sexta-feira, 16 de agosto de 2013

SEGUNDO ATO



                       
                          SEGUNDO ATO

Quisera crer nas boas intenções de um governo corrompido pela ânsia de poder. Essa voracidade desenvolve um mecanismo hediondo de enriquecimento pessoal e partidário fazendo vítimas e deixando um tenebroso rastro à sua passagem. Todas as especiais nocivas qualidades que compõem o caráter desta elite demonstram ser indispensáveis para o sucesso da sua empreitada.
Dinheiro é preciso.
Gosto de ver a vida como um Palco. No momento, assisto a uma tragédia épica de final imprevisível. Percebo que os atores principais, embora transitem com razoável segurança, temem perder o domínio do espetáculo. O texto é difuso, os atores coadjuvantes sem qualidade e quando o momento exige firmeza de voz e ritmo de ação, domínio de cena, segura interpretação, eles descambam para a mediocridade impondo quase sempre o risco do improviso.
O primeiro ato deixou atônita a plateia. O herói principal é rude, ignóbil, mas carismático e conquista por eleição o posto de autoridade máxima na condução do destino do País. Neste cenário eclode “um júbilo popular” e o impacto do resultado preocupa adversários quanto ao desempenho do líder encantador. Ainda no primeiro ato, por urgência de sucesso fácil, absoluta falta de coerência política e justificável desprezo pelas consequências, porém com a habilidade manipuladora de quem conhece, por já ter integrado o Parlamento, os nebulosos bastidores das ações maquiavélicas e o caráter reptício da maioria de seus membros e através de seus leais assessores mais próximos, conquista de forma irregular, desonesta mesmo e comprometedora o apoio daqueles a quem, naquela época, sempre se referiu com acidulado desdém – os duzentos picaretas.  Assim, se desenvolve o comércio de compra de consciências e consequente apoio político - o Mensalão - instituindo-se as nefastas cotas mensais com a agravante do uso do dinheiro público e delatado por um insatisfeito deputado, também corrupto.
Ainda no primeiro ato, o povo é tomado pela surpresa das atuações. Dá-se a metamorfose do líder.
A vaidade o cega. O poder o fascina e para mantê-lo usa das medidas assistencialistas sem pudor, as mesmas que condenava e que lhe garantirão a permanência no comando.
A palavra metamorfose não foi bem aplicada, no caso. Perdão. Ela foi usada por inconveniente distração. O que a natureza das atitudes expõe, não é a transformação de uma personagem, mudança de forma e ação. É sim, a revelação desmascarada de um caráter promíscuo que não se detém diante de qualquer obstáculo e utiliza de todos os meios, lícitos ou não, sem culpa e com extraordinária desfaçatez, tanta que ouso duvidar da sua sanidade mental. Inserido num contexto montado para ludibriar a credulidade, o ator principal reage de forma ambígua, sustentado não só pelo talento inato para seduzir e descomunal vaidade, mas pelas ações até criminosas desenvolvidas por atores coadjuvantes também psicopatas.
Esta peça não é entendida por qualquer plateia. Há que se notar que muito mais do que o texto traduzido em cena, existe um malabarismo de ações conjuntas e premeditadas, ora para envolver o público mais crédulo, menos exigente e, portanto amestrado, ora para desmoralizar a inteligência daqueles que tentam buscar na interpelação ética, a lógica que não existe nos objetivos amorais.
Numa observação mais acurada percebe-se haver  um assustador código, um pacto tenebroso de fidelidade e silêncio que acorrenta os atores inseridos neste drama infernal e os transforma em algozes e vítimas de uma perigosa utopia. Aqueles que se rebelam...
Envolta na confusa retórica a plateia é levada a perder o rumo e crendo participar deste teatro catastrófico faz acontecer a anarquia, intenção inserida em cada passo dos atores e conduzida magistralmente pelo astro principal.
Sei que no palco da vida já se apresentaram artistas de inigualável talento. Tanto aqueles que nos encantaram pela grandeza humana de seus princípios, quanto aos abjetos seres que nos envergonharam com a sordidez de seus planos. Na verdade, o tempo interpôs uma razoável distância e eles ficaram no registro de um outro momento. O que me assusta agora é que travestidos numa nova época Nero, Calígula, Stalin, Hitler venham nos assombrar.
Zelia da Costa/14/08/2013/14h54min

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