quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

DOCE LUA

       
         DOCE LUA

     Pequena lua
     Da minha rua
     Chegue mais perto...

     Quero senti-la
     Quero tocá-la e empurrá-la
     Pra bem distante...

     Longe do nosso alcance!
     Perto de nossa alma!
                  Zelia da Costa/SP


DE NOVO.....OUTRA VEZ

                 De Novo... Outra vez


Trilhou caminhos estranhos

Colheu múltiplas percepções

Desvendou o movimento que parecia sedento

de outras motivações

Entreviu novas conquistas

Descobriu constelações

E se viu muito atrevido no desafio da vida

a procurar munições

O novo sempre supera registros

de ultrapassados padrões

Em ebulição, a coragem destila abertas verdades,

entoa outras canções

O tempo que determina as conquistas

e a hora de as armas abandonar...

Riu, riso irreverente, por reconhecer nesta gente

a força do renovar!                         
                 Zelia da Costa/RO/2007.



              

O SIRI

                             
                                                O SIRI

Ele não tinha reboque. Havia uma abertura larga para o ingresso das pessoas e os bancos longos e dispostos no sentido longitudinal criavam espaço interno útil importante... Era um bonde diferente. Servia aos passageiros que portavam grandes fardos, proibidos de viajar nos bondes comuns.
O veículo, apelidado de “Siri” porque era fechado com placas de ferro, tinha grandes janelas sendo todo pintado por fora de um vermelho vivo, o que facilitava a sua identificação à distância.
Eu, criança,  o achava lindo! Parecia um brinquedo. Era muito utilizado pelas lavadeiras que se esticavam nas pontas dos pés e usando os braços  como alavanca jogavam sobre o chão alto do veículo, suas enormes trouxas que empurravam e arrastavam para dentro, antes de galgarem, segurando no balaústre,  os dois estreitos degraus que davam acesso ao interior. Livres então, arfando, suadas pelo esforço despendido, acomodavam-se. Havia mulheres fortes e também franzinas. Todas usavam o mesmo método de acesso. Um esforço tornado usual que dispensava auxílio.
As passagens nos “siris”, também apelidados “taiobas” eram quase gratuitas. Eles tinham horário rígido de viagens que eram matinais.
Nem sei por que me lembrei disso agora. Às vezes, me espanto com esses percursos que faço pelo tempo, principalmente, porque eu devia ter uns cinco anos. Para mim o “Siri” era um veículo fascinante. Acredito que marcaram fortemente, as expressões das mulheres suadas e bufando ao peso das trouxas atadas por lençóis, dizendo imprecações inaudíveis ou clamando a Deus por forças para erguer seus fardos, que imprimiram esse registro na menina curiosa e atenta.
Observo as crianças hoje com dois e três anos manipularem com admirável habilidade  computadores para acessar desenhos ou joguinhos. Certamente, um dia rirão destas máquinas que se tornarão obsoletas, pois, os cientistas já falam em teletransporte e outros fantásticos meios quase subliminares tecnológicos.
As máquinas de lavar roupa fizeram desaparecer as lavadeiras e suas imensas trouxas.
O Siri desapareceu. Assim como os outros bondes e junto com eles os trilhos de aço que cortavam a cidade do Rio de Janeiro e que cravavam no asfalto um desenho prata, forte e surreal.
As profissões de motorneiro e condutor que faziam os bondes funcionarem foram extintas. Como eram operadores públicos foram transferidos para os museus, bibliotecas, teatros, órgãos geridos pelos governos e se tornaram vigias, guias, etc.
As lavadeiras passaram a trabalhar como domésticas.
E eu?
Eu me tornei, cada vez mais, uma passageira do tempo atenta à célere paisagem.
Zelia da Costa/NM/MT

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

ANGÚSTIA

                 

              ANGÚSTIA

  Na penumbra que à consciência adere
  Reside a definição das escolhas
  Em meio à solidão da incerteza
  A verdade é a notícia boa.

    A  espera do “acaso”...
    Abres mão da vontade
    E navegas sem destino 
    Rumo alheio à Liberdade.
        Zelia da Costa/NM/MT/20/02/2016.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

PRÉ - SAL

                
                     PRÉ- SAL

 É de tal grandeza o desatino!
 É tamanha a ganância, sem freios
 Talvez, por não temer os desígnios...
 De negro se toldou as transparências!

 Envoltas num manto intestino
 Intocadas profundezas se condensam
 E rolam fumarolas líquidas
 Em meio à viscosa calda que se agrega

 E a vida...
 Que seguia um rumo antigo
 Interrompe seu evoluir eterno
 Enquanto as chagas abissais vomitam...
 E matam a Natureza em processo...
..........................................................
 A negra ambição reedita – noutro ponto –
 A nova “mancha do progresso”!

 Zelia da Costa/15/03/2011.

TEMPO


                        TEMPO

       Temos todo o tempo do mundo!

       Temos um mundo!

      A convicção desta certeza rasga espaço

      E rompe caminhos

      Temos tempo!

      Porque o tempo é indefinido

      Infinito é o mundo que temos para este tempo.

      E não há de faltar tempo

      E não há de sobrar mundo

      Porque o mundo cabe num segundo...

      Se soubermos usar o tempo!
      Zelia da Costa/RO

domingo, 14 de fevereiro de 2016

                    
                       CHEGA


Eis a urgência comprimindo o tempo!

A esmagar, por gosto, a paciência!

A destruir o sabor da calma

Se, esta perda guarda algum segredo...

É, com certeza, em razão do medo

      que acelera o torpor que arrasa

Enquanto a calma aprofunda o senso

       e dá a vida, nova dimensão

A urgência aflita em sua pressa parva

      cria transtornos em meio à aflição

É um desvio de conduta tenso

Desequilibra e nos tira a paz

Dou a urgência o tempo que merece

Ínfimo tempo, nenhum segundo a mais

Zelia da Costa/NM/MT/ 12/10/2012/13:06.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

CONSPIRAÇÃO

             


           CONSPIRAÇÃO   

                        Alguém
                                           
                                           Algum dia
         
  Alguma vez
                                                Algures
           
               Dirá algo

                                          
                                 Alhures


                                  Algoz de alguém

Zelia da Costa/SP

domingo, 7 de fevereiro de 2016

QUE PENA!

                
           QUE PENA...

 Não há entre aqueles que gritam
 Um sussurro de paz
 De fé

 Não há entre aqueles que calam
 Um suspiro consciente
 De força e dever

 Não há entre os que podem
 Um desejo forte
 Uma reação

 Não há entre os que deploram
 Qualquer empenho
 Nem mobilização

 A desgraça se expande deixando pegadas
 Nas sórdidas vias
 O vício agregado desfaz em farrapos
 As almas vazias
Zelia da Costa/MT/13/03/2013.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

RECADO

            
             O RECADO

Vou procurar você a cada passo

E no espaço que couber minha canção

Vou procurar você em cada abraço

E nos matizes da emoção

Vou procurar você, serena ou aflita

Em cada grito que me escapa ao coração

E se um dia o encontrar no fim da estrada...

Valeu o penar na caminhada 

Trazendo a alma na mão

Só pra me desaver da imensa solidão.


Zelia da Costa

OS SAPATOS

            
               OS SAPATOS

  Ali estão os sapatos!

  Este fato me leva a pensar:

  - Talvez...

 Se pudessem escolher o caminho

 e andar sozinhos

 fossem mais sensatos

 que andar conduzidos por estes pés baratos!

 Mas, como a vida não é assim...

 Eu piso neles e pago caro!

 (somente por vaidade creio que os exponho).

 E muito me envergonho quando estamos a sós

Pois, os ricos sapatos dispersos no chão do quarto

 Apenas retratam os meus caminhos ingratos!


Zelia da Costa/SP

FUGA

                 

                                   FUGA

     Às vezes, o desejo de escrever é tamanho...
              Que uma palavra escapa...
                         Sem que a possa conter

       Não havendo receptáculo que lhe dê
       De um significado a dimensão
          Extraviada do vernáculo...

                            Vaga só...

                       Profundamente só!

                        Como bola de sabão...


                       Zelia de Costa/MT

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

MÁFIA

   
                                                 

                            MÁFIA



   Estou assustada!
 Aos poucos, sub-repticiamente, vamos abandonando o nosso idioma e o substituindo por expressões alienígenas que fogem inteiramente do sabor castiço e moleque, natural da “nossa” língua portuguesa. Será isso evolução?
É verdade. Será que em outros países, outras nações, a língua pátria está se tornando obsoleta, incapaz de traduzir com velocidade e perfeição o moderno cenário social, científico, filosófico, moral, religioso, jornalístico, enfim, a expressão humana falada e escrita de seu povo pela linguagem estrangeira?
Será que alemães, franceses, italianos, austríacos, sempre tão fiéis às suas origens estão também abdicando do idioma de suas pátrias?
Os portugueses costumam “aportuguesar” a linguagem exótica.
Sei que a língua tem vida própria e evolui naturalmente, o que a torna rica e preciosa.
Não sou ingênua para renegar o vocabulário inserido pelas novas tecnologias e essa não é a questão. O fulcro do problema, insisto, mesmo você torcendo o nariz para fulcro, está acredito, na pobreza das intenções em que nossa linguagem é conceituada. Aliás, há muito percebo que neste aspecto e em alguns outros, a globalização vem diluindo o apego aos sentimentos de nacionalidade que só se exacerbam em competições esportivas ou manipulados por interesses políticos inescrupulosos.
Parece que está sendo orquestrada de forma magistral a ignorância, o alheamento, a grosseria. A Língua de uma nação é sagrada.
É garantia de sucesso no domínio de um povo, mantê-lo alheio a questões importantes, diluí-las em meio a informações desencontradas ou divulgadas de forma a que não sejam consideradas primordiais para a sociedade, enfim, para evolução do país.
A ideia de que o presidente do país é pai ou mãe do povo traz no seu núcleo o sentido de isolamento como se, eleitos esses funcionários pagos para coordenar a administração do país, também fossem investidos de um poder especial, um poder patriarcal que não admite interferências quanto a sua autoridade de chefe de família.
Pode parecer uma ideia advinda do período colonial, porém também pode ser algo importado, um sistema de comando bastante disseminado pelo mundo e atribuído à Cosa Nostra, patriarcal e criminosa.
Interessa a esse tipo de governante o alheamento causado pelo desbaratamento das informações que subtraem a confiabilidade popular. Assim, de inúmeras maneiras se distancia o povo das consequências traumáticas das suas ações governamentais.
Uma das primeiras intenções, por mais grotesca que possa parecer, é conservar o povo analfabeto. O ensino deficitário eleva ao curso universitário alunos que não conseguem redigir. A massa de analfabetos é grata. A baixa escolaridade os mantém reféns dos desígnios impostos pelos governantes. Tem aspirações reduzidas e são fiéis e dependentes.
  Interessa manter um sistema de ensino absolutamente ineficiente, cujo objetivo seja limitar a capacidade de interpretação e para cálculo. Condicionar a população à compreensão superficial das ideias e prognósticos. Não acredita?
Pensa. A quem interessa?
Um governante de baixa instrução não pode avaliar um Projeto de Educação, um projeto de desenvolvimento, porque dependerá sempre de um ministro escolhido, sob que condições?
Assim, um país governado pelo bobo da corte tende a se desintegrar.
Povos instruídos evoluem. Eles se organizam. Respeitam-se.
Cobram de seus governantes seus deveres.
A quem interessa as condições brasileiras.
Quem não duvida, não argui, não questiona, não fiscaliza, não condena não se impõe. Não é capaz de se sentir competente para avaliar danos futuros ou de exigir medidas que não pode escalonar.  Apoia e aplaude por ignorância. Impotente, deixa que os gestores desonestos ajam com a liberdade de um poder inquestionável.
         Esta é a receita dos ditadores.
E qual a relação entre a linguagem e a política?
É a supremacia.
Também o político de pouca instrução necessita de um tradutor para compreender a legislação que rege o país e obedece a indubitável interpretação de “seu tutor”. Esta dificuldade o faz dependente. Precisa de um “escriba” para organizar seu pensamento, compor “seu” texto que, como um papagaio treinado ou um ator canastrão, interpreta.
Acaba por desenvolver uma personalidade viscosa e para ocultar sua ineficiência se exibe com ironia ou ultrajante agressividade nos momentos de insegurança, o que o torna capaz de agregar a seu redor um grupo de caráter duvidoso, bajulador sórdido e ávido pelo poder.
- Ah! Isto pode ocorrer com qualquer um. Você deve estar pensando.
Sim, mas a incompetência tem uma forma tão nociva de administrar que não dimensiona o descalabro. Por incalculável vaidade não aceita seu despreparo e impõe à população, vítima de seu projeto de poder, um trágico destino.
Um povo que não sabe ler, interpretar e escrever “de verdade”é incapaz de “pensar”,prosperar e se orgulhar de sua nacionalidade, de sua língua, de sua origem. Ele não dimensiona a grandeza de Seu País!
Diga-me como falas e escreves. Eu te direi quem és.
Ou melhor, de onde és!
Ou ainda, se és!
                            Zelia da Costa/NM/MT