sexta-feira, 26 de outubro de 2012

É JUSTO?

 

                                   É JUSTO?
Como fazer justa, a Justiça?
Se sobre ela cala a piedade
Se sob seu martelo decidido existe a vítima e a maldade

Como fazer justa, a Justiça?
Quando ignora a origen do ato
                      que pode condenar por inocente
                      que pode absolver o condenado

Como fazer justa a Justiça?
Se o jugo pela densidade se atém ao tempo exíguo
                       do momento predestinado

Como fazer justa a Justiça?
Quando um crime é perpetuado na memória não cicatrizada
                       marca de cruel passado
Como fazer justa a Justiça que se alheia prenha de vaidade
e distancia a verdade plena, da intenção sinistra de um fato

Como fazer justa a Justiça?
Se ela exibe como troféu raro a balança que sem esforço sustenta
                       e, cegamente, julga todo ato.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

AGORA E NA HORA... AMÉM



               



                   AGORA E NA HORA... AMÉM
                                    
                               China x Japão
                                Síria x Turquia
                                Irã x Israel
        Nem eu, nem você, nem ninguém verá surgir o sol do alento
        Já, a Esperança se desavém
        A luz que banha a esquálida Paz
        e ilumina as benesses de um novo tempo...  
        Tende a se apagar
        Não restará nem testemunhas, nem signos 
        para calcar nossa passagem neste lugar
        Dos restos de nossos restos... poeira
        Dos feitos, só os rejeitos
        Que pena!
        A sombra dissemina o mal que nos impusemos
        Além de toda ruína decomporá a cena
        A catástrofe se aproxima...
        Atentem todos:
-     - A guerra que extermina vai começar de novo!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

ORA! DIREIS...



                                              ORA! DIREIS...

Estava escurecendo. Ele me tomou pela mão e me levou ao jardim.
- Olha o que está acontecendo no céu! As estrelas estão acendendo!
Eu, criança, ali guiada pelo meu Pai, segui-o naquela viagem pelo espaço a observar atenta os pontos luminosos  rutilantes.
- Escolhe duas estrelas pra você.
- Posso?
- Pode, mas olha bem porque elas serão suas pelo resto da vida.
- Eu quero aquela grande piscando...
- E a outra?
- Aquela pequenininha perto dela.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Então, presta atenção, olha bem pra elas. Marca bem o lugar. Elas estarão sempre lá. São suas. Suas amigas. Você vai poder conversar com elas e elas vão sempre ouvir.
- Posso escolher outras?
- Não. Porque você depois pode confundir com muitas. Duas. Aquelas duas. Você vai sempre saber onde encontrar.
            Ali. Daquele jeito meigo, protetor e generoso meu pai me ensinou o aconchego da solidão. Mostrou-me suas estrelas e as estrelas de minha mãe que já estava muito doente.
- Elas nunca vão sair dali? Perguntei preocupada.
- Podem até se mover um pouquinho, mas estarão sempre ali. Guarda bem o desenho do lugar. É importante não esquecer a posição. Afinal, são suas amigas!
 E sorriu satisfeito.
Cresci fazendo amigos pela Natureza. Tenho árvores, caminhos, praias, montanhas, pedras, estradas e até silêncios... Descobri que os silêncios se diferem. Alguns desses amigos se perderam no tempo, graças à ação inexorável do progresso ou à insanidade humana, porém temerosa registrei suas imagens e momentos de nossa preciosa convivência e os visito e os revejo quando quero, acionando minha memória afetiva.
                   PALMARES
Eu tenho uma estrada que me acompanha
Que, às vezes, segue na frente
E às vezes, estranhamente, atravessa minhas entranhas
É longa... é sinuosa, anda pelos meus caminhos
Quando estou chorosa, murmura canto de pássaros
E, se estou silente, contorna-me docemente com seus abraços
É uma estrada viva, altiva e vaidosa
Em cada cantinho seu há uma cor, um perfume, uma flor dengosa
Porque muito pisei neste chão que encontrei na solidão da vida
Ela se instalou com a intimidade de quem se credita amiga
Confidências trocamos, imagens lembramos de tempos idos
E minha estrada contente chora comoventes lágrimas antigas
Assim, combinamos, se o cansaço vier durante a caminhada...
Eu a tomo no colo
ou ela me carrega até o fim da jornada!
       Não sei mais em que estado se encontra a Estrada dos Palmares, em Santa Cruz/RJ, mas o meu morro permanece incólume, como convém a um grande guerreiro:
                    EU, MORRO...
Eu tenho um morro querido
que por mim foi escolhido, entre tantos
É um monte escondido pela mata
num tecido feito de plantas
Envolvido pelo encanto, ele acena sereno minhas cores favoritas
Ao som dos cantos dos pássaros
Inda ao afagar gostoso de uma brisa bendita
Meu morro vive tão longe...
Mas de mim não esconde sua imagem eterna
Que vive nesta saudade, em meio as minhas ramagens
- raízes da minha terra!
Sou grata a meu Pai por me fazer olhar para o céu. Por me ligar ao Espaço, por favorecer a intimidade com o Universo em verdadeira integração de forma doce, lúdica, natural. De quando em vez recitava, carinhosamente, um de seus poetas preferidos - Olavo Bilac.
                         OUVIR ESTRELAS
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!”
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas”.

Ao olhar a noite, em meio a tantas, sou capaz de vê-las, nitidamente. Estão lá. Moveram-se um pouco como Papai falou, contudo guardaram a mesma posição: a grande e a pequenininha piscando pra mim a sua mensagem de eterna cumplicidade. Elas me fazem erguer a cabeça e me integrar ao Universo.
Do seu jeito suave, meu Pai fez com que sua única filha nunca se sentisse só!
zeliadacostamt@gmail.com