COM SUA LICENÇA, PERMITA-ME
O tempo poderia ser convertido
em aliado e a Educação Brasileira seria beneficiada de uma forma “nunca antes
vista neste País”, caso nossos “doutos e sábios governantes” fossem capazes de
perceber, insisto - perceber- que as
novas gerações já estão inseridas noutra espantosa realidade.
Gostaria muito que as
famílias não caíssem neste engodo
imposto às crianças de seis anos que “não
podem ser prejudicadas por uma
alfabetização precoce”. Besteira!
É apenas uma questão de política menor. Hoje, crianças de seis anos criticam, deduzem
e extrapolam suas ideias com naturalidade surpreendente. Ocorre, é que a incompetência
administrativa e os desvirtuados interessses não privilegiam esta demanda
porque criança não vota. Caso fosse estabelecido em Lei esse
atendimento, o contingente de crianças com esta idade teria, obrigatoriamente,
que ser absorvido pelo Ensino Fundamental e não haveria estrutura para
atendê-lo. Aliás, estrutura é uma palavra que não cabe como alicerce de qualquer
projeto atual. Eis a cruel verdade - não haveria nem espaço físico e nem profissionais
especializados para desenvolver um trabalho de tal magnitude.
Essa pseudo proteção que se evoca é cínica, descabida e escabrosa. A solução moral, decente, racional, responsável
seria construir mais escolas específicas, atraentes e preparar uma população de
mestres aptos a lidar com esta enorme clientela ávida, extremamente curiosa,
cuja inteligência absorve e domina rapidamente, quando à disposição, até os
sofisticados malabarismos tecnológicos.
Ninguém se preocupa em
construir condições para esse sucesso.
A massa de analfabetos
identificada na estatística apenas se repete e se reproduz infinita. Uma rotina
cruel. Já não escandaliza mais. É citada como se não coubesse a ninguém a
trágica cumplicidade governamental.
Como tatuagem, o
analfabeto carrega a marca de sua deficiência na leitura, interpretação e
redação até aos bancos da universidade.
Na verdade há um forte temor de que o desempenho das crianças de seis anos
possa ser nefasto e que a esse mal resultado se agregue o insucesso do
cambaleante e fracassado evento de alfabetização aos sete anos. Tudo porque os gestores da Educação, estes sim, ainda
não entenderam como municiar, intelectualmente, esta infância. Sabe por quê?
Porque não conhecem nada deste futuro presente e menos ainda da dinâmica dos
processos de alfabetização que deveriam aglutinar áreas importantes
relacionadas à saúde. Porque, além do obtuso e imediato interesse político,
eles acreditam que aprender dói. Ninguém perde a infância por evoluir no
conhecimento de forma criteriosa, competente e bem humorada. Ao contrário.
Brincadeiras resultam em descobertas pessoais e potenciais desdobramentos
divertidos e inteligentes, intrigantes. Mas, eles tem razão. Sofreram tanto num
sistema cruel de aprendizagem que muitos se tornaram refratários à ideia de
estudar. De aprender. De se preparar. Envelheceram guardando segura distância.
Num país de analfabetos, o sucesso é a “malandragem”, a desonestidade enaltecida
e modelar. Vangloriam-se seus ícones, do esplendor da própria ignorância. Não
dimensionam o prejuízo e nem a própria humilhação mascarada pela vaidade.
Nossos políticos de
baixa instrução declamam discursos elaborados por seus assessores numa triste
subserviência intelectual. Se acaso ousam improvisar, aí expõem sua integração
ao índice de analfabetos que assola o país. Como interpretar leis, avaliar
textos de documentos importantes para o Brasil, sem o auxílio de um tradutor do
próprio idioma? Aceitando um ponto de vista alheio e o defendendo a qualquer custo
com a humildade que sua mediocridade admite?
E há quem se vanglorie
da cruel ignorância por não traduzir a dimensão do prejuízo causado ao povo que
inserido também na estatística sofre as consequências, sem condições
intelectuais de avaliar a razão fundamental do irreparável.
Esvaiu-se o bom-senso.
O processo de
comunicação escrita e oral, a desenvoltura para ensinar a ler, interpretar e
escrever demanda técnica, ambiência e especial humor.
Se acaso houvesse algum
interesse, realmente honesto, a primeira medida seria possibilitar serviços de
saúde para atendimento específico à clientela infantil. Isso validaria não só o
processo ensino/aprendizagem no decorrer do Ensino Fundamental, mas promoveria êxitos
sem precedentes no decorrer de sua formação como indivíduo. Crianças que
apresentam dificuldades de aprendizagem, seja lá com que idade, podem enxergar
mal. Muitos alunos são sacrificados por problemas na visão, sem correção.
Outros são considerados hiperativos porque não ouvem bem. Só atendem com insistentes
chamados. São crianças agitadas, ansiosas. Na maioria das vezes, os pais não
percebem, mas um professor atento e esclarecido pode identificar a dificuldade,
no mínimo, desconfiar. Os problemas na fala dificultam qualquer investida na
evolução natural.
A desnutrição bloqueia o sucesso na
aprendizagem. E, olha que a desnutrição não é monopólio das famílias carentes!
Estar alerta, manter esses
serviços de qualidade, auxiliaria a correção do projeto. O ideal é que o
Sistema Pré – Escolar fosse atendido de imediato. Seria um enorme ganho.
Problemas emocionais,
familiares ou não, também interferem gravemente na evolução de um aluno. A
implantação de serviços de atendimentos psicossociais promoveria a conexão,
auxiliando os professores na compreensão do comportamento infantil e no
planejamento de seu trabalho.
É importante ser feliz,
mas ser feliz na infância garante, a cada um, a certeza da esperança que
partilha e respeita a felicidade alheia.
Uma infância infeliz
responde pela agressividade e até pela violência futura.
Há ainda uma questão
pessoal e intransferível: o ritmo. Não há como determinar tempo de assimilação do
conhecimento.
Inegável é que aprender
seja lá com que idade é um processo de permanente evolução.
Alimentar e provocar o
desejo de estudar, fazê-lo de forma sistemática, porém indolor e lúdica garante
a latente motivação.
Ninguém ensina ninguém.
O indivíduo apreende.
Cada um absorve o
conhecimento na medida de seu interesse e da sua potencialidade e, é este
interesse que deve ser provocado de maneira efetiva na criança quando se
utilizam técnicas atraentes, dinâmicas, bem humoradas, lúdicas, mas objetivas -
incentivos medidos e bem aplicados liberam a criatividade.
Iniciar o processo de
alfabetização aos seis anos favorece o aluno, porém exige do governo
investimentos, providências quanto a cuidados médicos imediatos para atender à
demanda desta enorme população infantil, espaços físicos ideais e profissionais
capacitados. O custo financeiro seria alto. Exigir que todas as crianças
estejam alfabetizadas aos oito anos é tão estúpido quanto impedir seu ingresso
aos seis anos no Ensino Fundamental.
Melhor brincar de faz
de conta. Fingir-se guardião.
Ninguém “aprende cedo”,
se apreendeu foi a competência que fez sua
- a hora.
Ninguém seria obrigado
a “dominar” a leitura e interpretação aos seis anos, mas também não deveria ser
impedido de ver a luz.
Ler, interpretar e
escrever dá a cada um o domínio de sua própria fé.
Zelia
da Costa/NM/MT
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