terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

COM SUA LICENÇA, PERMITA-ME



          
             COM SUA LICENÇA, PERMITA-ME

O tempo poderia ser convertido em aliado e a Educação Brasileira seria beneficiada de uma forma “nunca antes vista neste País”, caso nossos “doutos e sábios governantes” fossem capazes de perceber, insisto - perceber- que as novas gerações já estão inseridas noutra espantosa realidade.
Gostaria muito que as famílias não caíssem neste engodo imposto às crianças de seis anos que “não podem ser prejudicadas por uma alfabetização precoce”. Besteira!
         É apenas uma questão de política menor. Hoje, crianças de seis anos criticam, deduzem e extrapolam suas ideias com naturalidade surpreendente. Ocorre, é que a incompetência administrativa e os desvirtuados interessses não privilegiam esta demanda porque criança não vota.  Caso fosse estabelecido em Lei esse atendimento, o contingente de crianças com esta idade teria, obrigatoriamente, que ser absorvido pelo Ensino Fundamental e não haveria estrutura para atendê-lo. Aliás, estrutura é uma palavra que não cabe como alicerce de qualquer projeto atual. Eis a cruel verdade - não haveria nem espaço físico e nem profissionais especializados para desenvolver um trabalho de tal magnitude.
       Essa pseudo proteção que se evoca é cínica, descabida e escabrosa.    A solução moral, decente, racional, responsável seria construir mais escolas específicas, atraentes e preparar uma população de mestres aptos a lidar com esta enorme clientela ávida, extremamente curiosa, cuja inteligência absorve e domina rapidamente, quando à disposição, até os sofisticados malabarismos tecnológicos.
Ninguém se preocupa em construir condições para esse sucesso.
A massa de analfabetos identificada na estatística apenas se repete e se reproduz infinita. Uma rotina cruel. Já não escandaliza mais. É citada como se não coubesse a ninguém a trágica cumplicidade governamental.
Como tatuagem, o analfabeto carrega a marca de sua deficiência na leitura, interpretação e redação até aos bancos da universidade. Na verdade há um forte temor de que o desempenho das crianças de seis anos possa ser nefasto e que a esse mal resultado se agregue o insucesso do cambaleante e fracassado evento de alfabetização aos sete anos. Tudo porque os gestores da Educação, estes sim, ainda não entenderam como municiar, intelectualmente, esta infância. Sabe por quê? Porque não conhecem nada deste futuro presente e menos ainda da dinâmica dos processos de alfabetização que deveriam aglutinar áreas importantes relacionadas à saúde. Porque, além do obtuso e imediato interesse político, eles acreditam que aprender dói. Ninguém perde a infância por evoluir no conhecimento de forma criteriosa, competente e bem humorada. Ao contrário. Brincadeiras resultam em descobertas pessoais e potenciais desdobramentos divertidos e inteligentes, intrigantes. Mas, eles tem razão. Sofreram tanto num sistema cruel de aprendizagem que muitos se tornaram refratários à ideia de estudar. De aprender. De se preparar. Envelheceram guardando segura distância. Num país de analfabetos, o sucesso é a “malandragem”, a desonestidade enaltecida e modelar. Vangloriam-se seus ícones, do esplendor da própria ignorância. Não dimensionam o prejuízo e nem a própria humilhação mascarada pela vaidade.
Nossos políticos de baixa instrução declamam discursos elaborados por seus assessores numa triste subserviência intelectual. Se acaso ousam improvisar, aí expõem sua integração ao índice de analfabetos que assola o país. Como interpretar leis, avaliar textos de documentos importantes para o Brasil, sem o auxílio de um tradutor do próprio idioma? Aceitando um ponto de vista alheio e o defendendo a qualquer custo com a humildade que sua mediocridade admite?
E há quem se vanglorie da cruel ignorância por não traduzir a dimensão do prejuízo causado ao povo que inserido também na estatística sofre as consequências, sem condições intelectuais de avaliar a razão fundamental do irreparável.
Esvaiu-se o bom-senso.
O processo de comunicação escrita e oral, a desenvoltura para ensinar a ler, interpretar e escrever demanda técnica, ambiência e especial humor.
Se acaso houvesse algum interesse, realmente honesto, a primeira medida seria possibilitar serviços de saúde para atendimento específico à clientela infantil. Isso validaria não só o processo ensino/aprendizagem no decorrer do Ensino Fundamental, mas promoveria êxitos sem precedentes no decorrer de sua formação como indivíduo. Crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, seja lá com que idade, podem enxergar mal. Muitos alunos são sacrificados por problemas na visão, sem correção. Outros são considerados hiperativos porque não ouvem bem. Só atendem com insistentes chamados. São crianças agitadas, ansiosas. Na maioria das vezes, os pais não percebem, mas um professor atento e esclarecido pode identificar a dificuldade, no mínimo, desconfiar. Os problemas na fala dificultam qualquer investida na evolução natural.
 A desnutrição bloqueia o sucesso na aprendizagem. E, olha que a desnutrição não é monopólio das famílias carentes!
Estar alerta, manter esses serviços de qualidade, auxiliaria a correção do projeto. O ideal é que o Sistema Pré – Escolar fosse atendido de imediato. Seria um enorme ganho.
Problemas emocionais, familiares ou não, também interferem gravemente na evolução de um aluno. A implantação de serviços de atendimentos psicossociais promoveria a conexão, auxiliando os professores na compreensão do comportamento infantil e no planejamento de seu trabalho.
É importante ser feliz, mas ser feliz na infância garante, a cada um, a certeza da esperança que partilha e respeita a felicidade alheia.
Uma infância infeliz responde pela agressividade e até pela violência futura.
Há ainda uma questão pessoal e intransferível: o ritmo. Não há como determinar tempo de assimilação do conhecimento.
Inegável é que aprender seja lá com que idade é um processo de permanente evolução.
Alimentar e provocar o desejo de estudar, fazê-lo de forma sistemática, porém indolor e lúdica garante a latente motivação.
Ninguém ensina ninguém. O indivíduo apreende.
Cada um absorve o conhecimento na medida de seu interesse e da sua potencialidade e, é este interesse que deve ser provocado de maneira efetiva na criança quando se utilizam técnicas atraentes, dinâmicas, bem humoradas, lúdicas, mas objetivas - incentivos medidos e bem aplicados liberam a criatividade.
Iniciar o processo de alfabetização aos seis anos favorece o aluno, porém exige do governo investimentos, providências quanto a cuidados médicos imediatos para atender à demanda desta enorme população infantil, espaços físicos ideais e profissionais capacitados. O custo financeiro seria alto. Exigir que todas as crianças estejam alfabetizadas aos oito anos é tão estúpido quanto impedir seu ingresso aos seis anos no Ensino Fundamental.
Melhor brincar de faz de conta. Fingir-se guardião.
Ninguém “aprende cedo”, se apreendeu foi a competência que fez sua - a hora.
Ninguém seria obrigado a “dominar” a leitura e interpretação aos seis anos, mas também não deveria ser impedido de ver a luz.
Ler, interpretar e escrever dá a cada um o domínio de sua própria fé.
                        Zelia da Costa/NM/MT

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