Ao toque da campainha, todos os alunos formavam
para cantar o Hino Nacional e ver hastear a Bandeira Brasileira!
Entre centenários ingazeiros que manchavam de sombras sua fachada
poderosa, em meio a um bosque quase irreal, erguia-se a construção que na época
era chamada “Pavilhão”. Nele havia um anfiteatro com um imenso palco. Um grande
espaço ocupado por duas quadras de esporte. Ali se jogava vôlei ou basquete.
Havia arquibancadas de cimento vermelho tendo a base em tacos de madeira. Sob
as arquibancadas, de um lado estava o Gabinete Dentário e do outro o
Consultório Médico. A primeira vacina contra a varíola, em mim, foi aplicada
lá! O Pavilhão era aberto à comunidade e outras escolas também o utilizavam nos
finais de semana. O que me dei conta,
muitos anos depois, foi do avançado plano arquitetônico que distribuía pelo
espaço natural, prédios destinados ao trabalho de Educação, de forma
harmoniosa, integrada aos objetivos ambiciosos de quem, como um visionário,
transformou o sonho na realidade que, tenho certeza, você terá dificuldade de
crer. Senão vejamos:
- no mesmo bosque, distante cerca de
quatrocentos metros à direita, ficava a Oficina de Arte, um prédio emoldurado
pelos arcos que limitavam a espaçosa varanda. Lá, se aprendia desde o fino
bordado e suas tramas até trabalhos em metal, carpintaria, olaria, etc. Todo
tipo de artesanato. Próximo, se destacava a torre bem alta, vazada,
aparentemente frágil, mas que sustentava sem esforço, um imenso reservatório de
água.
Distando do Pavilhão uns bons duzentos metros, estava o imenso Refeitório.
Era o domínio de dona Elza, a chefe da cozinha, uma crioula alta de imensos
busto e sorriso. Especialista em nos persuadir a comer. O café farto era
servido a nossa chegada. O almoço às onze horas. Ao término, as professoras nos
solicitavam que, de braços cruzados sobre a mesa, “pousássemos” a cabeça sobre
eles. É incrível, mas lembro perfeitamente de elas usarem o verbo pousar! Ficávamos assim durante uns dez minutos.
Muitos até dormiam, sem interrupção... A seguir, uma delas, nos contava
estórias, enquanto outra ia desenrolando, ao mover a manivela, um carretel de
ilustrações pertinentes às cenas narradas ou desfolhando as páginas de um álbum
que ilustravam a estória. Eram os recursos visuais da época. A voz calma e melodiosa vencia as últimas
resistências e não raro, o sono nos impedia de acompanhar a narrativa até o
término. Afinal, acordávamos muito cedo, chegávamos às sete horas da manhã e
saíamos às dezesseis horas! Encerrada a
estória, éramos livres para nos dispersar pelo bosque, recreação livre durante
uns quarenta minutos quando então a campainha soava.
Entre árvores monumentais corria um riacho raso, onde pássaros se
banhavam e bebiam água. Eram muitos e entre eles as garças, elegantes e ariscas
- um toque paradisíaco.
Ligando as margens, pontes de cimento construídas imitando troncos
largos de árvores atravessavam o vão do córrego e os percorríamos de braços
abertos, testando o “equilíbrio”, embora também houvesse pontes rústicas, delicadas
e seguras de madeira.
Ao lado deste bosque, uma praça exibia um “Coreto”. Era quase uma
continuidade da mesma paisagem e ele era construído de ferro, imitando galhos
entrelaçados de árvores. Ali, nos finais de semanas, algumas bandas do interior
do Rio de Janeiro se apresentavam.
Salas de aula ocupavam espaços ao ar livre,
cercados por “fícus”, daqueles cuja folhinha se enrola e assobia. Ah! Nunca
mais vi ninguém fazer isso! Provavelmente, você nunca tenha visto e nem ouvido.
Não importa! O que interessa é dizer que eram podados de forma a criar uma
cerca viva que limitava os ambientes. Havia salas circulares, quadradas,
retangulares... Vez por outra, um pássaro deixava cair um cocozinho sobre um
caderno, um livro ou em nós e, eu me lembro, ficávamos doidos pra dar um “peteleco”
neles, pra cima de alguém. Pura molecagem
Quando o tempo “ameaçava” com vento ou
chuvas, íamos para o Pavilhão onde as aulas transcorriam normalmente. O
mobiliário externo era retirado e guardado.
Uma elevação de cerca de três metros acima do solo foi construída e sobre
ela, num patamar de mármore foi criado em “madeira de lei”, um prédio sóbrio como
um palácio. Ele exibia seu salão quadrado com quatro enormes portas que se
abriam aos “Pontos Cardeais”. O acesso se dava pelas quatro amplas escadas de
pedras com seus largos degraus. As paredes eram todas em vidro “bico de jaca”,
emoldurados em madeira num quadriculado pequeno e elegante que lhe dava
suntuosidade! Funcionavam em seu interior o Gabinete da Diretora, um pequeno
Museu de História Natural e a Biblioteca. Tudo lindo e inesquecível! O acesso
aos alunos era livre e inquestionável, não fora a Diretora alguém cuja
sensibilidade e preparo ainda não foram superados!
Alzira Bittencourt – nunca mais conheci alguém com tanta majestade – era
a Diretora! Carismática, culta, meiga e forte era ouvida com atenção e nos transmitia
o sentimento de orgulho, compromisso e vaidade por sermos parte de um projeto
de grandeza. Afinal, ali estava implantado, sem que se soubesse “um campus”, construído
para atender o Curso Primário (primeiro apelido que conheci do hoje vulgo
“ensino fundamental”). “Ela criou dois clubes cívicos: o “Brasileiro” cujo
uniforme era o mesmo azul marinho e branco que usávamos e o “Panamericano” todo
branco”. É lindo”, eu pensava. Os clubes eram responsáveis pela organização das
comemorações das datas importantes e por
eventos que nos interessavam criar. Os alunos escolhiam o “clube” de sua
preferência, se cadastravam e participavam ativamente. No início do ano letivo
era elaborada uma seleção de temas e um programa de atividades, relacionado. A
organização de exposições, peças de teatro, textos literários, dramatizações, composições musicais, saraus,etc., eram discutidos
nos grupos de trabalho. Professores acompanhavam, enfatizavam pontos
importantes, sugeriam aspectos a serem
abordados, nos dispunham a bibliografia do assunto a ser desenvolvido,
corrigiam e se divertiam com os caminhos que a criatividade infantil tomava
para surpresa de quase todos. Era um trabalho em grupo com rara dinâmica! O
termo “projeto” não era popular como hoje, nem tão desgastado. O trabalho envolvente
contaminava até as famílias e, dependendo da abrangência muitos pais eram
convidados a contribuir com sua experiência enriquecendo o tema ou na
construção de cenários, confecção de roupas, etc. Quando da apresentação interna, votávamos nas
opções que selecionadas eram consideradas vencedoras. Discursos, dramatizações,
textos, danças e outras quaisquer propostas disputavam e eram apresentadas no
grande palco do Pavilhão, às vezes, só para alunos e mestres, outras, para
comunidade e nossas famílias.
Eu era do Panamericano! Respeitávamos um cronograma de reuniões e de
apresentação de propostas, sob a orientação de profissionais competentes das
diversas áreas que convidados, nos ajudavam a dar visibilidade e a concretizar
nossas idéias. Descartados os absurdos, levávamos as propostas ao conhecimento
da Direção e ao escrutínio. Depois de escolhida, a participação era integral.
As aulas de “Canto Orfeônico” alimentavam o nosso Coral com o repertório
indispensável!
Às quatorze horas era servido o leite com “ovomaltine” e biscoitos.
Pode acreditar! Eu fui aluna da Escola Joaquim Távora! Minha primeira
professora - dona Eumaia – baixinha, de cabelos louros encaracolados parecia um
bichinho ligeiro, num tempo sem grades e no qual nunca ouvi falar em disciplina.
Como fui alfabetizada por minha mãe, dona Eumaia me pedia para ajudar a estudar
com outras crianças as “leituras” da “Cartilha”. Isso era comum lá.
- Com parceria e generosidade todos aprendem,
dizia dona Alzira!
Tínhamos aulas de Ginástica e na
Recreação Dirigida, além de jogos, ensaiávamos música e danças folclóricas que
eram exibidas pelos “clubes” nas datas festivas.
Sim! Havia aulas normais e o programa estabelecido pelo governo era
vencido sem “traumas”, até porque ele se “reduzia” diante das necessidades de
outras intervenções que aceleravam, naturalmente, o processo
ensino/aprendizagem.
Havia visita de grupos estrangeiros e nós, apesar de crianças, nos
sentíamos honrados porque percebíamos a surpresa de que eram tomados e a
felicidade estampada no rosto de dona Alzira!
Acredite! A Escola Joaquim Távora era uma Escola Pública!
Quando formada no Magistério tive que escolher
uma escola para iniciar minha carreira... Pasmem...
A primeira escola em que trabalhei como
profissional do magistério se chamava:
- Escola Franklin Távora!
Ainda existe e fica em Santa Cruz, na
época, zona rural do Rio de Janeiro!
E aí? Você vai começar a acreditar nas minhas
histórias? Você precisa! Sei que minhas
histórias parecem ficção.
E virão muitas por aí!
Eu estou lhe apresentando A Magia da Realidade
e ela está acontecendo agora – com você – preste atenção na sua vida!
É a sua Mágica História!
zeliadacostamt@gmail.com
zeliadacostamt@gmail.com
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