sexta-feira, 17 de novembro de 2017


UM SOCIALISTA NO ARMÁRIO
Pretendia contar o número de empresas, institutos e fundações estatais existentes no Brasil, considerando União, Estados e municípios. Comecei com determinação, mas desisti. Levei um susto! Quem quiser sentir a pujança do estatismo nacional vá à página da Wikipedia que tem a lista. Estamos falando de muitas centenas, senão de milhares desses entes. O Brasil é um país socialista, que muitos, sacudindo bandeiras vermelhas, se esforçam para tirar do armário. Armário cheio de esqueletos.
A União tem 148 empresas estatais! Trinta por cento, segundo editorial de O Globo do dia 19 de agosto de 2016, criadas durante os governos petistas. Anos de gritaria contra privatizações e discursos de que "Estão vendendo tudo!" me levaram, ingenuamente, a crer que de fato estivessem. Mas era berreiro na sala, para distrair, enquanto a cozinha produzia novas iguarias para o cardápio político. A mesma matéria de O Globo conta que entre o fatídico ano de 2003 e 2015, esses filhotes do amor petista pelo Estado pagaram R$ 5,5 bi em salários e totalizaram um prejuízo de R$ 8 bi. A mais engenhosa das novas estatais foi concebida no PAC 2. É a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), que absorveria a tecnologia do trem-bala e executaria o projeto da ligação de alta velocidade entre Rio e São Paulo. A empresa, descarrilada desde sua criação em 2008, é totalmente dependente do Tesouro.
O formidável e assustador conjunto das "nossas" estatais é parte ponderável dos problemas do Brasil. No entanto, o Instituto Paraná Pesquisas revelou, há três meses, que 61% dos brasileiros são contra privatizações feitas pelo setor privado. Pelo jeito, preferem as "privatizações" caseiras, as notórias apropriações, por partidos, sindicatos e líderes políticos, de tudo que for estatal. Se é para ser abusado que seja pelos de sempre. Trata-se de um vício do nosso presidencialismo. Quem governa comanda a administração e chefia o Estado, estendendo as mãos sobre o que puder alcançar em suas instituições.
É nos estofados desses grandes gabinetes, que a "privatização" do Estado proporciona os melhores orgasmos do poder. Em outras palavras: a experiência política e administrativa nos evidencia que empresas estatais realmente devotadas ao interesse público são fenômeno incomum. Como regra, resultam submetidas às conveniências privadas que descrevi acima. São nichos de usufruto e poder que pouco têm a ver com o bem nacional. Dentro desses domínios nascem as maiores reações a qualquer transferência que conduza ao desabrigo do Tesouro e às aflições do livre mercado. A ninguém entusiasma a ideia de remover o acento da poltrona e alinhá-lo à reta da competitividade.
A doutrinação socialista cumpre seu papel, ensinando que estatal é sinônimo de público, de social, e imune a interesses privados. Empresas estatais seriam como santuários de desprendimento e abnegação. Sim, claro. O Mensalão não existiu e a Lava Jato, você sabe, foi criada para impedir a alma mais honesta do Brasil de retornar à presidência.
E quando um partido sai, vem o outro para fazer a mesma coisa? - perguntará um leitor estrangeiro. Nem sempre, prezado visitante. Se o serviço for bem feito, a privatização partidária de um ente estatal pode ser anterior e se perpetuar além do governo desse partido. Quem duvida olhe para o Ministério de Educação e para as universidades públicas. Ali se educa a nação para amaldiçoar a iniciativa privada, amar o Estado, abrir o armário, e fornecer, nos ambicionados concursos públicos, respostas de acordo com o que pensa a banca.

Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

              
                          AGORA E NA HORA... AMEM

          Como tenho recordado as histórias de meu velho Pai, aliás, eu nem posso me referir a ele  usando esta expressão porque de “velho” ele nunca poderia ser chamado. Morreu  cedo.                       
          Engraçado que uso o verbo morrer sem sentir nenhuma dor.              
          A Morte é para mim uma sequência da Vida. 
          A Morte é real para quem deixa de existir e este não é o caso de meu Pai, minha Mãe, meu Avô Honório e amigos inesquecíveis. Eles estão presentes por seus pensamentos transmitidos em palavras e ações. 
          Quero também esclarecer que uso letras maiúsculas nos nomes que respeito, como País, quando me refiro ao Brasil.
    Isso já não ocorre, quando cito nomes de deputados, senadores ou juízes que, não raras vezes, o próprio computador faz negar a importância do registro da existência.
    Bem, voltando ao motivo deste texto -  as histórias de meu Pai!  
    Lá vai mais uma que ele me contou para explicar a inexorabilidade do momento final.
   Esta teve seu início na França:
   O Palácio de Versailles estava em festa. Um grandioso baile promovido por um de seus “ Louises”. De repente, entre fogos, flores, suntuosos  salões espelhados, roupas “chics”, champagnes e vinhos raros, um convidado se depara com a macabra figura da Morte, vestida de negro, empunhando sua foice e o encarando de forma a fazê-lo se arrepiar de espanto!
      Rápido, o convidado surpreendido convocou seus servos e partiu em fuga desesperada. Buscou o infeliz, apavorado, um destino o mais longínquo, o mais distante possível e escolheu o Deserto do Saara. 
      Venceu a distância num tempo raro para a época, pois teve que organizar, num momento exíguo e extraordinariamente avesso, uma enorme caravana, farta de recursos que lhe permitiriam  sobreviver num ambiente verdadeiramente inóspito.
        Enfim, conseguiu chegar! Cansado mais feliz, saiu da tenda em pleno deserto. Livre! Olhava para o horizonte árido, respirando fundo, admirando a vastidão, a profusão de areia, encantado com a solidão... 
       À noite o silêncio prateado pelo enorme luar foi interrompido! 
       Súbito, ei-la, a Morte com sua negra e horrenda túnica pairando a sua frente!Uma visão macabra!
       Aterrorizado, mas curioso ele a interpelou:
- Ontem, eu estava em Paris, num baile de gala, numa festa de indescritíveis luxo e prazer! E você apareceu assustada a me assombrar! O que você quer?
Repondeu-lhe a Morte:
- Eu não entendi... Estava realmente em pânico! Como você tendo que morrer aqui, hoje, a esta hora ...
  Ainda estava lá? Naquele lugar distante?
   Desta maneira, a sua maneira, meu Pai me ensinara que todos tem um destino comum, natural e irreversível!
Meu Pai só esqueceu que seu exemplo de dignidade e amor ‘a família e ao próximo o manteve vivo.
Conheço e conheci  outras pessoas. São meus amigos, eternos amigos. Meu Pai me ensinou a reconhecê-los. Muitos se foram, mas volta e meia me pego rindo ou lembrando dos momentos que vivemos, até hoje. Assim, garanto que eles vivem por aqui ao meu redor. Inesquecíveis pessoas! Carinhosamente convivemos!
Zelia da Costa/NM/02/11/2017/23:44.