sua Nação.
Por que falo sobre isso com você?
Porque tudo acabou.