quarta-feira, 29 de agosto de 2012

NA VIDA COMO NA ARTE


              NA VIDA  COMO  NA  ARTE 
Sempre senti um grande prazer, viva emoção mesmo, frente a uma obra de arte. Escultores, pintores, desenhistas são alvo da minha inveja pelo dom de se expressar registrando cenas, paisagens, figuras humanas com sensibilidade e arrojo. Toda vida visitei Museus de Artes. Às vezes, parava por um tempo maior diante de uma pintura observando os detalhes das linhas, do toque sutil ou vigoroso dos pincéis, querendo descobrir mais do que talvez estivesse ali gravado, como se minha insistência acabasse por desvendar além do estilo impresso na tela, além da cena ou da expressão facial, além dos modos e paisagens inseridos na estrutura do desenho, mais que a intenção do artista - sua alma. Como se desvendado o mistério, eu pudesse alcançar sua alma num tempo pretérito, numa viagem futura e ao tocá-la, lhe dissesse do meu encanto, da minha grata admiração.
Loucura? Cada doido com sua mania.
À medida que fui alimentando esta ideia, fui  dilatando meu tempo de observação. Isto me fez retornar e insistir, inúmeras vezes, na apreciação da obra e hipnotizada, mergulhar nos traços e pinceladas até que, um dia de repente, como num abrir e fechar de olhos, se materializou o ritmo impresso pelo pintor na excitação de seus contornos, a gama de sua palheta sob o efeito, agora visível, de sombras e luzes iridiadas de sua sensibilidade.  Era como um milagre!  Ali, diante de mim, as cores se destacavam inebriantes, na sequência dos tons em que foram aplicadas. A súbita compreensão do efeito que o artista queria imprimir materializou-se transcendental.
Denso era o silêncio. Entorpecida, temerosa de perder a oportunidade, concentrei-me naquela viva experiência, quase em transe.
Desde esse dia nunca mais, tenho certeza, observei pinturas, desenhos, etc., sem me envolver com o trabalho exposto. Quando “assisto” a uma escultura viajo ao seu momento de criação, ouço o barulho de martelos, cinzéis... Penso na força dos golpes e na delicadeza que resultou na forma que deu expressão, sutileza, tessitura e vida à pedra fria.  Penso no olhar do artista, na circulação sanguínea, no turbilhão na mente, na sua capacidade de extrair da pedra crua, pássaros, homens, mulheres, crianças, flores,vestes, cordas e correntes que eclodem mágicos, resultantes do encantamento ora agressivo, ora doce do autor. Ele não vê como nós, pobres mortais, a pedra bruta. Ele sabe o que ela contém. Seu objetivo é livrar sua escultura presa no monólito ou na madeira ou dar vida a inertes materiais.
    Havia e ainda deve estar lá em exposição, um quadro responsável pelo meu mergulho. Um mergulho que reverte a profundidade. Ele retrata alguns homens e mulheres sentadas num jardim florido. Exibem a elegância da época: saias longas e fartas, armadas, punhos e golas rendadas, botas elegantes, cabelos longos, presos ou soltos em cachos, decotes generosos. À primeira vista é quase uma fotografia. Imagem estática. Súbito, percebe-se que os homens de chapéus e cavanhaques mantinham altivez na postura, porém não conseguiam se eximir do olhar atrevido para certas damas que sorriam provocantes e, quando traços e pinceladas emergiram, veio com eles à intenção crítica do pintor delatando um momento que, embora parecesse ingênuo, transcendia a visão imediata. Um escândalo para a época. Quem seriam eles? A imagem antiga, humana, real ganha dimensão inusitada e rompe o tempo.  Será que perceberam ao apreciar a obra realizada o quanto foram expostos? A subliminar revelação? Os vermelhos, verdes, marrons, azuis, amarelos todos conspirando em claros e escuros. Contrastes de luz e sombras nas faces e nas almas. Na vida e na arte.
Porque essa conversa agora?
Porque descobri e não nego o impacto. Sou capaz de transformar cenários e pessoas em fantásticos painéis. Compreendi tardiamente que cores, tons, luz e sombra podem ser extraídos do cotidiano e expostos livres, plenos de movimentos numa sequência mágica. Basta que eu me detenha. Que me permita interromper a velocidade, me abstenha da ansiedade e pare.Pare, não só extasiada diante do esplendor de um cenário natural, mas frente à percepção do cotidiano, ante as imagens que se sucedem como um turbilhão, usufruindo da arte que expõe a vida ao decifrar as expressões, cores, contrastes e evoluções.
Cada instante, cada gesto e ação, cada emoção, tudo transcorre num espaço e num tempo cujas proporções definem a arte de viver.
    Num inquieto mergulho, descubro monólitos esculpidos; luz; sombras. Que Artista expõe a vida colorida e surpreendente na galeria humana de obras de rara beleza, dramaticidade e humor nos esperando, pacientemente, sentir, olhar e ver – descobrir?
Qual será a real intenção do insuperável Artista?
O que espera de nós?
 Quem, o incrível desenhista, arquiteto, pintor, escultor...
Queria embevecida lhe tocar a alma...
Para um dia eu lhe dizer da minha eterna e grata admiração!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O PALCO DA VIDA


                         
                                   O PALCO DA VIDA

 Há que vencer!
 Improvisa e destrói a rota cena
 Confia à coragem
 Enfrenta teu dilema
 Ou recita o teu Otelo ou discursa como Cícero
 Inventa, não tenta ser preciso!
                 Navega sem destino
                 Ancora em novo porto
         Arrisca incerto tema
         Persegue outro marco
         Batuca uma novena
                 Canta um verso sacro
Descarta o velho ato
Desmonta teu dilema
Desequilibra o salto
Não chores tua pena
Aguça o teu faro
Deixa a sombra ao largo
Esquece toda mágoa
Acerta a flecha sem arco
                    Inverte! Inventa! Tenta!
                     Inflama este Palco!