sábado, 3 de dezembro de 2011

CONVERSA FIADA (1)


Sempre fui criticada pela mania de falar com animais como se fossem pessoas. Eu, por condescendência comigo ouso dizer, com pseudo suavidade, que a palavra mais coerente a ser aplicada neste caso é hábito. Mania tem uma conotação negativa, uma carga de desequilíbrio que, como todo louco, nego aceitar.
Quem pode afirmar o domínio humano sobre qualquer conhecimento?
       Quando era criança ficava horas observando a formiga fazendo seu caminho e, durante o percurso, se deter ao encontrar outra e nesta pausa, num tempo exíguo, executarem movimentos quase imperceptíveis, uma espécie de mímica que eu tentava decifrar. Tenho a certeza de que elas conceberam um código de comunicação e acredito que seja um aviso do tipo:
- Vá em frente! A barra está limpa!
      Se eu lhes interceptava o caminho, elas enlouqueciam. Era um “salve-se quem puder”! Corriam sem destino e não mais se comunicavam. Entendi, ainda criança que, como os humanos no desespero, o instinto de sobrevivência garante a preservação da espécie.
Eu sempre falei com gatos e cachorros, mas via minha mãe conversar e cuidar, sem poupar elogios, das esplêndidas plantas que, vaidosas, exibiam flores e folhas. Ela exaltava o viço dos “brotinhos” que surgiam e os saudava, efusivamente, como se fora surpresa o irromper dos novos e bem vindos membros da família.
Cansei de ouvir as vizinhas reclamarem que as mudas que tinham comprado juntas, não estavam com o mesmo viço que as da minha casa. Achavam que minha mãe escondia o “segredo” que usava para ter tanto sucesso! Acreditavam na “magia” de algum adubo “secreto”.
Foi, portanto minha mãe, que morreu quando eu ainda era criança, que, talvez por premonição, abriu para mim o caminho da comunicação com todos os seres vivos, impedindo desta forma que eu vivesse a grande solidão da sua ausência.
Próximo a minha casa havia um pedaço de floresta que um riacho atrevido cortava e  desaparecia, logo depois, canalizado sob a rua. Em meio aquela mata, eu construí uma “cabana” de bambu, coberta de folhas de bananeiras que eu renovava de quando em vez. Aos cinco anos, alfabetizada por minha mãe, num processo indolor, eu amava ler. Levava meus livros para meu refúgio quando queria ficar longe do sofrimento que eu não entendia.
 Eu tinha muitos amiguinhos. Brincava de tudo que hoje as crianças desconhecem. De “pular carniça”, “pique”, “procurar o anel”, “batatinha frita”, “estátua” até as brincadeiras de roda: “pai Francisco”, o “cravo e a rosa”, “roseira”, “eu entrei na roda” e  outras e outras e outras...
Havia, porém aqueles momentos em que eu queria ficar com meus livros, os antigos e os novos que ganhava dos amigos da família. Eles achavam “graça”, naquela época, eu ser tão pequena e ler, por isso constantemente me presenteavam. Nessas ocasiões eu ia para a “cabana”, não era como a de “Tarzan”, mas era a minha. Dos livros que eu mais gostava tenho trechos decorados até hoje! De poesias a estórias!
Bem, como eu ia dizendo...agora tenho que interromper, o almoço está posto. Com licença!
- Ah! Perdão! Está servido?
zeliadacostamt@gmail.com

  

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário