FILIGRANA
Ouço
o canto dos pássaros saudando a nova estação.
Uma
pausa de beleza indizível neste conturbado tempo de agonia, que parece sufocar
a Humanidade envolta por uma espécie de energia maléfica.
Às
vezes, ao ver o noticiário dos telejornais, sinto um torpor. A seguir, sou
tomada pela sensação de incredulidade. Sabe quando o cachorro olha fixamente
para você ou para algum ponto e torce um pouco a cabeça para um lado e para o
outro, tentando entender o que vê ou o que ouve? Pois bem, eu fico assimilando
o fato, dissecando a visão, tal qual. Procuro no som de cada palavra enunciada,
o sentido cru. Em cada fato, a intenção.
Desfilam
na tela colorida as mais trágicas notícias que se multiplicam, se dividem, se
fracionam na aritmética convulsiva das ações nefastas.
A
crueldade ganhou requintes de filigrana.
Penso
na sordidez dos gestos implícitos nos maniqueísmos de políticos vulgares.
Na
condução de grupos cabrestados por
administradores das vontades viciadas,
Desta
população, deste tecido social infame eclode a violência.
Como
tudo está invertido, vamos inverter a ordem:
-
Toda solução exige um problema.
A
solução, no caso, demanda tempo, mas é eficaz, contundente.
Toda
esta baderna foi gerada pela certeza da impunidade.
E
o que gera a impunidade?
O
comprometimento pessoal e político dos indivíduos que exercem o poder da
punição.
É
claro que não iremos perder a sanidade na busca de alguém perfeito, puro, um
sacrossanto ser. Não!
Não
sou idiota!
Sugiro
que sejam expurgados do Poder Judiciário os elementos, sabidamente de caráter
amalgamado à dubiedade. Isto feito, já seria a sinalização de que não valeria
mais a pena ousar, investir no insucesso.
Depois,
uma revisão e consequente recrudescimento das leis, no que concerne ao tempo de
duração dos processos e a provável degola dos recursos que promovem verdadeiras
aberrações.
Também
há que se reestruturar os objetivos da Educação. Se a Educação não favorece nem
à formação intelectual e técnica dos alunos, é até jocoso e chega às raias do deboche
pretender que conscientize cidadãos comprometidos com seu tempo, seu espaço,
sua comunidade, com o futuro.
Todas
estas avassaladoras notícias não nos deveriam sufocar, sequer nos constranger.
Elas são resultantes das nossas amorfas virtudes. Espelham nossa imagem no avesso.
Não
temos a solução? Que tal quebrar o espelho?
Zelia da Costa/NM
Nenhum comentário:
Postar um comentário