sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

ACREDITE SE QUISER



                                       

                                        ACREDITE SE QUISER
                       

                     Pela primeira vez, o País era convocado para ouvir o Presidente da República, recém eleito, na televisão!
                     Hoje, a gente até desliga o aparelho se não consegue mudar de canal, mas naquela época a TV era quase uma novidade, logo, era bastante inusitado este anunciado evento.  Nunca antes na história deste País isto ocorrera sob tal expectativa. Ele faria uma proclamação? Qual seria o teor de seu discurso? Faria algum desafio? Alguma queixa? Certamente, agradeceria os votos recebidos na eleição, falaria sobre a posse...
      - O Presidente Juscelino vai falar hoje na televisão!
      - Você vai assistir?
      - Vou!
      - Eu vou pra casa da minha avó. Minha família vai toda pra lá. Vamos vê-lo juntos.
            Nem todos tinham “o aparelho de TV”. Por isso os vizinhos, amigos e parentes se organizaram atraídos pela novidade.
                 Algumas pessoas que saíam do trabalho se agrupavam pelas calçadas, diante das vitrines de lojas de eletrodomésticos que exibiam uma TV funcionando, como irresistível atração e aguardavam, entre o burburinho das opiniões, o pronunciamento de Juscelino.
            Enfim, chegou a hora. Não lembro se o prefixo  musical foi a Protofonia do Guarani ou parte do Hino Nacional Brasileiro, mas foi algo que criou e alimentou densa atmosfera de nacionalidade e respeito. A ansiedade tornou-se quase palpável.
        Alto e magro. Ele não era bonito. Elegante, sim. Tinha um sorriso iluminado e com a radiante simpatia mineira saudou o povo. Começou por falar do seu Projeto de Governo – Cinquenta anos em Cinco - e para que todos, sem exceção, o entendessem com clareza foi, didaticamente, traduzindo o que significava o conjunto de Metas que organizaria o futuro do País e o conduziria à prosperidade. Explicou, usando quadros estatísticos, cuidadosamente elaborados, onde detalhava todo o processo -  os objetivos de cada uma das Metas e sua inserção no plano geral, os limites de tempo para sua execução, o custo do investimento, o grupo de trabalho envolvido no processo e o nome do responsável pelo gerenciamento. Tudo tinha consistência, tamanho, importância, preço, definição, datas de início e fim.
  Havia sempre um compromisso definido. Uma data para prestação de contas ao povo.
             Não falava como um Professor, mas como alguém que nos fazia crer, sermos importantes e a quem ele devia satisfação como se fossemos, é verdade, seus parceiros leais.
           Ele comprometeu a população com o seu destino!
  Imagina! Um povo acostumado a ser súdito, verdadeira “massa de manobra”, de repente, perceber que o governo está sendo compartilhado de forma transparente e inequívoca. Era uma experiência tão nova quanto surpreendente.
   O Presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira inaugurou, embora com grande atraso, nos idos de 1956 - o verdadeiro Sistema Democrático Republicano Brasileiro! Era espantoso. Quase uma traição à comodidade brasileira, ao nosso “espírito Macunaíma”, aquele herói sem nenhum caráter. Estranhamos. Não era pra menos. Ele não se exibia como o Pai do Povo, título comum e muito apreciado pelos líderes dos governos ditatoriais. Nem fazia o estilo soberano inerente aos mandatários que eleitos necessitam impor distância segura entre suas escusas ações e o povo que governa. Ele não ocultava suas intenções, não se inseria no jogo corrupto do poder. Com a oposição foi generoso e severo.
   O fato de investir na prosperidade fez com que os brasileiros acreditassem nas suas próprias possibilidades de inserção e vitória e fomos tomados por um soberbo amor ao País! Ele era “pé quente”!
    Foram os Anos Dourados!
   Adhemar Ferreira da Silva se fez Campeão Olímpico no Salto Triplo na Cidade de Melbourne, Austrália. Sua marca só foi batida quarenta e oito anos depois. Esse foi o seu primeiro título e deu início a uma série de vitórias.
    Gilmar, De Sordi, Bellini, Zito, Orlando, Nilton Santos, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé, Zagalo, a gloriosa Seleção Brasileira de Futebol vence na Suécia e traz para o Brasil, em 1958, sob o comando de Feola, a Primeira Copa do Mundo.
    Maria Esther Bueno foi a primeira tenista brasileira a vencer e se tornar a grande campeã em Wimbledon. Começo de carreira longa e brilhante.
    Havia uma atmosfera de bem estar e orgulho.
    O Cinema Brasileiro ganha a Palma de Ouro no Festival de Cannes (França) com  “O Pagador de Promessas”. Enquanto o filme “O Cangaceiro” se torna sucesso pelo mundo.
    A Bossa Nova atravessa a fronteira e a Música Brasileira ganha novas dimensões.
    Avançar cinquenta anos em cinco!
    Depois desta primeira vez, ele aparecia nas telas dos jornais, exibidos nas salas de cinema e na televisão, inaugurando as obras propostas, nas datas estabelecidas. 
             Então, era verdade! Podia acontecer! 
             Não era propaganda enganosa.
   Juscelino criou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), aumentou a produção de petróleo da Petrobrás, promoveu a Indústria Naval e a Indústria Siderúrgica. Construiu as grandes Usinas Hidrelétricas de Furnas e a de Três Marias. Promoveu a implantação da Indústria Automobilística. Abriu as rodovias que uniram regiões brasileiras.
   A inflação subiu, no entanto o País crescia 7,9% ao ano, crescimento nunca visto antes, nem depois na história deste País e o salário mínimo do trabalhador brasileiro em 1959, descontada a inflação, quer dizer, em valores reais, foi considerado o mais alto de todos os tempos.
   Ele investiu na Política Externa quando formulou a Operação Panamericana.
   Outras inúmeras oportunidades de comunicação se tornaram frequentes até que anunciou para espanto geral, a construção de Brasília! Há muito, a Constituição Brasileira preconizava a mudança da sede do Governo Federal para o Planalto. Era importante que acontecesse, mas quando?
   Agora, Juscelino falava com certa intimidade. Ganhara a confiança do povo. Os caminhões FNM (fenemês) rodavam pelas novas estradas e havia orgulho nos olhares brasileiros porque todas as metas obedeciam aos cronogramas de execução. Aí, ele convocou a população mais uma vez para um programa especial na TV e nele anunciou, minuciosamente, o Projeto da Construção de Brasília e da Estrada Belém/Brasília.
    No dia seguinte, começaram as piadas humorísticas porque o Presidente garantiu a data de lançamento da pedra fundamental e a data da inauguração das obras.
       Era engraçado mesmo, vê-lo nas telas usando elegantemente  terno e “chapéu coco”,  sentado sobre uma enorme pedra, em meio a um matagal, cercado por engenheiros e arquitetos e pranchetas e candangos, todo sorridente comunicando que ali se ergueria Brasília, a nova capital!
      Não é que duvidássemos, porém desta vez era de tal magnitude a empreitada... Construir uma cidade em quatro anos, num lugar inóspito, árido...  Rasgar uma floresta virgem ligando a Amazonia ao Cerrado! O Norte ao Centro-Oeste?
      Durante alguns anos o Presidente Juscelino virou motivo de chacota para seus adversários políticos que não o pouparam.  Ironizavam sua determinação e também sua lucidez foi posta em dúvida. Até que no dia marcado, chefes de governos ou representantes e convidados chegaram e juntos com os candangos, (operários das construções), funcionários e com a exatidão de quem honra compromisso assumido, de quem ousa tomar as rédeas e domar o destino, BRASÍLIA foi inaugurada. Os brasileiros assistiram deslumbrados e sob o impacto das imagens da TV à cerimônia de inauguração da nova Capital do Brasil.
     O Governo Federal mudou-se da BELACAP (Rio de Janeiro) para a NOVACAP (Brasília). Eram as manchetes.
     O Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira teve a lisura e grandeza para formar uma equipe de homens de grande competência e seu entusiasmo contaminou todos que participavam de seu Projeto de Governo. O gênio de seus arquitetos e engenheiros criou traços tão inovadores que atravessarão o tempo exibindo sua modernidade. De operários a doutores todos viveram a magia de compartilhar um raro momento histórico.
             Apesar do trabalho hercúleo exigir muito esforço e uma enorme soma de dinheiro e empreiteiras e um cem número de outras empresas contratadas, o Presidente concluiu seu mandato sem enriquecer a custa da corrupção.
              Não é permitido ao Presidente e a sua esposa e familiares receberem presentes, acima do valor de cem dólares, portanto ele deixou o Palácio da Alvorada sem notável bagagem.
            Sua esposa Dona Sarah Kubitschek criou a Organização das Pioneiras Sociais e fundou o Sistema de Hospitais Volantes nos estados e o Hospital Flutuante, navio fabricado na Alemanha que percorria os rios da Amazonia, atendendo aos povos ribeirinhos e indígenas. Era uma mulher ativa e dedicada. Viúva, viveu da pensão do marido e morreu no apartamento que alugava.
            O Presidente Juscelino provou que para evoluir é indispensável que haja um Projeto de Governo. Sem isso, se instala a anarquia: obras são iniciadas, desbaratadas e abandonadas por não obedecerem a nenhum cronograma de realização. É importante que as Metas estabelecidas  sejam concretizadas com sucesso no tempo previsto para que não encareçam. É indispensável que a equipe selecionada para o trabalho tenha competência e compromisso. Urge que se imponham, de fato e sob o rigor da ética e da lei, severas punições a quem incorrer na malversação do dinheiro público.  Há que se exigir comprovados: caráter e dignidade de todos os seus colaboradores.  O Chefe de Estado tem que ser incorruptível.
      Era uma vez um homem digno, inteligente. Ele governou o BRASIL de 1956 a 1961 e teve a coragem de concretizar seus sonhos e fazer um Povo crer no Poder de sua Nação.
   Por que falo sobre isso com você?
   Porque tudo acabou.

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