quinta-feira, 17 de abril de 2014

FILIGRANA



                              
                                    FILIGRANA

Ouço o canto dos pássaros saudando a nova estação.
Uma pausa de beleza indizível neste conturbado tempo de agonia, que parece sufocar a Humanidade envolta por uma espécie de energia maléfica.
Às vezes, ao ver o noticiário dos telejornais, sinto um torpor. A seguir, sou tomada pela sensação de incredulidade. Sabe quando o cachorro olha fixamente para você ou para algum ponto e torce um pouco a cabeça para um lado e para o outro, tentando entender o que vê ou o que ouve? Pois bem, eu fico assimilando o fato, dissecando a visão, tal qual. Procuro no som de cada palavra enunciada, o sentido cru. Em cada fato, a intenção.
Desfilam na tela colorida as mais trágicas notícias que se multiplicam, se dividem, se fracionam na aritmética convulsiva das ações nefastas.
A crueldade ganhou requintes de filigrana.
Penso na sordidez dos gestos implícitos nos maniqueísmos de políticos vulgares.
Na condução de grupos cabrestados por administradores das vontades viciadas,
Desta população, deste tecido social infame eclode a violência.
Como tudo está invertido, vamos inverter a ordem:
- Toda solução exige um problema.
A solução, no caso, demanda tempo, mas é eficaz, contundente.
Toda esta baderna foi gerada pela certeza da impunidade.
E o que gera a impunidade?
O comprometimento pessoal e político dos indivíduos que exercem o poder da punição.
É claro que não iremos perder a sanidade na busca de alguém perfeito, puro, um sacrossanto ser. Não!
Não sou idiota!
Sugiro que sejam expurgados do Poder Judiciário os elementos, sabidamente de caráter amalgamado à dubiedade. Isto feito, já seria a sinalização de que não valeria mais a pena ousar, investir no insucesso.
Depois, uma revisão e consequente recrudescimento das leis, no que concerne ao tempo de duração dos processos e a provável degola dos recursos que promovem verdadeiras aberrações.
Também há que se reestruturar os objetivos da Educação. Se a Educação não favorece nem à formação intelectual e técnica dos alunos, é até jocoso e chega às raias do deboche pretender que conscientize cidadãos comprometidos com seu tempo, seu espaço, sua comunidade, com o futuro.
Todas estas avassaladoras notícias não nos deveriam sufocar, sequer nos constranger. Elas são resultantes das nossas amorfas virtudes. Espelham nossa imagem no avesso.
Não temos a solução? Que tal quebrar o espelho?
                                                  Zelia da Costa/NM

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