terça-feira, 25 de agosto de 2020

CACOS




                            

                                          CACOS

Porque há pedras... É que vale a pena

São elas pelo caminho que fazem tua alma grande ou pequena

Se pedras há... Porque não se deter a olhar

Por que a angústia de saltar

Por que a pressa de transpor

Por que não as considerar um monumento 

e fazer do contratempo um evento a teu dispor

Por que não conter o desespero 

se a graça do caminho está no desafio

de pedra em pedra construir teu lugar

 - um castelo pra te abrigar -

Sim, pedras há!

Mas há quem as transforme em cacos

e os use pra brincar!

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

                          TODO CAMINHO TEM COR
        
        A turma era de Alunos do Curso  Supletivo do Estado do Rio de Janeiro! 

       Morro do Vidigal!

       Trinta e seis alunos.

Quanto à faixa etária atendida naquele grupo de Fase IV, se limitava entre o mais jovem aluno que tinha dezesseis anos, ao mais velho, quase setenta. 

         A escola ficava no alto do Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. O grupo seria atendido no período das dezenove horas até às vinte e duas horas. A arquitetura do prédio da escola obedecia ao projeto criado pelo notável Oscar Niemayer que residia  e trabalhava, ali bem próximo, na mansão/escritório exibidos no alto do penhasco, frente ao mar.
           O prédio da escola Almirante Tamandaré era amplo e majestoso, com salas confortáveis, arejadas e bem iluminadas. Havia um largo pátio no andar térreo que servia de refeitório para as crianças do Ensino Fundamental  e, que para o Supletivo, funcionava como um espaço confortável, nos permitindo  observar sem risco, as belíssimas noites de Lua que nos seduziam ao exibirem o cintilar das ondas e o iluminar das explosões de espumas que coroavam um litoral invejável.
         O cheiro da maresia era um bálsamo, como promessa do encanto.
         Eu estava ansiosa por conhecer minha turma. 

        Agora, ali, diante deles, percebia uma "estranheza", um indisfarçável comportamento que sinalizava certa decepção e logo identifiquei a causa - eu era também professora de crianças e eles temiam ser tratados como tal!
         Todos trabalhavam o dia inteiro. Chegavam exaustos e muitos vinham direto para a escola. Assim, resolvi que antes de subirmos pela rampa para a sala de aula, ficaríamos alguns minutos, sentados em silêncio, olhando a paisagem reconfortante. Eles aceitaram passar por esta experiência que buscava o conforto de um tempo para relaxar das tensões impostas pelo dia exaustivo.
           Na primeira semana, pedi que descrevessem os caminhos que percorriam durante o dia. Alguns "arriscaram" frases, timidamente. Outros, negaram participação. Comecei então a aula, aplicando o conteúdo programático árido, exigido para a série. 

         Entreguei, no dia seguinte, no início da aula, uma folha em branco e uma caixa de lápis de cor para cada um e lhes pedi que usassem a tonalidade predominante, observada durante o dia no caminho que cada um percorreu. 

       As reações não surpreenderam. 

       Sabia que haveria rejeições e já me preparara para o "revide".
          Um jovem ergueu a voz, declarando não ser criança para fazer desenhos. Outro, perguntou se eu sabia estar num "curso"frequentado por adultos. A reação negativa foi geral.
         Olhando-os, sem surpresa, comecei:
         - Não lhes pedi para desenhar qualquer figura. Não propus uma "experiência artística". Apenas, solicitei que usassem sobre a folha em branco, a cor predominante ou mais agradável, ou ainda, a considerada mais atraente ou até aquela rejeitada por ser de mau gosto ou agressiva aos sentidos. 

      Não pedi Arte!

     Pedi... Atenta observação... 

     Não foi um pedido pueril, atividade para crianças.  Não!        Não lamento a reação de vocês, até porque ela veio confirmar minha suspeita!
         Coloquei as folhas e as caixas de lápis de cor à disposição porque queria medir a percepção de todos para a vida, para o mundo a sua volta.Para a "leitura da existência ao seu redor.O cansaço, os compromissos, a rigidez dos horários, a exaustão "embotam" nossa sensibilidade e impedem a simples observação do mundo ao redor. Infelizmente constato que vocês estão incapacitados para "ler" o cenário em que transitam e desempenham a vida em"preto e branco"como filmes antigos.
         O touro também não vê cor! 

Ele ataca agressivo, irritado pelo movimento  que o toureiro executa com a capa para provocar sua ira. Ele é um animal incapaz de discriminar cores.Não tem escolhas!

        Ferido, covardemente, a Dor o leva ao ataque, mas a cor da capa só excita  a morbidez da plateia!
        Podemos "ser diferentes"?
        A vida pode oferecer diversos cenários, mas precisam ser observados e a acuidade exigida depende da leitura de quem seleciona! Vocês caminham para o trabalho, excitados pela tensão. Importa chegar! O "mundo" a sua volta perde o sentido e a Vida fica sem expressão.
        Dia seguinte, distribui o material, novamente. Agora sorrindo, eles coloriram e argumentavam;
       - Valeu, professora! Muito colorido nossos caminhos! Gostei!
       - E não é, que tem um prédio roxo do lado do meu trabalho?...
         É! Assim como os cenários... A vida tem difusos matizes!Eu venci!
        Não provoquei a ira e fiz deles atores  integrantes de um cenário vivo, rico em cores e confidente !
        Foi o início de outras vitórias!
        São "coloridos" até hoje! Tenho certeza!

        Eu também! 

          Zelia da Costa/Nova Lima/25/08/2020/21:43
        
         

LEITURA NÃO SE APRENDE NA ESCOLA


   LEITURA NÃO SE APRENDE NA ESCOLA
          
Creio que, seja lá qual for a metodologia aplicada, a competência para ser alfabetizado ocorre naturalmente, quando o indivíduo de qualquer tempo de existência vivida se torna curioso por adicionar novo código a sua solitária “capacidade para leitura ambiente”!
   
  Todo mundo chega aos bancos escolares com “sua leitura”. Visão pessoal e intransferível - memória agregada e seletiva, nem sempre saudável.

  Ler é muito mais que decodificar um texto escrito. Ler é ser capaz de discriminar detalhes físicos e emocionais do cenário em que se está inserido. Um pacto de convivência humana com a realidade que nos cerca.

 Quando se domina a natureza da compreensão do cenário e seus atores e a necessidade deste raciocínio quase lúdico, porém dramático, aí, ocorre a tradução do que consiste “LEITURA”. Tudo passa a perder razão simbólica para ganhar a solidez da verdade EXISTENCIAL.

    Ler é, pois, muito mais que decodificar um texto escrito. Ler é olhar, ver, traduzir, atuar e se sentir integrado ao cenário que a vida propõe, não como um espectador alienado, mas como parte inserida neste contexto marcante e, que, revelado, deixa de ser abstrato e permite a formidável evolução da própria competência.

    Assim, a “alfabetização” de indivíduos não pode se alienar da experiência de leitura anterior vivida. Da tradução do existencial! Só assim, usada como mais um instrumento de percepção, a Alfabetização vencerá limites de tempo de absorção, de forma lúdica por ser tornada mais uma aliada à compreensão da experiência fantástica de integração e evolução e expansão.

     A Leitura obedece a um código natural, pessoal e intransferível. A Alfabetização não pode evoluir isolada deste contexto e seu sucesso depreende da leitura existencial que a tem de inserir neste volume. Assim, o Professor se torna o Maestro desta Sinfonia de sons, luzes, cores, emoções e relevo, regendo com sucesso essa particular dimensão.

    Não basta conhecer a “partitura” tem que se considerar a sinfonia com o todo.

    Ler é parte de um texto maior num “cenário” de leitura ampla – A VIDA!

Zelia da Costa
Nova LIMA/MG/25/08/2020/16:25

sábado, 1 de agosto de 2020

             PERPLEXO REFLEXO

      Por que a perplexidade?
      O Brasil é um país absolutamente inacreditável!
      O Brasil não inventou o "mistério", porém é um espaço inexplicável!
      Nem vou me deter nos tempos antigos porque estes já tem suas interrogações e reticências históricas...Quero me atrever  pensar no que hoje registramos e que, sem dúvida, é uma patente de incomensurável valor épico.
       Conseguimos, acredito que conscientemente, forjar sobre um solo de inacreditáveis possibilidades, uma "população alienígena".
      Cheguei à dolorosa conclusão, movida pela observação crítica e crua do comportamento do povo brasileiro que se tornou "adversário" de seu destino.
      Como se fez evoluir este caos, um sucesso perverso, em meio a uma Natureza pródiga de generosidade?
        Talvez, caiba parte da responsabilidade a um fracassado sistema de Educação e Ensino, alheios ao compromisso inserido no Conceito Fundamental de Cidadania e Valores Inalienáveis na Formação do Caráter.
       Não há também como eximir a Família da perversa omissão que se "enraíza" no abandono de Conceitos Fundamentais (Deveres e Direitos) irretocáveis, que respondem pela frágil evolução dos Fundamentos da Personalidade de crianças e adolescentes na forma, dolorosamente ambígua, ofertando frágeis presas a serem inseridas na estrutura contaminada de uma sociedade sem perdão.
        O brasileiro fez evoluir um processo de conduta que o distancia da competente prática da Honestidade. Ao contrário, a Honestidade se tornou um registro de fracasso. Ser trapaceiro, falso, vil são "qualidades" inerentes aqueles que detém invejáveis sucessos, em todas as camadas sociais.
         Não importa o prejuízo e a dor resultantes desse processo de vitória perversa... De maneira, assustadoramente alienada, o autor festeja sem escrúpulos e sem se importar com a mágoa e o prejuízo alheios.              Assim, são desencadeadas diversas formas de trapaça para subtrair de incautos suas reservas financeiras ou objetos de valor ou negócios obscuros que propõem vantagens ilegais a outros desonestos feitos "sócios".
        O mais assustador é que este caos  se instalou,  sorrateiramente, nos órgãos públicos e os Poderes dessa República, contaminados há gerações pela facilidade de enriquecimento e favorecidos por conluios sórdidos modelaram indivíduos que, sob a outorga sub-reptícia do poder nos diversos níveis de comando e, dada a intimidade com a sordidez reinante, obstruem a Lei nas suas imposições orgânicas de Justiça e Ordem.
          Quisera, a Esperança fosse capaz de habitar minh'alma e desejos porém, desgraçadamente, a Corrupção está de tal forma arraigada que não creio ser o povo capaz extinguir o infeliz modelo de iniquidades e, aí sim, liberto dessas amarras, assumir de vez, um Novo Caráter de Conduta que dê ao País, Nacionalidade Ímpar, distante da instituída, forjada, enaltecida e anômala - fórmula de sobrevivência pútrida - a ALIENÍGENA
!