domingo, 27 de novembro de 2011

Código Natural


Era um almoço. 
Um almoço que deveria transcorrer com a tranquilidade da refeição comum do dia de semana. Sobre a mesa, os alimentos dispostos e a família reunida e faminta.
Os pratos quentes fumegavam! O cheiro da comida exacerbava os apetites.
Súbito, surgiu uma abelha! 
Ela voava sobre as travessas fazendo desenhos no ar, rompendo a fumaça como se desafiasse o perigo.
Imediatamente, todos tentavam enxotá-la, temendo que estragasse, com sua queda, o prazer da refeição.
Meu coração “apertou”. Há entre mim e as abelhas um capítulo de amor “bem resolvido” e a minha eterna gratidão. Temi pela vida dela. Certamente, ela ia morrer!
Peguei um prato e tentei colocar sob ela, no ar. Ela pousou. Levei-a no prato a uma outra mesa onde estavam as sobremesas. Havia uma compoteira com doce de ameixa em calda. Coloquei um pouco da calda no centro do prato e fiquei esperando ela se refazer e perceber.
Tateando, ela se dirigiu ao doce e começou a “comer”.
Feliz, não me contive e com o dedo indicador tentei fazer-lhe carinho. Ela viu, ergueu as duas patinhas anteriores e levantou a cabeça. Era uma ameaça! Tentei de novo. Ela de novo as apontou...  mas recolheu. Abaixou as patinhas e a cabeça. Entendi a mensagem e fiz o carinho que queria.
Enquanto isso, filhos e marido irritados, reclamavam minha presença.
Voltei para o almoço muito feliz. Meu marido acostumado com estas minhas aventuras quis saber da abelha.
Judith está comendo também. Todos riram.
- Judith! Era só o que faltava!
Meia hora depois apareceram duas abelhas.
Reclamação geral.
         Rápida, peguei outro prato vazio. Estranhamos a rapidez com que uma das abelhas pousou. Parecia já conhecer o processo. Logo, a outra a imitou. Levei as duas ao "seu almoço” e, não sei porque, estendi o dedo sobre as cabeças delas. Só uma levantou as patinhas – a outra, tive certeza – era Judith! Ela havia informado a colméia?... Será?
          Ester, também ficou amiga.
          Daí pra frente, eu colocava o prato com calda doce e elas vinham! Eram muitas. Chegavam por volta de dez horas da manhã. Eu acarinhava  todas. Eu tinha a sensação de que havia um código de comunicação, entre elas, alertando para não me ferir. 
Ficamos amigas: eu, Judith, Sarah, Ester...
          O prato era um enorme círculo coberto de vida.
          Um amigo de meu filho, Paulinho, perguntou-me o porquê desses nomes.
          -Tenho amigos judeus muito queridos e distantes. Talvez, sem sentir, deixei falar a saudade.
             Intrigados, eles queriam saber como eu distinguia os sexos.
            - Eu não tenho essa preocupação, mas reconheço Judith porque ela me procura pela casa.
            Sei que não deveria alimentar as abelhas. Elas exercem função vital na reprodução da vida da floresta- a polinização!  Ocorre que, nesta época eu morava em Rondônia e os incendiários estavam à solta! Esta é a razão dos insetos e de todos os animais que podem, fugirem e invadirem as cidades: de abelhas às onças; de cobras aos morcegos, etc.
            Tempos depois, tive que viajar e deixei minhas amiguinhas.
            Um dia, meu filho ligou-me aflito:
- Mãe! Nossas abelhas estão sendo atacadas! Acabou o doce e eu pus mel pra elas. Acho que esse mel atraiu as outras.
- Vai ver é mel fabricado por estas. São de outra “família”. Faz assim: tira o prato. Não põe mais! Não se deve interferir na Natureza! Se elas estão em perigo... Não vale a pena insistir! As chuvas chegaram e a Floresta vai tentar se recompor.
A vida das abelhas é naturalmente curta. Pelo tempo, Judith já não mais existia.
- Elas vão ficar com raiva da gente, mãe!
- Elas vão entender o recado! 
  Você não conhece as Abelhas!
zeliadacostamt@gmail.com

2 comentários:

  1. Fascinante!! toda forma pura e linda da mãe natureza .Entendi perfeitamente como funciona a sintonia e vibrações entre um e outro. A senhora é uma pessoa genial Tia Zelia ,posso lhe dizer com firmeza e clareza, sou um seu aprendíz . Amo vc bjs e saudades.... joão Adolfo

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  2. Parece que estou te vendo nesse .movimento com as abelhas, amiga.

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