quarta-feira, 8 de novembro de 2023

 QUANDO O FIM É O PRINCÍPIO

 

-Onde as borboletas qual flores a bailar?

Que é dos beija-flores que desapareceram no ar?

Que caminhos tomaram besouros e mariposas?

 Por onde pirilampos perderam o iluminar ? 

Que é do mel se abelhas não há?

 Minhocas entraram em  vias traiçoeiras

E as aranhas desapareceram no destino final

Pássaros assistem florestas desertificarem

E as vidas rasteiras ardem sem lar!

Onde o ser humano crê que viverá? 

Zelia da Costa/08/11/2023


quinta-feira, 24 de agosto de 2023

     QUANDO A JUSTIÇA TARDA E FALHA

     Viajamos para Fortaleza!

      Acompanhei meu marido, médico, partícipe de um Congresso naquela cidade! 

      Enquanto ele cumpria seus compromissos...Eu resolvi passear pela praia, belíssima, por sinal.                   De repente, minha atenção inebriada pela paisagem foi interrompida pelo som estridente de buzinas, enquanto cerca de quatro ou cinco carros negros estacionavam, abruptamente, frente a um luxuoso hotel!Os ocupantes das viaturas saíram "disparados" para dentro do estabelecimento, deixando claro para os transeuntes, tratar-se de evento arriscado! Na hora, imaginei terem sido chamados com urgência por conta de algum assalto de grande vulto!

   Preocupada,tornei rápido para o hotel em que nos hospedáramos.

    Dia seguinte, caminhando pela calçada, abordei um ambulante:

- Ontem vi aqui um movimento inesperado, surpreendente mesmo, de policiais e veículos. O senhor viu também? Foi assalto?

- Não! Não moça! Antes fosse!O que aconteceu foi que um funcionário do hotel "deu parte" à Polícia de que uma mãe trouxe a filha, uma pobre menina para"servir"a um hóspede! Um crime,né? A criança "foi pega"nua no quarto do gringo! Um crime sem tamanho,né? 

- Eu estava pasma!

 A menina foi levada pro quarto do gringo, moça!...A menina tinha onze anos!Tinha bebido muito! Dopada por maconha e sei lá mais o quê!

 A Polícia chegou logo. O gringo fugiu, mas sabe né,

 o coitado do funcionário...Perdeu o emprego! 

-Jura???

- O pessoal do hotel não quer escândalo!

-Que horror!!!

- A senhora não sabe? Esses gringos só vem pra cá "pra essas bandas" por causa dessa bagunça! As mães dizem na polícia que não tem como sustentar a família e então, trazem filhas meninas pro sacrifício! Essa tinha onze anos! Acredita???  Esse pessoal enche as garotas de drogas e bebidas e elas entram "nessa vida", crianças ainda!...

Chorei!

- Chora não, dona...É a vida!

- Ninguém faz nada...As otoridades? Tão nem aí... Ninguém faz nada...Fica por isso mesmo! São meninas prostitutas, viciadas...Exploradas pela família...Elas nem sabem se gostam! Não conhecem outra vida e ninguém se importa...Ninguém tem  piedade! Elas não tem socorro!

    - Os irmãos precisam comer!

   - Justiça é pra quem pode pagar! 

    Quem sabe...Um dia alguém se compadeça... Se a gente se mete é capaz de ser preso!

  -Um juiz...Ah! Meu DEUS seria bom demais ,né?        Mas ninguém tá nem aí,dona, ninguém tem dó! A filha não é deles! Dizem que são prostitutazinhas... e esta coitada -   tinha só onze anos... Esta é a vida que ela conhece, dona...

 - Chora,não! Vai se acostumando... Esse Inferno? Tem jeito não, moça!...

  - O rapaz que socorreu a garota?...                         Ah!...Esse coitado perdeu o emprego!!!                         Agora, é os filhos dele que vai passar fome...

   "Êta ferro!!!" 

   - Que ódio! 

    - Fica triste,não!A gente acaba se acostumando... Ela não foi a primeira...Nem vai ser a última...Pode crer!Quem sabe se um dia a justiça vai ser justa,né?


 

sábado, 29 de julho de 2023

                      Sou apaixonada pelo Tempo! Talvez, esta seja a razão da nossa cumplicidade! Em meio à decorrência de fatos, ele tem como fidelidade fazer da vida um espetáculo ora surpreendente, ora curioso!                      

                   Aprendi com ele, a observar!

                   Viver exige respeito ao texto!  E o texto a que me refiro  é o decurso dos fatos e ele decorre sem planejamento ou aprovação                

Já imaginou o autor destes textos vividos em cada vida? 

         Ele expõe a cena!

        Cabe a que  imenso,desempenho!                                                                                                  A nossa responsabilidade responde pelo sucesso ou fracasso, dispostos as nossas decisões!                     

      Quando faço estas viagens, mergulho no tempo que parecia insondável e me sinto mergulhar nos fatos que responderam ou se tornaram origem de movimentos, sem previsão!                                                                                          O Curso Normal era responsabilidade do Estado! Havia à época duas escolas responsáveis por suprir a Educação no Rio de Janeiro Os Estágios eram cumpridos nas Escolas P

úblicas.Eles completavam a formação exigida aos candidatos ao Magistério Curso Normal e eram parte integrante do currículo!Na verdade,não escolhíamos pela distância, mas era uma aventura!Nós éramos alunas da Escola Normal Inácio Azevedo do Amaral, localizada na Gávea, zona sul quase às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas! Andando um pouquinho para a direita desfilávamos na calçada até o Jardim Botânico,criado por D.Pedro! Seguindo em frente, se chegava ao Hipódromo da Gávea, uma visão pacífica! De qualquer ponto do bairro, o Cristo Redentor se descortinava sob um céu azul ou emoldurado por raios deslumbrantes de sol!Quando as nuvens o escondiam, podíamos esperar a chuva!Se descrevo essa Natureza é para registrar o espanto!Nós todas morávamos na Zona Sul - Copacabana, Gávea, Ipanema, Leblon!    Fomos informadas que nosso estágio seria cumprido na Escola República do Líbano, na Favela de Vigário Geral! Soubemos que cada dia de aula somaria três pontos. Esta era uma informação importante,pois o total valeria para favorecer nossa escolha no final do ano.Assim, poderíamos escolher, no ano seguinte, escola próximo a nossa residência e morávamos na Zona Sul do Rio, portanto escolas de difícil acesso favoreciam nossas pretensões. 

sábado, 15 de julho de 2023

            ESCOLA JOAQUIM TÁVORA -  UM FUTURO... PERDIDO NO PASSADO

    Depois de trabalhar alguns anos na Zona Rural, percebi que o mundo até então conhecido, mudara de forma, sentido, profundidade e extensão. Eu não era a mesma pessoa e isso, ao mesmo tempo que constrangia,tornava-me senhora de uma altivez que por estranho, encorajava minhas ações instigadoras.Explico! A doença de minha Mãe e todo seu sofrimento até sua morte criara um sentido de justiça, alheio a qualquer senso comum.Não entendia e não aceito tal condição injusta,apesar de imenso esforço dela, mulher extremamente devota ao catolicismo, usando de toda sua fé para me convencer que "Deus sabe o que faz"!

              Mais tarde, a perda de meu Pai de forma tão cruel e surpreendente, fez evoluir em mim um novo sentido de existência. Descobri que a solidão é amarga  para quem não tem saudades!E saudade é memória viva e palpável!

            Fui aluna do Jardim de Infância que ficava frente à Igreja de Sant`Ana, localizada no alto da praça com o mesmo nome, em Niterói. Tive sorte! Muita sorte! Minha professora era poetisa, gostava de escrever peças curtas e compor pequenas canções, que decorávamos e apresentávamos como "Auto de Natal", além de pequenas dramatizações cantadas e contadas em versos e louvores em defesa da Natureza...Já, naquele tempo distante, era sua constante preocupação! Eram momentos belos e inesquecíveis. Até hoje canto e lembro de cor,por incrível que possa parecer,canções e textos de suas poesias!

         Bem,mudamos para Icaraí, até então, minha mãe era saudável! Ela queria muito que eu fizesse o Curso Primário na Escola Joaquim Távora - uma escola fantástica, inesquecível, incomparável, fora do espaço temporal por estar, até hoje, frente a um futuro inalcançável! Escrevi,há algum tempo um texto intitulado "Viagem ao Futuro do Pretérito" que narra esta minha positiva experiência infantil.Ali aprendi que, historicamente, a liberdade sem limites escraviza impiedosamente. Todas as personagens históricas, senhoras de poder ilimitado viveram na dependência daqueles detentores do conhecimento das fragilidades alheias que a vaidade impõe. Lá, na Joaquim Távora, éramos livres para brincar e correr num espaço enriquecido de sombras e gramados cortados por um riacho, povoado por aves,atravessado por pontes individuais e outras coletivas...Um sinal tocava e determinava assim, que agora, lavar mãos, guardar brinquedos e, se por em forma para dar sequência às aulas, era o comportamento natural decorrente.

             Dona Eumaya, nossa professora de primeira série, criou uma espécie de ritual a ser cumprido ao retornarmos:

  - inspirar e expirar cinco vezes - depois, baixar a cabeça, fechar os olhos e ficar deitado sobre os braços cruzados, durante cinco minutos.Segundo ela, eram exercícios de "volta à calma". E dava certo! A aula seguia seu curso normal, agora, sem interferência de qualquer agitação.

         Ali, evoluiu minha vocação para o Magistério! Minha mãe me alfabetizou.Tinha essa urgência, provocada pelo medo de partir. Assim,aprendi cedo a ler e lia muitos livros presenteados por amigos de meus pais movidos pela surpresa antecipada do meu domínio da leitura e pelo pesar da expectativa do desenlace materno. 

            D.Eumaya costumava me pedir para estudar páginas da cartilha com aqueles coleguinhas que tinham dificuldades e ela ficava radiante com a evolução que eu promovia. Descobri minha vocação -ali- e nunca duvidei disso. Aos poucos,os próprios colegas me pediam ajuda, antes que a professora os chamassem para leitura em voz alta.A Escola era viva, ativa, altiva e ali tudo se movimentava! Todas as datas, cívicas ou não, eram comemoradas como incentivo a nossa criatividade!As dramatizações de textos eram de nossa autoria e discutidas com os mestres e apresentada à diretora! Com auxílio da professora de Artes, criávamos cenários(lá, aprendi que cenários "falam"e que não são alheios aos nossos interesses.Funcionam como a Natureza que reage as nossas intenções e ações).

         A Escola Joaquim Távora viveu no Passado, um Futuro que nunca mais se fez Presente!

               

domingo, 16 de abril de 2023

AMÉM

         AMÉM

Estavam lá....

O sorriso e a curiosidade... 

Das registradas vontades

De quem indaga sem crer...

 

Estavam lá....

 

Olhos brilhantes, audazes

De quem abriga interrogações contidas

Num espaço de tão pouca vida!

 

Estavam lá...

 

Tateando o impossível!

Tempo indescritível, oculto... 

De outras Eras!

 

Estavam lá - a Esperança e a Certeza

Tudo exposto sobre  grossas mesas

Onde a Verdade afronta!

 

E, no entanto, a Paz primava

E neste rumo que encontrara

Cresceu de novo...a ESPERANÇA!

Zelia da Costa/RJ/!5/04'2023


 

 

 

 

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

           UCRÂNIA! ADEUS!

Um dia comum... Igual aos demais...

Anúncio e  prenúncio de ímpar beleza!

Um brilho translúcido, a distribuir Paz...

Paz - a  luz da riqueza!

Um céu azul de ímpar nobreza

Um povo feliz,  da fartura -  o  exaltar

Ucrânia! Viva! 

Viva Ucrânia!

Em meio às cidades, há músicas no ar

E gente risonha e alegre a cantar:

Viva a Ucrânia! 

Verdade a  raiar !


Mas, súbito, se fez negra, a orgia!

E as cores felizes deixaram de vibrar

Tempo em que homens perversos,                a Ucrânia invadiram...

Na ânsia louca de o Povo dominar!

E suas riquezas... 

Capturar!


Agora, a crueza infame de uma guerra 

Destrói a grandeza... Onde reinava a Paz!

Buscando vencer e  para sempre impor

Domínio sobre o povo até o esgotar

E ainda, humilhando .. o escravizar!


Depois de um dia mau, segue extrema, a covardia 

Assim, populações  tornadas frágeis alegorias

Entre disputas e ambições, ritos vadios

Na ânsia louca do domínio frio ...


Homens ímpios , penadas almas

Buscam no horror, esmagar vitórias

Sua vocação maldita, seu destino... matar!

Arrasam terras, amontoam tragédias

Inconscientes, malignos, injentes 

No domínio da glória insana

 Determinados a  tudo arrasar! 

Crendo cumprir  destino maldito e seu poder eternizar!..

Deixam em seus rastros, desvalida gente:

Cidades em  destroços e povos dos sonhos, descrentes

Prédios desertos...

Tudo em decomposição:

Escolas - teatros -  museus - templos...

Mortos?  

Um lixo comum pelo chão! ..

Putrefatos, também  os ideais se arrastam

Pelos sombrios desvãos onde se matam

E sons ensurdecedores viajam pelo ar 

Cumprindo um destino vil a procrastinar:

-É hora de matar!

A Arte, cultivada herança, da antiga glória...

 Feneceu!

A Música que os inebriava... 

Calou !

Entre escombros, o Silêncio avisa que morreu...

E um odor fétido invade o  espaço que restou!

Agora, perene forma de cansaço os domina...

 Explosões intermitentes gritam estrangeira vitória!

Enquanto o povo massacrado, chora...

Repelindo a maldita história...

Sem piedade, o inimigo  forja o triste e novo destino

Cravando mágoa e terror na longa e rica existência...

Mal calando as vozes e surdos à clemência

Esgota-se na  dor, a alma  da nobre gente,

Exibida entre destroços  nos soluços infensos

De um povo aterrorizado, perdido do Passado! 

Sem rumo, no Presente, enlouquecida a gente

Em meio a densas fumaças que evolam no ar...

Assiste a maldade querer se perpetuar!

           Nas penas do Inferno... 

                        Agora, teme acreditar!

                 18/01/2023