sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

ANSIEDADE




         
           ANSIEDADE

É quase noite, esse dia

E não se esvai a agonia da notícia que não vem

Os sinos que ora soam

não dizem notícia boa, nem ruim

E a Lua, que se aproxima, tímida ilumina

um espaço em ruína, um sobrado de ninguém

Parece uma pintura, um quadro de pintor nobre

daqueles que pintam mais do que se vê

Eles sabem da alma das coisas

e gravam com suas cores, algo que está além

E as horas se sucedem, numa sequência infinda

Não tive notícia ainda, mas sei, ela vem

Que seja notícia boa e me faça rir à toa

desse tempo de ninguém

                                  Zelia da Costa/NM/MT

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

CANÇÃO DO EXÍLIO



  


  CANÇÃO DO EXÍLIO

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
             Gonçalves Dias

OH! GONÇALVES! QUE DIAS!




OH! GONÇALVES! QUE DIAS!

Minha Terra tem fronteiras

Onde passam contrabandos

Em bandos se vão divisas

Sangrando...

Minha Terra tem florestas

Em devastação!

Agigantam-se os grupos de animais

 Em extinção!

Minha terra tem ruas de meninos

E meninas nuas!

As metralhadoras de guerra...

Não cantam como em Minha Terra

Minha Terra tem corruptos: políticos e policiais

Minha Terra tem refém.

Minha Terra tem sem terra e terra sem ninguém

Minha Terra tem crack, heroína, maconha...

Minha Terra tem fome de vergonha!

Em cismar todas as noites

Ouço gritos nas galés

Minha Terra tem samba, carnaval

 E Pelés

Minha Terra tem flores e fatos

Cores e fitas

Cheiro de mato

Rendas e ratos

Verões e invernos

Tempos de Infernos

Templos, orações

Minha Terra tem Poetas

Q’uinda cantam o Sabiá

E enquanto eles viverem...

Minha Terra VIVERÁ!

                   Zelia da Costa/SP

CAIS



                  

                     CAIS

Não aportes neste cais perdido...
E desconfia desta calmaria...
Porque há ventos que sopram profanos
e  que rirão do turbilhão de enganos
e dos destroços de seres humanos
que boiarão nas vagas desmedidas!

        Não acredites neste cais seguro...
       Nesta miragem de conforto e paz...
      Ele flutua em um mar denso
e antes mesmo que previna o senso,
não terás tempo de te encontrar.

     Não creias nesta tentação errante
que ora estende seus braços amigos...

Há neste enlace recônditos perigos
que a bruma envolve num laço fatal!

Nem as correntes que te orientam
serão leais na tua rota infame
e tecerão os trágicos liames,
de uma serpente o seu anel brutal!

        Consulta os céus...
                          Olha o horizonte...

Ele é imenso e jamais se esconde.
     Se é aventura?
     - Pode ser real!
                         Zelia da Costa/RO

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

BALA PERDIDA



  

   BALA PERDIDA

Ei-la à janela!

Uma figura singela, presa a um fio de vida

Madrugada, noite e dia,, recebe de quem passa, a prece: “Ave Maria”!

Frágil! Impassível! Visão que transcende a alma!

Ninguém evita a via, nem nega a “Ave Maria”...

Não assusta, mas deprime, pois todos sabem 

que um crime cometeu sua desgraça!

Em respeito à agonia e ao horror à covardia...

Suspiram: “Ave Maria”!

Sua existência castiga a quem reclama da vida porque na vida porfia...

- “Ave Maria”! “Ave Maria”!

Qual rolo de fumaça, turva a vista que embaça

o som das “Aves Marias”!

Zelia da Costa/RO