quarta-feira, 28 de outubro de 2020

               HERANÇA

Essa energia que arruína

É a mesma que extermina

O inimigo que se faz herói

E embora se iluda com parca vitória 

Ele não conseguirá depor a glória

De quem é hoje parte da história 

E herdou,consciente, orgulho e memória!


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

                CAMPEÃ

Valeu aquela vontade de se fazer infinito

Como o grito que se evade no espaço a ser descrito

Como se força potente assumisse o destino

E se fizesse valer mais que precioso  sentido

Pudera valer-se da sorte de quem se fez companheira

E infiltra-se serena nas malhas que sorrateira'

Vencera como se fosse um ato comum de ser

Tomar para si e sempre a glória de só vencer!

 

domingo, 11 de outubro de 2020

                            UMA DOCE AVENTURA!

             Quando chegamos à escola havia um movimento inusitado... As crianças estavam sendo solicitadas para que entrassem com urgência nas salas de aula!

           Era uma situação incomum, pois as turmas formavam no pátio e só depois de cantar o Hino Nacional, durante o  "hastear" da Bandeira Brasileira é que se dirigiam "em forma"às salas de aula. (Engraçado, né? Hoje poucos sabem o que significa "hastear"). Era parte da formação da cidadania, a disciplina, naturalmente exortada. Havia até uma espécie de competição entre os professores que queriam exibir, com orgulho, a turma mais organizada e rápida neste conceito.

         - Indaguei, aflita, à dona Maria, qual a razão para tanta pressa!

         - Óia pra cima, fia... Ali, debaixo daquele pedaço de teiado...  Óia o que elas tão aprontando... Oia, as abeias! Oia só a quantidade!  É que elas ainda tão se ajuntando naquele lugá...  Tem que deixá elas quetas, proque se arguma criança dessa fizé a gracinha de impricá com o enxami...   Num vai tê pronde corrê...  Elas tão procurando lugá pra i...  Si deixá elas queta...  Elas vão imbora, sem incomodá, mas...sabe como é criança... A gente tá aqui enxotando eles pra drento, antes que aconteça a disgraça... 

          Olhei para o local que ela apontava... Debaixo do beiral das telhas havia uma espécie de mancha volumosa na parede que se movia de maneira assustadora, indo e vindo, em voos curtos e que zunia  ameaçadoramente!

       - O que se pode fazer? Perguntei ansiosa!...

       - Nada! 

       - Agora, é botá todo mundo pra drentu e esperá elas encontrá lugá pra i...

       - E quanto tempo leva isso?

       - Só Deus sabe! Vamu botá tudo pra drentru e vê si elas vão simbora logo, porque elas só vão saí quando acharem pousada...                  

        Aí, se ninguém incomodá... Elas vão em paz!

        Seu Inacinho, aquele motorista de táxi que nos conduzia à escola e que se tornou uma espécie de protetor, ouviu a conversa:

       - Olha, isto é perigoso porque se algum guri desses fizer a gracinha de jogar pedra ou enxotar de alguma forma...  Elas reagem todas ao mesmo tempo, atacam e não vai ter  jeito de se livrar...

      - Gente! O que vamos fazer?

      Olha, disse "seu"Inacinho, eu conheço um velho apicultor... Ele é bom nisso! Vou ver se trago ele até aqui pra ajudar a gente!Isso, se eu conseguir achar... Não vejo ele há muito...

        E concluindo...

      - Bem, agora a solução é "segurar a garotada" pra não haver consequência grave! Certo? 

      - Vamos esperar notícias, seu Inacinho!... Acha "nosso salvador" antes de algum transtorno  perverso...                 Vai com Deus! Obrigada pela boa vontade de sempre!

       Só dia seguinte, "seu Inacinho"chegou com nosso "salvador", um velho simpático e de voz doce que "examinou" o enxame e declarou:

       - Gente! Que beleza! Há muito não vejo um enxame desse tamanho! São as chamadas " européias". Isso é uma maravilha, uma dádiva da Natureza! Só, que eu não tenho mais "pernas"pra subir em escada e não posso tirar elas de lá! Sabe... A idade vai chegando...

       - O senhor conhece alguém que faça isso?

       - Xiiii!... Aqui na região, a senhora num vai encontrar!

       - E o que é que a gente faz, meu Deus? 

       - Olha, professora, eu vou tentar...Mas, acho quase impossível! O povo ignorante põe fogo nos enxames que se abrigam no mato! Tudo estúpido!Ninguém se interessa por esses bichinhos mais! Vou fazer o que puder...

         Bem! A sorte estava lançada!  

         Súbito, uma criança sugeriu por fogo num pano e enxotar as abelhas com a fumaça... Era uma das reações usadas!

        Respondi-lhe que isto era um crime, não uma solução!

        Estava  na minha casa, quando me ocorreu a ideia de telefonar para a Secretaria de Educação  e tentar alguma "saída". E assim o fiz. Depois de explicar a razão à funcionária atendente, fui informada, sob certo tom de ironia na sua voz, de que o lugar indicado para a provável solução seria a Secretaria de Agricultura, o órgão a quem caberia a função de resolver esse tipo incomum de problema.

         Não insisti e resolvi apelar para a Secretaria apontada.

         Bem, esta outra repartição informou que "em sendo o problema ocorrido nas dependências de uma escola", a solução era de responsabilidade da Secretaria de Educação.

         Diante do jogo de "empurra"senti que a competência não cabia a ninguém, mas a incompetência tinha "dono"...

         Agora, era uma questão de honra e eu estava disposta a resolver "esta parada"!

        Liguei para Brasília! Pode crer!Liguei!

        Ministério da Agricultura! Onde?

       - Direto: Gabinete do Ministro!

       Fui atendida por uma simpática e paciente senhora:

       - Por favor, gostaria de falar com o Ministro!

       - Posso saber o nome de quem fala e o assunto a ser tratado?

       - Sim, claro! Disse-lhe meu nome completo e de onde ligava.

        - Por favor, pode adiantar o assunto?

        - Claro!

        E comecei a narrar a aventura que, até ali, se desenhava como desventura e terminei assim:

        - Será que nem o Ministro da Agricultura conhece, nesse país, um apicultor que possa recolher o enxame que se instalou na parede da minha escola? Quero ensinar minhas crianças a importância das abelhas na reprodução das espécies vegetais e consequências benéficas para sobrevivência  humana!  Quero que elas observem a sociedade que elas desenvolveram... A importância da cera por elas produzida e o mel e seu insubstituível valor natural e saudável... Quero aprender a lidar com as abelhas e começar um trabalho de apicultura na escola... Sei que é possível e vou fazer!

       - Ela me interrompeu!

       - Liga para mim, daqui a uma hora, Professora!Não deixa de ligar... Daqui a uma hora, certo?

       - Certo! Com certeza!Acredite!

         Será que era verdade? Aquela senhora parecia ter, realmente, se interessado... Será que me atenderia de novo, de verdade?

          Hummm! Agora "uma hora"parecia uma eternidade!

         Pronto! Chegou a hora!Tornei a ligar!E não é que a senhorinha me aguardava...

          - Alô! Ah! Que bom!A jovem Professora Zelia! Anote o nome e local. Você vai telefonar para este número e falar com esse senhor! Ele é Professor na Escola Rural do Rio de Janeiro e Professor Orientador do Projeto  Apicultura que lá acontece. Já contatei ele, que se pôs a sua disposição e irá providenciar o recolher do enxame e instruir sobre os cuidados e a cultura das abelhas. Isso é possível, sim!Ele vai orientar e acompanhar seu trabalho! Por favor, nos mantenha informados quanto ao andamento desse seu projeto lindo!

         Agradeci, quase chorando... Ela também estava comovida!

          - Eu estava em êxtase! Ninguém acreditaria no que aconteceu! Nem eu! Ria sozinha da minha "maluquice". Afinal, fora audácia ou desespero? Ah! Importa é que o resultado foi positivo!

            Neste mesmo dia, fui surpreendida pelo amigo de seu Inacinho, o velho apicultor, "seu Galdino"que nos presenteou, com uma linda caixa de madeira - peroba rosa - feita por ele com carinho e destinada à apicultura a ser introduzida como  inusitada atividade na Escola Franklin Távora. A caixa era para "abrigar" a colmeia nos domínios do quintal da escola. Uma peça produzida com amor e arte, um produto  de rara qualidade. Uma joia - como as abelhas!

Zelia da Costa/Nova Lima/MG/11/10/2020/17:17


   

 

 

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

                      ÁGUA MOLE... EM PEDRA DURA...

          - Tava doida pra senhora chegar!

          Num dá mais pra bebê, nem cuzinhá com essa água daqui! Vige! 

          Oia só! A água tá embaçada e fedendo! Num dá nem pra moiá a horta! Nem sei si vai servi pra lavá os banheiro! Tá uma fedentina...

          - Que aconteceu, dona Maria?

           - Sei lá?! Sei não! Só sei que num dá mais!... Tou disisperada!

             Eu fui então, até o bebedouro das crianças e o copo que enchi estava turvo, com forte odor putrefato!  

           - Será que tem algum bicho morto no poço?

           - Não! Num tem! Já pidi ao Juju pra espiá... Ele jogô a caçamba várias vez...E nada... mas a "murrinha" no poço é forti!Que será? 

 (Juju era seu filho e funcionário da mesma escola)

        - Bem, dona Maria, a solução é comunicar ao Distrito Educacional e ver se a gente consegue um pouco de água aqui, nesta granja vizinha, só pra fazer a merenda e as crianças beberem... Certamente, eles não negarão!É só até a gente resolver!É uma emergência!

          - Gente do céu... Tou preocupada... Quanto tempo vai durar esta afrição?

         - Calma, dona Maria! Já, já vamos resolver isso!

          No mesmo dia, fui ao Distrito Educacional. órgão responsável pelas Escolas da região de Sepetiba e Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Sepetiba é região litorânea, enquanto Santa Cruz, a zona rural.

          Narrei o ocorrido e fui informada pelo Chefe de Distrito que a gravidade da situação impunha ser comunicada por Ofício dirigido a ele, que o encaminharia ao Administrador Regional, uma espécie de "prefeitinho", o chefe político da Região. Nesta época, o Rio de Janeiro era dividido em Administrações Regionais, um arremedo de "pequenas prefeituras".

         Aguardei por três dias a solução. Nossa situação era dramática.A água cedida pela Granja do Sagrado Coração era trazida em baldes e panelas numa "via crucis" sob o sol ardente de um verão à temperatura acima de 40 graus à sombra. Para aliviar o martírio de Juju, o filho da Dona Maria que era nosso servente,  Seu Inacinho, o taxista que o estado alugava para conduzir as professoras da Estação Ferroviária de Santa Cruz até a escola, penalizado com a dramaticidade da situação, gratuitamente, reservou um horário de seu dia de trabalho para nos atender e conduzia, generoso o dedicado Juju, nesta dolorosa empreitada, um triste arremedo da "via crucis" no transporte de baldes e tonéis e panelas contendo o precioso líquido.

        Fiz outro ofício, mais outro, outro mais... Nada! Resolvi, então mandar um por dia. Foi um escândalo!Enfim, eu os atingi! Fui chamada ao Distrito Educacional!

       - Professora, a senhora não pode mandar um ofício por dia! A senhora devia saber que deve aguardar o andamento do processo!

       Embora ele estivesse irritado, tentava falar com calma e num tom conciliador, deixando claro minha incompetência em lidar com procedimentos burocráticos legais:

       - Veja! A senhora manda o ofício e nós encaminhamos à Administração Regional. Isso já foi feito!

       - E aí, professor Darcy?... Quanto tempo o senhor acredita que a solução demora?

      - Bem, agora temos que aguardar o memorando do Administrador Regional informando que providências cabem!

       - Ah! Enquanto isso, eu escravizo o coitado do faxineiro... Fico devendo favor ao motorista de táxi e, humildemente, rogo aos donos da Granja que me cedem, por caridade, a água que eles pagam ao governo... É isso? Ou então, eu finjo que está tudo bem e contamino as crianças, sei lá com o quê?...É isso?....Está bem, assim?

        Foi uma cena caótica! Eu apoplética! Ele em choque!

        - Professora, serviço público funciona assim... 

         Aguarde, por favor, as providências. Vou ligar hoje para o administrador e ver "em que pé estão as coisas".

       - Tudo bem. Não vou mandar mais ofício... Usei o "ofício" porque conheço a inutilidade dos trâmites legais. Queria incomodar a inércia oficial! Queria provar que a urgência, não tem tempo pra esperar. Obrigada!

         Dia seguinte, de repente, ouvi um tumulto e vejo Juju gritando à beira do poço:

       - Donaaaaa Zeliaaaaa! Corre aqui!!!

       Corri para o quintal. Junto à beira do poço, Juju sustinha numa vareta.......uma cobra que acabara de ser, por ele, recolhida nas águas do poço.

      - Veio no balde!

      - Coitadinha!... Exclamei, penalizada!

      - Coitadinhos de nós!  Quase que bebemos água daí! Ela está morta agora, mas parecia meio mole quando a "pesquei"... Pelo visto, essa água fez a cobra adoecer... Essa água fede! Está podre!Como é que pode?

      - Juju, por favor, põe ela num vidro com esta água daí! Vou até a Administração... Vou mostrar isso a eles...Quem sabe, não aceleram a solução... 

   Antes de entrar no prédio da Administração Regional, fui interrompida por um funcionário que, muito simpático. me perguntou a razão da visita:

    - Olha, pra ser mais suscinta, vou lhe dizer que quero falar, pessoalmente, com o Administrador Regional.  Minha escola está cheia de problemas que já foram, oficialmente informados, porém o que me trouxe aqui requer solução urgente. Dá pra ele me atender?

    O rapaz demorou um pouco e pude perceber o movimento nervoso no prédio. Uma espécie de "vai e vem" aflito. Curiosa, perguntei a razão e fui esclarecida da visita do governador que viria inaugurar, dentro de alguns dias, a "remodelação" da Praça dos Jesuítas, um ponto histórico a ser preservado.

     Para se livrar de minha incômoda presença fui, rapidamente, liberada ao encontro com o administrador e ele foi logo me informando:

     - Estamos bastante agitados e ocupados professora. Já sei o que deseja e quero lhe informar que agora vamos receber o governador Carlos Lacerda e depois trataremos do "seu assunto".

    - Ah! Que bom! O senhor já sabe do "meu" assunto e eu fiquei sabendo agora do "seu"... O governador vem aqui, né? Está vendo esse vidro? Esse copo é seu? Com licença!Quero que o senhor "prove"essa água! Esta água é do poço da minha escola e olha aqui a garrafa, tem até uma cobrinha dentro. Foi "colhida"no poço pelo servente: 

   - Bebe... Ah! bebe vai... É uma rara iguaria que devo servir às crianças!

   -  A senhora está brincando...

   -Ué? Se é bom pra eles... 

     Ele estava meio atordoado e aproveitei:

   -  O Senhor disse que o governador vem aí semana que vem... A estrada passa perto da minha escola.Vou recebê-lo com as crianças e vamos interromper o caminho... A gente leva a Bandeira... Ele vai achar que é homenagem...Vou levar a garrafinha e um copo...

     Ele estava pasmo!

    - Sinto ser uma ideia brilhante! Obrigada e desculpe interromper seu trabalho!

      Saí intempestivamente... Eu sabia que o tinha atingido e que ele estava surpreso e chocado! Toimmmm!Agora doía nele! Era quase uma forra pelo pouco caso... 

              Dia seguinte, quando cheguei à escola, levei um susto com a gigantesca máquina perfuradora "ferindo" a terra na construção de um poço!      

            As aulas foram interrompidas!                    

             Pedreiros corrigindo o chão do refeitório que fora esburacado há tempos e pintores me indagando, se queria todas as salas de aula com a mesma tonalidade ou preferia que cada uma delas tivesse a cor que combinasse com a das carteiras velhas que nós, as professoras, havíamos pintado, durante as férias, para dar mais alegria aos ambientes e surpreender as crianças no retorno às aulas, com a novidade!... Bem, os móveis ficaram lindos, mas essa despesa para espanto de todos, já fora por nós assumida, apesar dos parcos salários!

         Agora, a escola ganhou sala azul celeste, verde- limão, um suave cor de rosa e um doce laranja. 

           O prédio ficou lindo!

          A escola ficou nova! Uma festa!

      Linda e rapidamente corrigidos os detalhes negativos!

     Como esperávamos, as crianças enlouqueceram!

     O engenheiro responsável pelo evento me informou que as raízes da Mangueira, árvore frondosa que "sombreava" o quintal, tinham criado um canal de comunicação subterrâneo, com suas raízes, entre o esgoto dos banheiros e o poço. Por isso a água fedia! Estava altamente contaminada!

    Que bom! Agora, com o problema detectado, o mal estava sanado e definitivamente resolvido com a construção do  poço artesiano.

     Um POÇO ARTESIANO! 

    Água limpa e permanente! 

    Espera! Não sei de que espécie era a Cobra  responsável pelo milagre?!!!...

    Que tal lhe dar um nome? Ela merece este carinho, não concorda?

     Sabia! Zelia, né?

  

                                      Zelia da Costa/Nova Lima/MG//09/10/2020/16:20

   


      


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

           ANJOS INESQUECÍVEIS...

                             ... ME GUARDAM!

        Estava com muita pressa, mas precisava comprar umas flores e resolvi ir até certa loja solucionar logo este assunto.Ao entrar, fui acolhida, de imediato, por uma solícita e sorridente funcionária que, queria saber qual produto eu buscava porque ali, além das flores, eram vendidos artigos para presentes de refinado bom gosto. Ela já me atendera em outras ocasiões, então esclareci o meu interesse por um arranjo colorido que me encantou. Ansiosa, insistiu em me conduzir a um canto fazendo sinais que, só depois, entendi a razão.

       Discretamente, apontou um balcão onde estavam uma jovem mãe e seu filho.Logo os reconheci por ser a criança, aluno de minha Pré-Escola, o Pinguinho de Gente.           

      A vendedora estava aflita, pois a dupla queria comprar um presente, exatamente para mim, porque logo seria comemorado o "Dia do Mestre"! 

         Ocorre, que a mãe escolhera um lindo vaso, que entusiasmara a jovem que me atendia pelo preço exorbitante que custava, o que lhe renderia "bela comissão". Porém, contrariando seus interesses, a criança insistia  noutra opção.

              - Ele não aceita a sugestão da mãe de jeito nenhum... Diz que já escolheu  o que quer lhe dar, apesar de a mãe não concordar com a opção preferida por ele... 

      -  O menino é determinado!Ufa!

       Já estou "sentindo" que  ela vai acabar sendo convencida por ele...         

             - Êta!Garotinho difícil!

            - E você sabe o que ele quer?...

           - Ele diz que tem certeza que a senhora vai gostar. Acontece é que o valor do objeto escolhido por ele... Não chega nem "perto" deste, que a mãe deseja... A jarra é uma peça elegante. É linda! Coisa fina, de valor! Caríssima..." Apesar do preço, a mãe está disposta a comprar!A senhora quer dar "uma olhada"? Tenho certeza que ele, vendo a senhora assim... Espiando e gostando, encantada... 

         Aí... Ele desiste da ideia dele! Porque o objeto que o garoto quer, está onde ficam as coisas mais "baratinhas."!

         Entendi. (Ela queria uma cúmplice para solução do "seu" interesse).

            -Agora, você me deixou curiosa!              Vou embora. Tenho compromisso urgente!

          Lógico que a moça ficou decepcionada, mas não gostei do seu "recurso pouco conveniente", usando a ingenuidade de quem estava atendendo à própria nobreza de sentimento.                

      Paguei minhas flores e parti, sem que os dois me vissem e ante a decepção dela, expressa no falso sorriso que me perseguiu  até à saída da loja.

            Bem...Chegou o "Dia dos Mestres"!

            Entre cantos e danças e versos e engasgos e suspiros e abraços e beijos e lágrimas e risos... 

           Eis que ele para na minha frente com um inesquecível sorriso! 

           Depois de um longo e carinhoso abraço, entregou-me um objeto - uma pequena caixa embrulhada num papel prateado e colorido por sinos alegremente dispersos! Desembrulhei, num lento ritual de emoção... 

          - Mamãe queria outro presente, mas eu escolhi este! 

         Era um Anjo! 

        Vestido numa etérea túnica azul celeste, ele tocava docemente seu instrumento!!!

        - É pra você nunca me esquecer! Você gostou, tia?

          Balancei a cabeça, afirmativamente, pois não conseguia falar!

       Este Anjo imantado, a quem chamei Gabriel, por ser dele o presente, num doce voo, tocando sua lira encantada, está na porta da minha geladeira... 

      Ele, meu Gabriel, ainda me guarda!

Zelia da Costa/Nova Lima/MG/05/10/2020/17:00


 

sábado, 3 de outubro de 2020

 TANTO HORROR PERANTE OS CÉUS!

A flor sorriu...

E a Natureza a baniu por julgar fora de hora!

O pássaro cantou...

E o vento sufocou a canção sonora!

A cascata que jorrava

Sentiu que desnorteadas, suas águas se perdiam

E a brisa que soprava obedeceu a ordem 

E foi embora vadia...

As árvores silenciaram e assustadas calaram 

o sussurrar que emitiam

E as nuvens que brincavam de esculturas no espaço

Partiram em agonia...

Os animais que pastavam, rápido se ocultaram...

Sem saber o que temiam!

Logo, surgiu o homem com sua tocha infame...

E fez arder a Poesia!

Zelia da Costa/Nova Lima/MG/16:15