domingo, 27 de dezembro de 2020

             IMPOSTA EXPOSIÇÃO

 

Guardou o que lhe restou, na memória de um verso

Arrumou a solidão em espaço transverso

E pôs sobre o tempo vago, destino incerto

Manipulando a sorte de jeito obscuro, reverso

 

Levou de infesta bagagem, algo de grande valia

Negando àquela imagem secreta - a Poesia

Que de raro escrutínio escapou com lucidez

Da sorte que, desvelada em poeira, se desfez

 

E o verso que buscava a imagem do real

Fez valer a Poesia dos retalhos conferidos

E um manto de fina obra exibiu sob destaque

A verdade estampada na galeria das artes! 

 

Assim, a Vida retrata aquele que se acovarda

E trata a desventura como castigo cruel 

Negando à experiência, visão que dilata

E faz da sorte inata, experiência leal.

 

Quando a ela se alia, a vitória exalta

A experiência vivida eleva a quem a retrata

E ora, em muitas vias, esta honra se exorta! 

Agora, tornado herói, o Poeta: 

- Abram-se as Portas!


Zelia da Costa/NL/Domingo/27/12/2020/9:59 

 G

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

TERROR À VISTA

                AH! A DOR!

A Dor atravessa desertos, fronteiras, florestas , oceanos

A Dor perfura, corrói, explode, pulveriza

A Dor escorre lágrimas, calcina corpos, explode em mágoas
 
A Dor domina os sentidos e cresce...
 
A Dor dilacera, destrói, deforma
 
A Dor odeia, não perdoa, não esquece
 
Ah! Dor cresce e quando cresce...
 
A Dor menina, a dor menino
 
A Dor não entendida!
 
A Dor ecoa, corre sem rumo, voa!
 
Ai, a Dor se expande e entoa
 
E a Dor da nova guerra, das crianças vítimas em outras eras...
 
A Dor embala a ira, a forra e chora!
 
E novas vítimas a Dor cria
 
E nesse revolver sem alegrias
 
A Dor eterniza nossa maldição!
 
Ucrânia! Às crianças da Ucrânia, eu peço perdão!

segunda-feira, 9 de novembro de 2020




    DE
                       SA 

            G                  GA
            R       
             E                   
    

                           ÇÃO
        DE  

                   GRE

                                    SA

GA          Ç
                  Ã
                      O

PERCALÇO


     PERCALÇO


Quinta-feira,30 de julho/2020

Causa consternação o ir e vir
Que ignora solução
E busca no que abstém
Recursos que se improvisam
Contidos num vai e vem
Do que se torna recluso
Quando a solução advém
No risco que se faz conciso
É hora de se crer no que está pra chegar
Pois, tudo na vida tem hora certa e lugar

sábado, 7 de novembro de 2020

 SUJEITO OCULTO(corrupto)

        

Num tempo ignaro...

Quando tudo se torna canhestro

A hora, o dia, o ano invento do ser humano

Se fazem inconcebíveis.

Num tempo de raro intento...

Nada se faz legal e tudo que se despreza

Ganha sólida imagem que afronta  o irreal

Na gama de tantas lentes, antigo tempo se irmana

Nas noites sem alegrias, vidas que de tão vazias

Se perdem na tolerância de quem cedeu a coragem

E, longe de qualquer verdade, desaparece na lama!

Zelia da Costa/ Nova Lima/MG/ 07/11/2020/22:30 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

                 SEM AÇÚCAR E... DE JOELHOS

          Mesmo que quisesse insistir na ideia de que tudo pode acontecer, não conseguiria.                                                                    Existem situações que escapam da normalidade e de   maneira tão ostensiva que, pelo fato de alguém não admitir o registro chocante da evidência, ainda assim, ela extrapola o bom senso de forma avassaladora. Refiro-me à inadmissível  seleção de candidatos à eleição  no "Rio" de Janeiro. Até cabe aqui, uma estúpida antítese -   "Choro" de Janeiro. E é pra chorar mesmo...                                                 Quando me  deparei com as fotografias dos seres que  se propõem governar o município e votar leis, pensei que só poderia  ser gozação, mas infelizmente,  não era.  A seleção imposta - os candidatos à prefeito e vereadores -  deveria trazer inscrito "PROCURA-SE" e a frase contendo a divulgação do prêmio, a quem os conduzisse ao local onde deveriam ser expostos à execração pública com reserva de espaços privilegiados para crianças e jovens aprenderem a não cair na mesma "arapuca" que seus pais e avós. Ocorre, porém, que os políticos são extraídos da população, quer dizer, eles tem uma espécie de código genético que lhes ratificam as semelhanças. Como diz o ditado popular"quem sai aos seus não degenera"! Logo, diante desta evidência hereditária, não há como refutar a verdade, considerando que candidatos tão promíscuos são, nada mais, nada menos que o caráter exposto do povo que habita a Ex-Cidade Maravilhosa!

    Um Morro, sem Açúcar e um Cristo... de Joelhos! 

     Sem cariocas! Chora Rio!

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

               HERANÇA

Essa energia que arruína

É a mesma que extermina

O inimigo que se faz herói

E embora se iluda com parca vitória 

Ele não conseguirá depor a glória

De quem é hoje parte da história 

E herdou,consciente, orgulho e memória!


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

                CAMPEÃ

Valeu aquela vontade de se fazer infinito

Como o grito que se evade no espaço a ser descrito

Como se força potente assumisse o destino

E se fizesse valer mais que precioso  sentido

Pudera valer-se da sorte de quem se fez companheira

E infiltra-se serena nas malhas que sorrateira'

Vencera como se fosse um ato comum de ser

Tomar para si e sempre a glória de só vencer!

 

domingo, 11 de outubro de 2020

                            UMA DOCE AVENTURA!

             Quando chegamos à escola havia um movimento inusitado... As crianças estavam sendo solicitadas para que entrassem com urgência nas salas de aula!

           Era uma situação incomum, pois as turmas formavam no pátio e só depois de cantar o Hino Nacional, durante o  "hastear" da Bandeira Brasileira é que se dirigiam "em forma"às salas de aula. (Engraçado, né? Hoje poucos sabem o que significa "hastear"). Era parte da formação da cidadania, a disciplina, naturalmente exortada. Havia até uma espécie de competição entre os professores que queriam exibir, com orgulho, a turma mais organizada e rápida neste conceito.

         - Indaguei, aflita, à dona Maria, qual a razão para tanta pressa!

         - Óia pra cima, fia... Ali, debaixo daquele pedaço de teiado...  Óia o que elas tão aprontando... Oia, as abeias! Oia só a quantidade!  É que elas ainda tão se ajuntando naquele lugá...  Tem que deixá elas quetas, proque se arguma criança dessa fizé a gracinha de impricá com o enxami...   Num vai tê pronde corrê...  Elas tão procurando lugá pra i...  Si deixá elas queta...  Elas vão imbora, sem incomodá, mas...sabe como é criança... A gente tá aqui enxotando eles pra drento, antes que aconteça a disgraça... 

          Olhei para o local que ela apontava... Debaixo do beiral das telhas havia uma espécie de mancha volumosa na parede que se movia de maneira assustadora, indo e vindo, em voos curtos e que zunia  ameaçadoramente!

       - O que se pode fazer? Perguntei ansiosa!...

       - Nada! 

       - Agora, é botá todo mundo pra drentu e esperá elas encontrá lugá pra i...

       - E quanto tempo leva isso?

       - Só Deus sabe! Vamu botá tudo pra drentru e vê si elas vão simbora logo, porque elas só vão saí quando acharem pousada...                  

        Aí, se ninguém incomodá... Elas vão em paz!

        Seu Inacinho, aquele motorista de táxi que nos conduzia à escola e que se tornou uma espécie de protetor, ouviu a conversa:

       - Olha, isto é perigoso porque se algum guri desses fizer a gracinha de jogar pedra ou enxotar de alguma forma...  Elas reagem todas ao mesmo tempo, atacam e não vai ter  jeito de se livrar...

      - Gente! O que vamos fazer?

      Olha, disse "seu"Inacinho, eu conheço um velho apicultor... Ele é bom nisso! Vou ver se trago ele até aqui pra ajudar a gente!Isso, se eu conseguir achar... Não vejo ele há muito...

        E concluindo...

      - Bem, agora a solução é "segurar a garotada" pra não haver consequência grave! Certo? 

      - Vamos esperar notícias, seu Inacinho!... Acha "nosso salvador" antes de algum transtorno  perverso...                 Vai com Deus! Obrigada pela boa vontade de sempre!

       Só dia seguinte, "seu Inacinho"chegou com nosso "salvador", um velho simpático e de voz doce que "examinou" o enxame e declarou:

       - Gente! Que beleza! Há muito não vejo um enxame desse tamanho! São as chamadas " européias". Isso é uma maravilha, uma dádiva da Natureza! Só, que eu não tenho mais "pernas"pra subir em escada e não posso tirar elas de lá! Sabe... A idade vai chegando...

       - O senhor conhece alguém que faça isso?

       - Xiiii!... Aqui na região, a senhora num vai encontrar!

       - E o que é que a gente faz, meu Deus? 

       - Olha, professora, eu vou tentar...Mas, acho quase impossível! O povo ignorante põe fogo nos enxames que se abrigam no mato! Tudo estúpido!Ninguém se interessa por esses bichinhos mais! Vou fazer o que puder...

         Bem! A sorte estava lançada!  

         Súbito, uma criança sugeriu por fogo num pano e enxotar as abelhas com a fumaça... Era uma das reações usadas!

        Respondi-lhe que isto era um crime, não uma solução!

        Estava  na minha casa, quando me ocorreu a ideia de telefonar para a Secretaria de Educação  e tentar alguma "saída". E assim o fiz. Depois de explicar a razão à funcionária atendente, fui informada, sob certo tom de ironia na sua voz, de que o lugar indicado para a provável solução seria a Secretaria de Agricultura, o órgão a quem caberia a função de resolver esse tipo incomum de problema.

         Não insisti e resolvi apelar para a Secretaria apontada.

         Bem, esta outra repartição informou que "em sendo o problema ocorrido nas dependências de uma escola", a solução era de responsabilidade da Secretaria de Educação.

         Diante do jogo de "empurra"senti que a competência não cabia a ninguém, mas a incompetência tinha "dono"...

         Agora, era uma questão de honra e eu estava disposta a resolver "esta parada"!

        Liguei para Brasília! Pode crer!Liguei!

        Ministério da Agricultura! Onde?

       - Direto: Gabinete do Ministro!

       Fui atendida por uma simpática e paciente senhora:

       - Por favor, gostaria de falar com o Ministro!

       - Posso saber o nome de quem fala e o assunto a ser tratado?

       - Sim, claro! Disse-lhe meu nome completo e de onde ligava.

        - Por favor, pode adiantar o assunto?

        - Claro!

        E comecei a narrar a aventura que, até ali, se desenhava como desventura e terminei assim:

        - Será que nem o Ministro da Agricultura conhece, nesse país, um apicultor que possa recolher o enxame que se instalou na parede da minha escola? Quero ensinar minhas crianças a importância das abelhas na reprodução das espécies vegetais e consequências benéficas para sobrevivência  humana!  Quero que elas observem a sociedade que elas desenvolveram... A importância da cera por elas produzida e o mel e seu insubstituível valor natural e saudável... Quero aprender a lidar com as abelhas e começar um trabalho de apicultura na escola... Sei que é possível e vou fazer!

       - Ela me interrompeu!

       - Liga para mim, daqui a uma hora, Professora!Não deixa de ligar... Daqui a uma hora, certo?

       - Certo! Com certeza!Acredite!

         Será que era verdade? Aquela senhora parecia ter, realmente, se interessado... Será que me atenderia de novo, de verdade?

          Hummm! Agora "uma hora"parecia uma eternidade!

         Pronto! Chegou a hora!Tornei a ligar!E não é que a senhorinha me aguardava...

          - Alô! Ah! Que bom!A jovem Professora Zelia! Anote o nome e local. Você vai telefonar para este número e falar com esse senhor! Ele é Professor na Escola Rural do Rio de Janeiro e Professor Orientador do Projeto  Apicultura que lá acontece. Já contatei ele, que se pôs a sua disposição e irá providenciar o recolher do enxame e instruir sobre os cuidados e a cultura das abelhas. Isso é possível, sim!Ele vai orientar e acompanhar seu trabalho! Por favor, nos mantenha informados quanto ao andamento desse seu projeto lindo!

         Agradeci, quase chorando... Ela também estava comovida!

          - Eu estava em êxtase! Ninguém acreditaria no que aconteceu! Nem eu! Ria sozinha da minha "maluquice". Afinal, fora audácia ou desespero? Ah! Importa é que o resultado foi positivo!

            Neste mesmo dia, fui surpreendida pelo amigo de seu Inacinho, o velho apicultor, "seu Galdino"que nos presenteou, com uma linda caixa de madeira - peroba rosa - feita por ele com carinho e destinada à apicultura a ser introduzida como  inusitada atividade na Escola Franklin Távora. A caixa era para "abrigar" a colmeia nos domínios do quintal da escola. Uma peça produzida com amor e arte, um produto  de rara qualidade. Uma joia - como as abelhas!

Zelia da Costa/Nova Lima/MG/11/10/2020/17:17


   

 

 

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

                      ÁGUA MOLE... EM PEDRA DURA...

          - Tava doida pra senhora chegar!

          Num dá mais pra bebê, nem cuzinhá com essa água daqui! Vige! 

          Oia só! A água tá embaçada e fedendo! Num dá nem pra moiá a horta! Nem sei si vai servi pra lavá os banheiro! Tá uma fedentina...

          - Que aconteceu, dona Maria?

           - Sei lá?! Sei não! Só sei que num dá mais!... Tou disisperada!

             Eu fui então, até o bebedouro das crianças e o copo que enchi estava turvo, com forte odor putrefato!  

           - Será que tem algum bicho morto no poço?

           - Não! Num tem! Já pidi ao Juju pra espiá... Ele jogô a caçamba várias vez...E nada... mas a "murrinha" no poço é forti!Que será? 

 (Juju era seu filho e funcionário da mesma escola)

        - Bem, dona Maria, a solução é comunicar ao Distrito Educacional e ver se a gente consegue um pouco de água aqui, nesta granja vizinha, só pra fazer a merenda e as crianças beberem... Certamente, eles não negarão!É só até a gente resolver!É uma emergência!

          - Gente do céu... Tou preocupada... Quanto tempo vai durar esta afrição?

         - Calma, dona Maria! Já, já vamos resolver isso!

          No mesmo dia, fui ao Distrito Educacional. órgão responsável pelas Escolas da região de Sepetiba e Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Sepetiba é região litorânea, enquanto Santa Cruz, a zona rural.

          Narrei o ocorrido e fui informada pelo Chefe de Distrito que a gravidade da situação impunha ser comunicada por Ofício dirigido a ele, que o encaminharia ao Administrador Regional, uma espécie de "prefeitinho", o chefe político da Região. Nesta época, o Rio de Janeiro era dividido em Administrações Regionais, um arremedo de "pequenas prefeituras".

         Aguardei por três dias a solução. Nossa situação era dramática.A água cedida pela Granja do Sagrado Coração era trazida em baldes e panelas numa "via crucis" sob o sol ardente de um verão à temperatura acima de 40 graus à sombra. Para aliviar o martírio de Juju, o filho da Dona Maria que era nosso servente,  Seu Inacinho, o taxista que o estado alugava para conduzir as professoras da Estação Ferroviária de Santa Cruz até a escola, penalizado com a dramaticidade da situação, gratuitamente, reservou um horário de seu dia de trabalho para nos atender e conduzia, generoso o dedicado Juju, nesta dolorosa empreitada, um triste arremedo da "via crucis" no transporte de baldes e tonéis e panelas contendo o precioso líquido.

        Fiz outro ofício, mais outro, outro mais... Nada! Resolvi, então mandar um por dia. Foi um escândalo!Enfim, eu os atingi! Fui chamada ao Distrito Educacional!

       - Professora, a senhora não pode mandar um ofício por dia! A senhora devia saber que deve aguardar o andamento do processo!

       Embora ele estivesse irritado, tentava falar com calma e num tom conciliador, deixando claro minha incompetência em lidar com procedimentos burocráticos legais:

       - Veja! A senhora manda o ofício e nós encaminhamos à Administração Regional. Isso já foi feito!

       - E aí, professor Darcy?... Quanto tempo o senhor acredita que a solução demora?

      - Bem, agora temos que aguardar o memorando do Administrador Regional informando que providências cabem!

       - Ah! Enquanto isso, eu escravizo o coitado do faxineiro... Fico devendo favor ao motorista de táxi e, humildemente, rogo aos donos da Granja que me cedem, por caridade, a água que eles pagam ao governo... É isso? Ou então, eu finjo que está tudo bem e contamino as crianças, sei lá com o quê?...É isso?....Está bem, assim?

        Foi uma cena caótica! Eu apoplética! Ele em choque!

        - Professora, serviço público funciona assim... 

         Aguarde, por favor, as providências. Vou ligar hoje para o administrador e ver "em que pé estão as coisas".

       - Tudo bem. Não vou mandar mais ofício... Usei o "ofício" porque conheço a inutilidade dos trâmites legais. Queria incomodar a inércia oficial! Queria provar que a urgência, não tem tempo pra esperar. Obrigada!

         Dia seguinte, de repente, ouvi um tumulto e vejo Juju gritando à beira do poço:

       - Donaaaaa Zeliaaaaa! Corre aqui!!!

       Corri para o quintal. Junto à beira do poço, Juju sustinha numa vareta.......uma cobra que acabara de ser, por ele, recolhida nas águas do poço.

      - Veio no balde!

      - Coitadinha!... Exclamei, penalizada!

      - Coitadinhos de nós!  Quase que bebemos água daí! Ela está morta agora, mas parecia meio mole quando a "pesquei"... Pelo visto, essa água fez a cobra adoecer... Essa água fede! Está podre!Como é que pode?

      - Juju, por favor, põe ela num vidro com esta água daí! Vou até a Administração... Vou mostrar isso a eles...Quem sabe, não aceleram a solução... 

   Antes de entrar no prédio da Administração Regional, fui interrompida por um funcionário que, muito simpático. me perguntou a razão da visita:

    - Olha, pra ser mais suscinta, vou lhe dizer que quero falar, pessoalmente, com o Administrador Regional.  Minha escola está cheia de problemas que já foram, oficialmente informados, porém o que me trouxe aqui requer solução urgente. Dá pra ele me atender?

    O rapaz demorou um pouco e pude perceber o movimento nervoso no prédio. Uma espécie de "vai e vem" aflito. Curiosa, perguntei a razão e fui esclarecida da visita do governador que viria inaugurar, dentro de alguns dias, a "remodelação" da Praça dos Jesuítas, um ponto histórico a ser preservado.

     Para se livrar de minha incômoda presença fui, rapidamente, liberada ao encontro com o administrador e ele foi logo me informando:

     - Estamos bastante agitados e ocupados professora. Já sei o que deseja e quero lhe informar que agora vamos receber o governador Carlos Lacerda e depois trataremos do "seu assunto".

    - Ah! Que bom! O senhor já sabe do "meu" assunto e eu fiquei sabendo agora do "seu"... O governador vem aqui, né? Está vendo esse vidro? Esse copo é seu? Com licença!Quero que o senhor "prove"essa água! Esta água é do poço da minha escola e olha aqui a garrafa, tem até uma cobrinha dentro. Foi "colhida"no poço pelo servente: 

   - Bebe... Ah! bebe vai... É uma rara iguaria que devo servir às crianças!

   -  A senhora está brincando...

   -Ué? Se é bom pra eles... 

     Ele estava meio atordoado e aproveitei:

   -  O Senhor disse que o governador vem aí semana que vem... A estrada passa perto da minha escola.Vou recebê-lo com as crianças e vamos interromper o caminho... A gente leva a Bandeira... Ele vai achar que é homenagem...Vou levar a garrafinha e um copo...

     Ele estava pasmo!

    - Sinto ser uma ideia brilhante! Obrigada e desculpe interromper seu trabalho!

      Saí intempestivamente... Eu sabia que o tinha atingido e que ele estava surpreso e chocado! Toimmmm!Agora doía nele! Era quase uma forra pelo pouco caso... 

              Dia seguinte, quando cheguei à escola, levei um susto com a gigantesca máquina perfuradora "ferindo" a terra na construção de um poço!      

            As aulas foram interrompidas!                    

             Pedreiros corrigindo o chão do refeitório que fora esburacado há tempos e pintores me indagando, se queria todas as salas de aula com a mesma tonalidade ou preferia que cada uma delas tivesse a cor que combinasse com a das carteiras velhas que nós, as professoras, havíamos pintado, durante as férias, para dar mais alegria aos ambientes e surpreender as crianças no retorno às aulas, com a novidade!... Bem, os móveis ficaram lindos, mas essa despesa para espanto de todos, já fora por nós assumida, apesar dos parcos salários!

         Agora, a escola ganhou sala azul celeste, verde- limão, um suave cor de rosa e um doce laranja. 

           O prédio ficou lindo!

          A escola ficou nova! Uma festa!

      Linda e rapidamente corrigidos os detalhes negativos!

     Como esperávamos, as crianças enlouqueceram!

     O engenheiro responsável pelo evento me informou que as raízes da Mangueira, árvore frondosa que "sombreava" o quintal, tinham criado um canal de comunicação subterrâneo, com suas raízes, entre o esgoto dos banheiros e o poço. Por isso a água fedia! Estava altamente contaminada!

    Que bom! Agora, com o problema detectado, o mal estava sanado e definitivamente resolvido com a construção do  poço artesiano.

     Um POÇO ARTESIANO! 

    Água limpa e permanente! 

    Espera! Não sei de que espécie era a Cobra  responsável pelo milagre?!!!...

    Que tal lhe dar um nome? Ela merece este carinho, não concorda?

     Sabia! Zelia, né?

  

                                      Zelia da Costa/Nova Lima/MG//09/10/2020/16:20

   


      


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

           ANJOS INESQUECÍVEIS...

                             ... ME GUARDAM!

        Estava com muita pressa, mas precisava comprar umas flores e resolvi ir até certa loja solucionar logo este assunto.Ao entrar, fui acolhida, de imediato, por uma solícita e sorridente funcionária que, queria saber qual produto eu buscava porque ali, além das flores, eram vendidos artigos para presentes de refinado bom gosto. Ela já me atendera em outras ocasiões, então esclareci o meu interesse por um arranjo colorido que me encantou. Ansiosa, insistiu em me conduzir a um canto fazendo sinais que, só depois, entendi a razão.

       Discretamente, apontou um balcão onde estavam uma jovem mãe e seu filho.Logo os reconheci por ser a criança, aluno de minha Pré-Escola, o Pinguinho de Gente.           

      A vendedora estava aflita, pois a dupla queria comprar um presente, exatamente para mim, porque logo seria comemorado o "Dia do Mestre"! 

         Ocorre, que a mãe escolhera um lindo vaso, que entusiasmara a jovem que me atendia pelo preço exorbitante que custava, o que lhe renderia "bela comissão". Porém, contrariando seus interesses, a criança insistia  noutra opção.

              - Ele não aceita a sugestão da mãe de jeito nenhum... Diz que já escolheu  o que quer lhe dar, apesar de a mãe não concordar com a opção preferida por ele... 

      -  O menino é determinado!Ufa!

       Já estou "sentindo" que  ela vai acabar sendo convencida por ele...         

             - Êta!Garotinho difícil!

            - E você sabe o que ele quer?...

           - Ele diz que tem certeza que a senhora vai gostar. Acontece é que o valor do objeto escolhido por ele... Não chega nem "perto" deste, que a mãe deseja... A jarra é uma peça elegante. É linda! Coisa fina, de valor! Caríssima..." Apesar do preço, a mãe está disposta a comprar!A senhora quer dar "uma olhada"? Tenho certeza que ele, vendo a senhora assim... Espiando e gostando, encantada... 

         Aí... Ele desiste da ideia dele! Porque o objeto que o garoto quer, está onde ficam as coisas mais "baratinhas."!

         Entendi. (Ela queria uma cúmplice para solução do "seu" interesse).

            -Agora, você me deixou curiosa!              Vou embora. Tenho compromisso urgente!

          Lógico que a moça ficou decepcionada, mas não gostei do seu "recurso pouco conveniente", usando a ingenuidade de quem estava atendendo à própria nobreza de sentimento.                

      Paguei minhas flores e parti, sem que os dois me vissem e ante a decepção dela, expressa no falso sorriso que me perseguiu  até à saída da loja.

            Bem...Chegou o "Dia dos Mestres"!

            Entre cantos e danças e versos e engasgos e suspiros e abraços e beijos e lágrimas e risos... 

           Eis que ele para na minha frente com um inesquecível sorriso! 

           Depois de um longo e carinhoso abraço, entregou-me um objeto - uma pequena caixa embrulhada num papel prateado e colorido por sinos alegremente dispersos! Desembrulhei, num lento ritual de emoção... 

          - Mamãe queria outro presente, mas eu escolhi este! 

         Era um Anjo! 

        Vestido numa etérea túnica azul celeste, ele tocava docemente seu instrumento!!!

        - É pra você nunca me esquecer! Você gostou, tia?

          Balancei a cabeça, afirmativamente, pois não conseguia falar!

       Este Anjo imantado, a quem chamei Gabriel, por ser dele o presente, num doce voo, tocando sua lira encantada, está na porta da minha geladeira... 

      Ele, meu Gabriel, ainda me guarda!

Zelia da Costa/Nova Lima/MG/05/10/2020/17:00


 

sábado, 3 de outubro de 2020

 TANTO HORROR PERANTE OS CÉUS!

A flor sorriu...

E a Natureza a baniu por julgar fora de hora!

O pássaro cantou...

E o vento sufocou a canção sonora!

A cascata que jorrava

Sentiu que desnorteadas, suas águas se perdiam

E a brisa que soprava obedeceu a ordem 

E foi embora vadia...

As árvores silenciaram e assustadas calaram 

o sussurrar que emitiam

E as nuvens que brincavam de esculturas no espaço

Partiram em agonia...

Os animais que pastavam, rápido se ocultaram...

Sem saber o que temiam!

Logo, surgiu o homem com sua tocha infame...

E fez arder a Poesia!

Zelia da Costa/Nova Lima/MG/16:15

terça-feira, 29 de setembro de 2020

                   ORIGEM

Quisera não ver a fonte jorrar atrocidades

Nos eventos que  permeiam as mais perversas maldades

Enquanto o tempo escasseia, os ventos demolem pedras

Como se fossem  mensagens de atroz  quimera

Se valessem desejos e as coragens vãs

Talvez, se fizessem em tempo  como preces de perdão

Gestos de caridade e a vontade terçã!

Zelia da Costa/ Nova Lima/MG/19:25`

sábado, 26 de setembro de 2020

 

                  DESTARTE

Um desenho, polígono da existência

Trava em suas linhas toda a subserviência

Que a humana gente com traços inacabados

Faz prever a solidão do espectro conquistado

A busca da solução, abandona a primazia

Que faz deste desenho sonora alegoria

Que devolve a cada fato, o ato desatinado

Que dá ao Universo modelo de novo contrato

Faça da vida colorida um desenho exibido

E não duvide da honra que lhe foi conferida!

Zelia da Costa/Nova Lima/MG/13:00



quinta-feira, 24 de setembro de 2020

          
                    CONEXÃO

Há um tempo futuro, nesse passado presente
Como se algo escuro precedesse o finalmente
E o som inusitado emitido a uma só voz
Ecoa no horizonte lá, bem distante, longe nós
Há uma inversão de sentido num rumo desconhecido
Como se o início do fim marcasse novo princípio
E um oceano rasgasse em seca passagem
Um novo destino isento de qualquer finalidade
O caos se organiza e instala sem proeza
Uma visão que eclode numa fusão de incertezas
E toda definição que em fatos registrara
Perde-se  na valência que ora desencantara
E o presente instável ganha a tonalidade
De quem se acredita capaz de construir a verdade!
 
Zelia da Costa/Nova Lima/MG
24/09/2020/Quinta-feira/19:10

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

   FANTÁSTICO! 

              EXTRAORDINÁRIO

                                    OU EXTRA  ORDINÁRIO?

           O vocábulo "fantástico"sempre foi usado para descrever a extensão de algo surpreendente, via de regra, um acontecimento feliz, carregado de emoção positiva. Ocorre, que no momento, eu o tomo para dimensionar o que estamos "ora vivendo" - um catastrófico episódio - que não  permite qualquer solução que nos torne alheios, distantes, insensíveis.

             Tateando pela História na busca de eventos ocorridos no seu transcurso que possam se assemelhar a este episódio trágico, percebi que, de tempos em tempos, o ser humano é atingido por calamidades similares a esta, que ora nos aflige.

           Lá atrás, bem lá atrás, os EGÍPCIOS passaram por experiências desastrosas resultantes, segundo os arqueólogos, da forma equivocada  e irresponsável, empregada no  desvio ou bloqueios de cursos de rios, no uso indevido da água para incremento da agricultura, construções de pirâmides e habitações e abertura de inúmeros canais que modificaram o sistema natural, provocando extensos períodos de secas que resultaram na evolução de ataques maciços de insetos que difundiram as pragas e fizeram eclodir as PESTES! 

          Ah! As PESTES dizimaram boa parte da população egípcia e deixaram irrefutáveis registros nas cavernas do deserto e nas escavações, que ora pesquisadas, trouxeram à luz, provas pesarosas e irrefutáveis de sua evidência.

          Os GREGOS, ocupados com invasões, ataques, combates e ocupações também viveram o desespero das PESTES alimentadas pelos vínculos criados com populações exógenas, submetidas à força de suas armas, mas que infestaram os guerreiros dominadores.No seu retorno à Grécia, eles infestaram seu próprio povo com PESTES,  males de desconhecidas origens.

        Os ROMANOS ávidos por glória e riquezas e aventuras e expansão territorial dos seus domínios, também viveram o inferno das mazelas difundidas pelas suas "falanges," que traziam das terras conquistadas, as PESTES que dizimaram na época, boa parte da população, abatida pelas febres e outros estranhos sintomas fatais.

         As Américas não ficaram isentas quando os espanhóis invadiram e submeteram as CIVILIZAÇÕES INCA e MAIA. Os "gentios" escravizados pelas forças dominantes foram também quase dizimados, não só pelo uso da violência dos conquistadores, gerada pela desmedida ganância, combustível da incontrolável ambição por riquezas, mas também pelas Febres e Feridas e Vícios que os "civilizados" europeus trouxeram na "bagagem", PESTES!

        Em contrapartida, os "navegantes"foram veículos para as terras do "Velho Mundo"para doenças nativas oriundas dos povos submetidos à sua sanha inglória que os infestaram com males desconhecidos.

         Bem, onde quero chegar?

         Nada mudou! 

        Agora, numa dimensão global, pagamos o preço do compromisso de manutenção da disputa do Poder Econômico entre Nações, tomados pela mesma ganância e suprema vaidade irresponsáveis de seus gestores. Vale tudo, como sempre! Hodiernamente, os "guerreiros"  se travestem de parceiros, protetores, sócios e até amigos. Na verdade, apenas buscam manter a supremacia que - historicamente - exerceram,  sem  preocupação com as mazelas que advém do exercício irresponsável do Poder. A busca inconteste por ascensão tem dimensão "Universal" e não admite acordos que interfiram na ambição dos potentados que usam da política e dos poderes bélico e econômico para disputarem no mesmo plano, o domínio.    

        Enquanto isso, como os egípcios, na ânsia irresistível de explorar riquezas, abrimos de forma irresponsável canais, aterramos pântanos, obstruímos rios, inutilizamos nascentes, desertificamos florestas.                                                                                                                                         Para"matar a sede" de petróleo, perfuramos poços nos continentes e oceanos, sem nos preocuparmos com os transtornos que advirão - prejuízos incalculáveis para a fauna marinha e flora submersas. Um processo nocivo em  expansão nas profundezas.Tornamos as correntes oceânicas depósitos de lixo e receptáculo de densos e nocivos esgotos.

        Como "senhores" do ambiente natural, mudamos cursos e assoreamos  rios, soterramos nascentes, fazemos arder florestas, dizimamos a fauna, perfuramos poços, secamos pântanos, envenenamos as águas à cata de minério e transtornamos a Natureza.

       Como experimento, países detonam armas nucleares. Tem ideia da nocividade do material tóxico lançado na atmosfera, sem que haja qualquer reação contrária a esse crime? No entanto, esse crime nefasto é cometido pelas grandes potências que ousam apontar para nós a autoria da catástrofe que gerenciam com rara competência!                  

       Os Oceanos envenenados condenam à extinção de forma irrecuperável fauna e flora. Os detritos navegam sem destino mergulham fazendo do solo submerso, uma estrutura perversa - maldição  da vida marinha - que envenenada,  nos devolverá o impacto... com igual  desprezo pela Saúde Humana.

     Os Rios cerceados são subjugados por usinas necessárias, úteis, mas impostas pela  urgência egoísta de colossais estruturas que não valorizam a sobrevivência do em torno e tratam a tudo e todos com a superioridade das injustas potestades.

     A Atmosfera poluída aquece e as geleiras evoluem para o degelo. Os Oceanos hão de transbordar. Vírus, bactérias, fungos congelados, armazenados neste universo frígido há milênios, desconhecidos da hodierna Ciência Humana despertarão do seu sono quase eterno e flutuarão por mares, livres e misteriosamente atuantes.

     Ocorre, que o Planeta Terra é um "Ser Vivo". 

     A Terra respira, pulsa, se transtorna, transforma e reage. Há formas intestinas de  expelir o que lhe incomoda as vísceras.

      Creio que ela, historicamente, repele o que lhe causa repulsa!

       Pragas, pestes... São reações mortais  e perversamente inseridas no destino humano!

       Estamos vivendo um momento que nos exige mudança de postura!            

       O"corona virus" é um alerta:

    - Ou mudamos nossas relações com este Planeta!

    - Ou seremos tratados como "inimigos" a serem extintos!

       A TERRA precisa CONFIAR em nós...

                  Zelia da Costa/Nova Lima/18/09/2020/22:19

   

 

      



 


 

 

 


terça-feira, 25 de agosto de 2020

CACOS




                            

                                          CACOS

Porque há pedras... É que vale a pena

São elas pelo caminho que fazem tua alma grande ou pequena

Se pedras há... Porque não se deter a olhar

Por que a angústia de saltar

Por que a pressa de transpor

Por que não as considerar um monumento 

e fazer do contratempo um evento a teu dispor

Por que não conter o desespero 

se a graça do caminho está no desafio

de pedra em pedra construir teu lugar

 - um castelo pra te abrigar -

Sim, pedras há!

Mas há quem as transforme em cacos

e os use pra brincar!

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

                          TODO CAMINHO TEM COR
        
        A turma era de Alunos do Curso  Supletivo do Estado do Rio de Janeiro! 

       Morro do Vidigal!

       Trinta e seis alunos.

Quanto à faixa etária atendida naquele grupo de Fase IV, se limitava entre o mais jovem aluno que tinha dezesseis anos, ao mais velho, quase setenta. 

         A escola ficava no alto do Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. O grupo seria atendido no período das dezenove horas até às vinte e duas horas. A arquitetura do prédio da escola obedecia ao projeto criado pelo notável Oscar Niemayer que residia  e trabalhava, ali bem próximo, na mansão/escritório exibidos no alto do penhasco, frente ao mar.
           O prédio da escola Almirante Tamandaré era amplo e majestoso, com salas confortáveis, arejadas e bem iluminadas. Havia um largo pátio no andar térreo que servia de refeitório para as crianças do Ensino Fundamental  e, que para o Supletivo, funcionava como um espaço confortável, nos permitindo  observar sem risco, as belíssimas noites de Lua que nos seduziam ao exibirem o cintilar das ondas e o iluminar das explosões de espumas que coroavam um litoral invejável.
         O cheiro da maresia era um bálsamo, como promessa do encanto.
         Eu estava ansiosa por conhecer minha turma. 

        Agora, ali, diante deles, percebia uma "estranheza", um indisfarçável comportamento que sinalizava certa decepção e logo identifiquei a causa - eu era também professora de crianças e eles temiam ser tratados como tal!
         Todos trabalhavam o dia inteiro. Chegavam exaustos e muitos vinham direto para a escola. Assim, resolvi que antes de subirmos pela rampa para a sala de aula, ficaríamos alguns minutos, sentados em silêncio, olhando a paisagem reconfortante. Eles aceitaram passar por esta experiência que buscava o conforto de um tempo para relaxar das tensões impostas pelo dia exaustivo.
           Na primeira semana, pedi que descrevessem os caminhos que percorriam durante o dia. Alguns "arriscaram" frases, timidamente. Outros, negaram participação. Comecei então a aula, aplicando o conteúdo programático árido, exigido para a série. 

         Entreguei, no dia seguinte, no início da aula, uma folha em branco e uma caixa de lápis de cor para cada um e lhes pedi que usassem a tonalidade predominante, observada durante o dia no caminho que cada um percorreu. 

       As reações não surpreenderam. 

       Sabia que haveria rejeições e já me preparara para o "revide".
          Um jovem ergueu a voz, declarando não ser criança para fazer desenhos. Outro, perguntou se eu sabia estar num "curso"frequentado por adultos. A reação negativa foi geral.
         Olhando-os, sem surpresa, comecei:
         - Não lhes pedi para desenhar qualquer figura. Não propus uma "experiência artística". Apenas, solicitei que usassem sobre a folha em branco, a cor predominante ou mais agradável, ou ainda, a considerada mais atraente ou até aquela rejeitada por ser de mau gosto ou agressiva aos sentidos. 

      Não pedi Arte!

     Pedi... Atenta observação... 

     Não foi um pedido pueril, atividade para crianças.  Não!        Não lamento a reação de vocês, até porque ela veio confirmar minha suspeita!
         Coloquei as folhas e as caixas de lápis de cor à disposição porque queria medir a percepção de todos para a vida, para o mundo a sua volta.Para a "leitura da existência ao seu redor.O cansaço, os compromissos, a rigidez dos horários, a exaustão "embotam" nossa sensibilidade e impedem a simples observação do mundo ao redor. Infelizmente constato que vocês estão incapacitados para "ler" o cenário em que transitam e desempenham a vida em"preto e branco"como filmes antigos.
         O touro também não vê cor! 

Ele ataca agressivo, irritado pelo movimento  que o toureiro executa com a capa para provocar sua ira. Ele é um animal incapaz de discriminar cores.Não tem escolhas!

        Ferido, covardemente, a Dor o leva ao ataque, mas a cor da capa só excita  a morbidez da plateia!
        Podemos "ser diferentes"?
        A vida pode oferecer diversos cenários, mas precisam ser observados e a acuidade exigida depende da leitura de quem seleciona! Vocês caminham para o trabalho, excitados pela tensão. Importa chegar! O "mundo" a sua volta perde o sentido e a Vida fica sem expressão.
        Dia seguinte, distribui o material, novamente. Agora sorrindo, eles coloriram e argumentavam;
       - Valeu, professora! Muito colorido nossos caminhos! Gostei!
       - E não é, que tem um prédio roxo do lado do meu trabalho?...
         É! Assim como os cenários... A vida tem difusos matizes!Eu venci!
        Não provoquei a ira e fiz deles atores  integrantes de um cenário vivo, rico em cores e confidente !
        Foi o início de outras vitórias!
        São "coloridos" até hoje! Tenho certeza!

        Eu também! 

          Zelia da Costa/Nova Lima/25/08/2020/21:43
        
         

LEITURA NÃO SE APRENDE NA ESCOLA


   LEITURA NÃO SE APRENDE NA ESCOLA
          
Creio que, seja lá qual for a metodologia aplicada, a competência para ser alfabetizado ocorre naturalmente, quando o indivíduo de qualquer tempo de existência vivida se torna curioso por adicionar novo código a sua solitária “capacidade para leitura ambiente”!
   
  Todo mundo chega aos bancos escolares com “sua leitura”. Visão pessoal e intransferível - memória agregada e seletiva, nem sempre saudável.

  Ler é muito mais que decodificar um texto escrito. Ler é ser capaz de discriminar detalhes físicos e emocionais do cenário em que se está inserido. Um pacto de convivência humana com a realidade que nos cerca.

 Quando se domina a natureza da compreensão do cenário e seus atores e a necessidade deste raciocínio quase lúdico, porém dramático, aí, ocorre a tradução do que consiste “LEITURA”. Tudo passa a perder razão simbólica para ganhar a solidez da verdade EXISTENCIAL.

    Ler é, pois, muito mais que decodificar um texto escrito. Ler é olhar, ver, traduzir, atuar e se sentir integrado ao cenário que a vida propõe, não como um espectador alienado, mas como parte inserida neste contexto marcante e, que, revelado, deixa de ser abstrato e permite a formidável evolução da própria competência.

    Assim, a “alfabetização” de indivíduos não pode se alienar da experiência de leitura anterior vivida. Da tradução do existencial! Só assim, usada como mais um instrumento de percepção, a Alfabetização vencerá limites de tempo de absorção, de forma lúdica por ser tornada mais uma aliada à compreensão da experiência fantástica de integração e evolução e expansão.

     A Leitura obedece a um código natural, pessoal e intransferível. A Alfabetização não pode evoluir isolada deste contexto e seu sucesso depreende da leitura existencial que a tem de inserir neste volume. Assim, o Professor se torna o Maestro desta Sinfonia de sons, luzes, cores, emoções e relevo, regendo com sucesso essa particular dimensão.

    Não basta conhecer a “partitura” tem que se considerar a sinfonia com o todo.

    Ler é parte de um texto maior num “cenário” de leitura ampla – A VIDA!

Zelia da Costa
Nova LIMA/MG/25/08/2020/16:25