domingo, 27 de dezembro de 2015

PORTEIRA

             
                    PORTEIRA


Atravessou a porteira pela vida inteira
E nem notou o quanto envelheceu
Porteira de madeira, agora castigada,
foi tanto maltratada... pelo tempo fustigada...
Ela não cedeu!

Dobradiças resistentes de ferro, potentes,
aguentaram o abre e fecha de gerações;
por ela passaram carros de boi gementes...
Cavaleiros imponentes, amazonas
e, finalmente, os caminhões

A estrada, sua fronteira,
perdeu-se na poeira de muitas ambições
O mangueiral sobranceiro, de doce manga-espada,
míngua triste enclausurado pelo canavial
Os pássaros nativos tornaram-se cativos
e o canto, dos que ficaram, entristeceu!

Os animais que viviam na floresta preservada
são troféus de caçada nas paredes, qual museu;
e a peãozada que ria e que valentias cantava
hoje virou bóia-fria, sem destino e sem morada!

A fumaça da usina deixa no céu um negrume
e o acre azedume impede o cheiro da flor
Um muro cerca os domínios do exaltado progresso
e a marca do sucesso exige grades, portões...

Então, a hora é chegada:
Com muita força e a machadadas, a porteira é destruída!
E quem ordenou tal ato descobre, tardiamente,
que em nome do presente...
Foi-se o encanto da vida!


Zelia da Costa
zeliadacostamt@gmail.com

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