domingo, 24 de março de 2013

ABÊNÇÂO VOVÔ



              
                                        ABÊNÇÃO VOVÔ!


        “Isso é malhar em ferro frio”
        Esta é uma expressão em desuso, muito citada pelo meu avô que era um brasileiro à moda antiga. Naquele tempo, ele ouvia todo dia no rádio, às sete horas da noite, (ninguém dizia dezenove horas), “A Hora do Brasil”.  Ficava atento. Eu lhe perguntava por que o interesse e ele me respondia que era preciso acompanhar o noticiário pra saber como o governo agia:
       - O País é nosso! Eles tem que prestar conta e a gente tem que ficar alerta. São todos funcionários públicos como eu: presidente, senador, deputado! Todos empregados do Brasil, dizia com orgulho.
        De vez em quando, ele sorria feliz, mas não raramente, se aborrecia e bradava queixas e reclamações como se alguém pudesse ouvi-lo. Alguém responsável por provocar tanta indignação.
        As lembranças da minha infância são vivas e perturbadoras quando hoje recordo a frase:
        - O País é nosso!
        Percebo que as pessoas eleitas ao assumirem os cargos incorporam uma “entidade” que se exibe de forma quase demoníaca. Parece que eles acreditam, realmente, serem deificados e agem ora como imperadores, ora como faraós, portanto acreditam que os tesouros do país fazem parte do “seu patrimônio” e os tomam para si ou os desbaratam em experiências desastrosas com a convicção de que não devem a seus súditos - nós - os míseros contribuintes, nenhuma, eu ia dizer satisfação, porém prefiro pensar na prestação de contas de suas nefastas investidas na economia, no absurdo desbaratamento do nosso dinheiro conspurcado em fétidas transações corruptas. Confundem os recursos públicos com interesses privados. Parece que a realidade se esvaiu. Presidentes, deputados, senadores deviam ser submetidos, com frequência, a testes de sanidade mental e moral, indispensáveis para permanência no cargo.
        Comece a observar a maneira que eles se comunicam com a gente. Não falam como se fosse obrigação de competência dos seus cargos cumprir os projetos nacionais de forma objetiva, racionalizando tempo e recursos. Não! A coisa é dita assim:
- Nós pretendemos a partir de agora colocar todo nosso empenho para garantir que...
Aí, começam a citar coisas que são absolutamente indispensáveis a qualquer nação por mais porcaria que seja: creches, conjuntos habitacionais populares, hospitais decentes, escolas, etc. E ficam aguardando que nós, financiadores e razão de tanta majestade sintamos o privilégio de sermos lembrados e supostamente beneficiados.
A Educação vai mal!
 Mentira!
Quem diz isto não tem a menor noção do verdadeiro estado em que ela se encontra. Está péssima. Eu diria em adiantado estado de putrefação. Embora a propaganda governamental exacerbe sua excelência, está acéfala.
Qualquer empresa se preocupa com o seu produto final. É monitorando todo o processo que ela consegue constante aperfeiçoamento e estabelece seu índice de qualidade e supremacia.
A Educação também funciona assim.
Que cidadão nossa Educação pretende formar? Qual o objetivo final do processo?Que conceitos, habilidades, procedimentos didáticos, conteúdos primordiais e experiências sociais serão colocados à disposição deste projeto humano de integração e respeito à individualidade.
Até agora o produto final preocupa e deixa muito a desejar.
E a Saúde?
Como podem funcionar hospitais sucateados?
Como podemos aceitar estradas. Eu disse estradas?
Perdão!  É melhor que perguntem aos caminhoneiros amputados ou às viúvas e filhos órfãos. Quantos motoristas são vítimas e sofrem prejuízos fatais e financeiros por transitar nestas vias mortais.
Acabo de ver na televisão o sucesso da seca no nordeste! Ela é perfeita nos seus objetivos, porém não é surpreendente: gado morto, seco; lavoura morta, seca; até a caatinga não resistiu e o homem seco de esperança, nem chorava. Mas que importância tem isso?
 E o seu governador? Onde? Quando?
A notícia mais importante ocorreu dias depois quando a presidente do Meu País e mais cinquenta (50) piedosos devotos, convidados oportunistas, se hospedaram no mais luxuoso hotel da Itália. Cinquenta e dois quartos. Além do custo do transporte aéreo e alimentação, a formidável diária: sete mil reais. Despesa acrescida do aluguel de trinta viaturas entre automóveis e furgões.
Total: mais de cem mil reais por dia. Pagos por nós.
Tudo por um vídeo, uma foto com o Papa e uma piada copiada de Pelé, gracinha da presidente repetida à exaustão pela imprensa.
         Enquanto isso, o povo do Rio de Janeiro assiste impassível à destruição apressada de um conjunto habitacional, construído para abrigar as vítimas das enchentes e desmoronamentos e que não pode ser ocupado porque ameaça desabar. O custo total da obra: vinte e dois(22) milhões de reais. Ela esta integrada ao projeto Minha Casa, Minha Vida financiado pela Caixa Econômica,ou melhor, com nosso dinheiro.
       A rapidez do desmonte traduz a urgência em não deixar que o assunto detone as aspirações políticas estaduais e federais de eleições e reeleições.
São muitos prédios. Custo dois (2) milhões cada.
É um espanto! É inacreditável! É surreal!
E daí?
Daí? Nada!
Eu só estava pensando no Vovô.

quinta-feira, 21 de março de 2013

DEMAGORGIA



                      


                         DEMAGORGIA  

De que ignota fonte trouxeste a beberagem
que embriaga consciências
que estimula vassalagem
que faz ignorar princípios
que indelével macula honras
que torna alguns seres... ratos
e esses ratos... ladrões ?

De que abismo inóspito
tiraste o excremento dourado
que fascina os “investidos” corrompidos,
degradados cujo preço, acredito
por ti deve ser pago?

De que império, que república
de que mundo, que universo
de que obscena tragédia
de que futuro inverso
de que ideia brotaste
de que inferno vieste?

segunda-feira, 18 de março de 2013

EU FAÇO TUDO DE VERDADE



    
                     
                       EU FAÇO TUDO DE VERDADE!



             Choro de verdade         Rio de verdade


  •          Danço de verdade   Praguejo de verdade

     
            Acuso de verdade        Brinco de verdade


               Luto de verdade             Sonho de verdade


                                Abraço de verdade


            Defendo de verdade     Creio de verdade


               Xingo de verdade         Imploro
                                                   de verdade 


                               Lamento de verdade


           Olho de verdade     Trabalho de verdade


                             Estudo de verdade


            Beijo de verdade   Amo de verdade


              Odeio de verdade          
                                             Perdoo de verdade

                                Sofro de verdade


                         Rezo de verdade        
                                                   Temo de verdade


                       E até quando minto...

  •       Minto de verdade!

terça-feira, 5 de março de 2013

UMA VIAGEM EXCITANTE



       UMA VIAGEM EXCITANTE
Mas não é maravilhoso?
Raramente, fico tão entusiasmada como agora.
Acabo de chegar de viagem. Logo, eu vi. Ninguém me contou. Foi emocionante. A criatividade brasileira, na minha opinião, atingiu o ápice em matéria da tecnologia aplicada à arte...Será arte? Talvez seja, pois é tamanha a inovação usada na cobertura de estradas... É sensacional! A cada momento o inusitado acontece!
São pistas novas, mão dupla, recém- construídas e isso é o formidável. Sabe o que inventamos?
- O asfalto solúvel!
Não conhece? Explico,claro, de uma forma simplista porque  tecnicamente, não tenho competência para tanto. Vamos lá!
Trata-se de uma espécie de calda. Isso. Uma calda rala de asfalto, carinhosamente derramada, pulverizada, sobre uma colcha de pedras britadas. Entendeu? Agora o melhor: ela se dissolve com água.
 Você sabia que isso existe?
        Não?!
Pode sentir orgulho grande porque acabamos de inventar as “estradas movediças”! Uma surpresa!
- Uma hora tem... outra...não tem.
Não é incrível? Deixa qualquer Montanha Russa desmoralizada! Dirigir nestas estradas é pura adrenalina porque o trânsito incessante obriga o motorista a manter os nervos tensos e o cérebro numa excitação mórbida para enfrentar o inesperado. Para torná-las mais excitantes não há acostamento nem sinalização. O mato que margeia as pistas teima em querer atravessá-las. Não devia estar ali. Quando em vez, alguém irresponsável  atira um cigarro, ainda aceso, pela janela e incendeia  o capim ou a turma da manutenção ateia fogo para poupar esforço e, aí, a fumaça cria uma densa cortina impedindo a visão e o perigo se instala.A desorientação perturba todos os sentidos de quem dirige.
O movimento nessas estradas é dominado por enormes carretas de trinta metros de comprimento, lindas, muitas equipadas com tecnologia avançada,  espetaculares, carregadas com toneladas de soja, algodão, milho, madeira, etc. A produção agrícola do centro-oeste brasileiro transportando uma parte importante da economia do país e que segue rumo a portos distantes, bem distantes. Inconcebível não haver transporte ferroviário... mas isto é outra história.
        Como eu ia dizendo, estes veículos ziguezagueiam numa coreografia infernal por estas estradas movediças para evitar os buracos que se sucedem. Quando em vez, eles e vans e automóveis, todos os que percorrem essas vias são inevitavelmente  surpreendidos e tombam pelo caminho porque seus eixos se quebram ou pneus estouram ou no desvio para driblar as abissais crateras formadas, eles avançam no sentido  da mão oposta e se chocam, se incendeiam, se destroçam, não por direção perigosa, extrema  velocidade  ou condições péssimas de seus veículos e sim, pelo inesperado - os criminosos obstáculos imprevisíveis. Não, por imperícia e sim pela inacreditável invenção brasileira – a rala camada, a tal calda dissolve!
        Essas estradas não foram planejadas e pavimentadas para o fim a que também se destinam: transporte de cargas pesadas.
        Aqui, não são os motoristas - os bêbados. São as estradas que são bêbadas, drogadas porque elas se perdem no traçado e na construção. De repente, se desfazem. E são tão jovens! Lamento.
        Quando as autoridades são interpeladas sabem o que dizem?
        - É a chuva! A chuva acaba com as estradas!
        Viu? Elas são solúveis na água! Acredita?
Não sei, não! Como é que as estradas de outros países construídas há dezenas de anos aguentam tempestades, sol, neve e continuam como tapetes? Maravilhosas!
        Sabe o que eu penso? Acompanhe meu mísero raciocínio:
1 1 -  Se a estrada tiver sua construção sólida vai demorar anos a se realizar licitação fabulosa para sua manutenção. Humm? 
   2  - A calda de asfalto prova a competência das nefastas intenções da organização. Funciona.
   3 -   Não é de domínio público a responsabilidade da fiscalização e controle dessas obras. Não quero só responsabilizar órgãos. Quero nomes de quem levou vantagem pecuniária com o engodo. Quero sua “cabeça a prêmio”. Quero acompanhar sua fortuna. Quero perseguir seu caráter.
   4 -  Qual o custo real de manutenção?    
   5 -  Como a engenharia brasileira de estradas e pontes não se constrange com a desmoralização da sua competência? Como suporta?
   6 - Qual o montante destinado às estradas movediças?
   7 -  Ah! Quanto pagamos para erguer os viadutos gigantescos construídos aleatoriamente, monumentos “abobalhados”, coitados, perdidos em meio do nada. Um caminho de não sei onde, levando a lugar nenhum? Envelhecidos, já deteriorados. Monumentos  abortados, decadentes. São muitos. Imagina o prejuízo! Alguém ficou rico. Muito rico! Alguém não!Alguéns! Só rindo pra não chorar!
   8 -  Quais são as grandes empresas, de verdade, que camufladas sob outro apelido atuam nesta área?
Cinicamente.
   9 -   Como eu podia esquecer das pontes? Ah! As pontes... Imagina! Que pontes?
1 10 -   Qual a responsabilidade dos vereadores, prefeitos, governadores, ministros e presidentes nesta trama sinistra? Afinal, eles  são os funcionários que nos devem a qualidade do produto de seu trabalho e nós os pagamos regiamente por isso. Somos seus patrões.
 

Nota de Esclarecimento:
Para ser justa devo esclarecer que as estradas  movediças não são privilégio da Região Centro-Oeste. Elas estendem a doçura de sua rala calda asfáltica e a distribuição equânime de suas crateras também pela região norte e as demais.

Agora, sabe por que isso acontece?
Sabe por que morrem filhos, pais, mães, crianças, velhos? Sabe por que são mutiladas, cegas inutilizadas tantas pessoas?
       Porque a gente merece.