sábado, 16 de janeiro de 2016

FALSO CORDEL

                    FALSO CORDEL

O momento era de grande apreensão:
Havia um Juiz e o Advogado de Acusação!
Sentado em uma cadeira
Sem mistério e sem véu...
-DEUS era o RÉU!-

A Humanidade cansara de tanto sofrimento
E num acordo sem precedentes
A população mundial
Chegara ao consenso fatal:
- DEUS deveria ir a Tribunal!

E ali estava ELE, com sua translúcida túnica,
uma oportunidade talvez única,
de ver DEUS... " face a face "!

DEUS estava ali. E Só.
Sem nenhuma escolta.

Enquanto crescia o burburinho e a revolta,
ouviu-se a voz clara e sonora do advogado
que por justiça implora!   

Nunca aconteceu um momento como agora...

DEUS comovido chora!
Olha...
E ouve a Humanidade...
- Queremos explicações:
Porque há tanta seca nos desertos e nos sertões?
Porque o frio do gelo que cobre o solo polar,
castiga a quem ousa aquele lugar habitar?
E por que a tantas doenças estamos predestinados?
E por que permite a ira a que estamos condenados?

As frases ribombavam no estranho Tribunal,
O povo se contorcia como fera animal!

Por que inventou a dor, lágrima da agonia...
Por que se faz alheio?
Em Seu NOME se faz guerra e o sangue cobre a Terra!
Não somos os Filhos Seus?
Responde, por favor, “em Seu Nome, ó DEUS!”.

Não teremos mais clemência!
Perdemos a inocência!
Perdemos a paciência!
Foram tantos os horrores...
Que perdemos os temores!
Resta-nos só a fé na Justiça Real !
Em Nome da Verdade, diga-nos algo afinal!

E DEUS ergueu-se solene,
(Como convém ao Divino)
- Por que vieram a Mim?
Se lhes dei a inteligência...
Dei-lhes amor e bondade,
sentimentos que vencem
qualquer dificuldade!

Dei-lhes todos os climas
para que possam escolher onde quiserem viver!

Há vulcões, há terremotos, ventos, chuvas, maremotos...
As forças da natureza geram original beleza, modelam
e com grandeza abrem-lhes novos caminhos...
Criam raras paisagens!

Minhas Obras respeitassem...
Não estariam sozinhos!

Não lhes dei a Covardia, da falsa superioridade!
Nem o Desejo de Poder que exalta a vaidade!

Se eu criei as Diferenças que são a sua riqueza,
origem de toda Glória...
Por que na mesquinha igualdade
querem viver sua História?

E sem permitir
que alguém O pudesse interromper,
ELE continuou:
-As Doenças?
Vocês as fizeram nascer!
As Guerras são frutos de sua enorme ambição!
A Miséria resulta da Indignidade
Que livre - cerceia toda Humanidade!

Dei-lhes os Sentidos...
Dei-lhes o Prazer...

O que tem vocês a me oferecer?
O JUÍZO FINAL?

Ah!Não!
Não sou EU o julgado neste Tribunal!

Eis que é chegado o momento derradeiro...
Pois, sem perceber a sua ousadia...
Viveram vocês - o Último dos dias!

E, com um gesto, quase trivial,
que o Eterno consagrou...

Reordenou o Universo

E TUDO RECOMEÇOU!

 Zelia da Costa/Adamantina/SP/2004.


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