quinta-feira, 4 de março de 2021

             

TER   OU   NÃO SER

Teimou abrir, vagarosa, a porta...

E uma luz meio morta turvou-lhe a visão

A nuvem de poeira que cobria a casa inteira, ressecou-lhe as mãos

Chegou à escadaria, enquanto o suor forte escorria e passos pesados soavam

O coração comovido como nunca, pulsava!

Agora, um odor amigo, velho conhecido, agridoce exalava...

Como se fosse chá fresco, em descolorida chávena "porcelanizada"!

Onde ouvir o alarido?

Onde o som antigo e doce da flauta que um sopro  entoava?

Onde a viola faceira, comovente e companheira, que a saudade abrigara? 

Por que as vozes que entoavam modinhas delicadas e faceiras... calaram?

Quando os sorrisos exibidos, sutilmente contidos, foram no tempo, apagados?

Por que lágrimas comovidas,tão sentidas,agora secaram?

Que é dos seios atrevidos que, arfantes, tentavam?

Que fim tiveram os  espartilhos?

Que provocavam suspiros e pensamentos inevitáveis...

E os pezinhos bailarinos que temiam assustados...

Outros pares bailando tocarem?

Quando os trajes, de elegante colorido... Desbotaram?

Por que os cabelos soltos ou prisioneiros revoltos... Desencantaram?

Onde a "galanteria"? Quando olhares diziam o que era pra negar!

Quando as almas, que vadias, se "tornavam" Poesia... Calaram?

Onde os toques na pele que arrepiavam e faziam sussurrar...Esgotaram?

Onde a delicadeza esculpida na beleza das sombras, sob o luar?

Onde a melodia exarada,se fizera sonorizada no contexto vocabular?

Que foi feito do eco que perseguia gargalhadas soltas no ar?

Onde toques proibidos, sutilmente permitidos, foram se ocultar...

A lágrima que pingou agora, na amarelecida página...

Borrou dedicatória querida...

Antes que o sono chegasse... 

E sem sutileza, os sonhos vedasse... 

E que a saudade covarde calasse...

Cerrou a Porta da Arte...

Dormiu...

Voltando à vida!

Zelia da Costa/Sapezal/MT/2014.


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