terça-feira, 22 de janeiro de 2013

ABSTRATO



                                          ABSTRATO
Abstrato! Sou apaixonada por certas palavras que hipnotizam por sua conotação mágica. Lembro-me que a primeira vez que a ouvi e li, foi na escola. A professora disse:
- Os substantivos podem ser abstratos ou concretos.
Para mim, concreto era algo fácil de entender. O substantivo concreto tinha que ter peso, forma, volume, cor, medida, visibilidade, mas e o abstrato?
Ela começou falando que o substantivo abstrato era algo que você sente e que existe, porém não se vê.
Eu era criança. Fiquei fascinada! Nem me lembro de ela se deter em mais explicações. Para mim bastava. A verdade é que era possível escrever palavras cujos significados reais escapam ao nosso domínio e que só existem, se existimos. Um quase mistério.
Ah! O tal substantivo abstrato era invisível!
Eu, até podia escrevê-lo, fazer o seu registro. Nunca, porém, usá-lo sem compromisso como fazia com o substantivo concreto!
Como exemplo, ela citou:
- Maria sente saudade.
Para a mestra, saudade era um substantivo abstrato. Existe, mas não se vê. Como a alegria, a dor, a felicidade...
Aí, eu fiquei confusa. A saudade de minha mãe ainda doía demais. Eu sabia até o tamanhão que tinha e entendi que o mistério do abstrato é que ele pode ser concreto para uns e invisível para outros.
Hoje sei que aí reside a trama das relações. O abstrato é para mim, o signo das ideias. Quando escrevo corro livre pelo texto e quando leio, me envolvo na arquitetura desenvolvida por tangentes expressões.
Vou lhe perguntar uma coisa:
- Alguma vez, já se surpreendeu com a reação de alguém que interpretou o que você disse, de modo absolutamente desconectado da sua original intenção?
Pode culpar o abstrato! Se isso aconteceu.
Não existe justa forma de identificar o que se sente e ser capaz de universalizar a emoção.
Quando assisto a esses programas produzidos para televisão, sobre incríveis pesquisas a que se dedicam os cientistas – físicos, astrônomos, engenheiros, etc. - na busca de respostas para intrigantes teorias e que eles usufruem do privilegiado “olhar futuro”: arguto, frio, documentado, investigativo, inteligente e exacerbado pela notável potência das sensíveis lentes dos telescópios que remetem imagens de extraordinária beleza em medidas universais com informações preciosas e que navegam a velocidades incomuns, a bordo de foguetes exploradores rompendo o espaço e mergulhando numa viagem sem volta, além, além...
Penso que somos seduzidos, não pelas respostas e sim pela pergunta:
- Onde? 
OAbstrato?
         E este independe de nós.

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