SEGUNDO ATO
Quisera crer nas boas intenções
de um governo corrompido pela ânsia de poder. Essa voracidade desenvolve um
mecanismo hediondo de enriquecimento pessoal e partidário fazendo vítimas e
deixando um tenebroso rastro à sua passagem. Todas as especiais nocivas qualidades
que compõem o caráter desta elite
demonstram ser indispensáveis para o sucesso da sua empreitada.
Dinheiro é preciso.
Gosto de ver a vida como um Palco.
No momento, assisto a uma tragédia épica de final imprevisível. Percebo que os
atores principais, embora transitem com razoável segurança, temem perder o domínio
do espetáculo. O texto é difuso, os atores coadjuvantes sem qualidade e quando
o momento exige firmeza de voz e ritmo de ação, domínio de cena, segura
interpretação, eles descambam para a mediocridade impondo quase sempre o risco
do improviso.
O primeiro ato deixou atônita a
plateia. O herói principal é rude, ignóbil, mas carismático e conquista por
eleição o posto de autoridade máxima na condução do destino do País. Neste
cenário eclode “um júbilo popular” e
o impacto do resultado preocupa adversários quanto ao desempenho do líder
encantador. Ainda no primeiro ato, por urgência de sucesso fácil, absoluta
falta de coerência política e justificável desprezo pelas consequências, porém
com a habilidade manipuladora de quem conhece, por já ter integrado o Parlamento,
os nebulosos bastidores das ações maquiavélicas e o caráter reptício da maioria
de seus membros e através de seus leais assessores mais próximos, conquista de
forma irregular, desonesta mesmo e comprometedora o apoio daqueles a quem,
naquela época, sempre se referiu com acidulado desdém – os duzentos picaretas. Assim, se desenvolve o comércio de compra de
consciências e consequente apoio político
- o Mensalão - instituindo-se as nefastas cotas mensais com a agravante do
uso do dinheiro público e delatado por um insatisfeito deputado, também corrupto.
Ainda no primeiro ato, o povo é
tomado pela surpresa das atuações. Dá-se a metamorfose do líder.
A vaidade o cega. O poder o
fascina e para mantê-lo usa das medidas assistencialistas sem pudor, as mesmas
que condenava e que lhe garantirão a permanência no comando.
A palavra metamorfose não foi bem
aplicada, no caso. Perdão. Ela foi usada por inconveniente distração. O que a
natureza das atitudes expõe, não é a transformação de uma personagem, mudança
de forma e ação. É sim, a revelação desmascarada de um caráter promíscuo que
não se detém diante de qualquer obstáculo e utiliza de todos os meios, lícitos
ou não, sem culpa e com extraordinária desfaçatez, tanta que ouso duvidar da
sua sanidade mental. Inserido num contexto montado para ludibriar a
credulidade, o ator principal reage de forma ambígua, sustentado não só pelo talento
inato para seduzir e descomunal vaidade, mas pelas ações até criminosas
desenvolvidas por atores coadjuvantes também psicopatas.
Esta peça não é entendida por
qualquer plateia. Há que se notar que muito mais do que o texto traduzido em
cena, existe um malabarismo de ações conjuntas e premeditadas, ora para
envolver o público mais crédulo, menos exigente e, portanto amestrado, ora para
desmoralizar a inteligência daqueles que tentam buscar na interpelação ética, a
lógica que não existe nos objetivos amorais.
Numa observação mais acurada
percebe-se haver um assustador código,
um pacto tenebroso de fidelidade e silêncio que acorrenta os atores inseridos
neste drama infernal e os transforma em algozes e vítimas de uma perigosa
utopia. Aqueles que se rebelam...
Envolta na confusa retórica a
plateia é levada a perder o rumo e crendo participar deste teatro catastrófico
faz acontecer a anarquia, intenção inserida em cada passo dos atores e conduzida
magistralmente pelo astro principal.
Sei que no palco da vida já se
apresentaram artistas de inigualável talento. Tanto aqueles que nos encantaram
pela grandeza humana de seus princípios, quanto aos abjetos seres que nos
envergonharam com a sordidez de seus planos. Na verdade, o tempo interpôs uma
razoável distância e eles ficaram no registro de um outro momento. O que me
assusta agora é que travestidos numa nova época Nero, Calígula, Stalin, Hitler venham
nos assombrar.
Zelia da Costa/14/08/2013/14h54min
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