sábado, 15 de junho de 2013

COM SUA LICENÇA



                                
                                 COM SUA LICENÇA

O tempo poderia ser convertido em aliado e a Educação Brasileira seria beneficiada de uma forma “nunca antes vista neste País”, caso nossos “doutos senhores” fossem capazes de perceber, insisto - perceber-  que as novas gerações já estão inseridas noutra espantosa realidade.
Gostaria muito que as famílias não caíssem neste engodo imposto às crianças de seis anos que “não podem ser prejudicadas por uma alfabetização precoce”. Besteira!
         É apenas uma questão de política menor. Hoje, crianças de seis anos criticam, deduzem e extrapolam suas ideias com naturalidade surpreendente. Ocorre, é que a incompetência administrativa e os desvirtuados interessses não privilegiam esta demanda porque criança não vota.  Caso fosse estabelecido em Lei esse atendimento, o contingente de crianças com esta idade teria obrigatoriamente que ser absorvido pelo Ensino Fundamental e não haveria estrutura para atendê-lo. Eis a cruel verdade - não haveria nem espaço físico e nem profissionais especializados.
       Essa pseudo proteção é cínica, descabida e escabrosa.    A solução moral, decente, racional, responsável seria construir mais escolas atraentes e preparar uma população de mestres aptos a lidar com esta enorme clientela ávida, extremamente curiosa, cuja inteligência absorve e domina rapidamente, quando à disposição, até os sofisticados malabarismos tecnológicos.
Ninguém se preocupa em construir condições para esse sucesso.
A massa de analfabetos identificada na estatística apenas se repete indefinidamente e se reproduz infinita. Uma rotina cruel. Já não assusta mais. É citada como se não coubesse a ninguém a trágica responsabilidade.
Como tatuagem o analfabeto carrega a marca de sua deficiência de leitura, interpretação e redação até aos bancos da universidade. Na verdade há um forte temor de que o desempenho das crianças de seis anos possa ser nefasto e que a esse mal resultado se agregue o insucesso do cambaleante e fracassado evento de alfabetização aos sete anos. Tudo porque os gestores da Educação, estes sim, ainda não entenderam como municiar intelectualmente esta infância. Sabe por quê? Porque não conhecem nada deste futuro presente e menos ainda da dinâmica dos processos de alfabetização que deveriam aglutinar áreas importantes relacionadas à saúde. Porque, além do obtuso e imediato interesse político, eles acreditam que aprender dói. Ninguém perde a infância por evoluir no conhecimento de forma criteriosa, competente. Ao contrário. Brincadeiras resultam em descobertas pessoais e potenciais desdobramentos divertidos e inteligentes, intrigantes. Mas eles tem razão. Sofreram tanto num sistema cruel de aprendizagem que muitos se tornaram refratários à ideia de estudar. De se preparar. Envelheceram guardando segura distância. Num país de analfabetos, o sucesso é a “malandragem”, enaltecida e modelar. Vangloriam-se seus ícones, do esplendor da própria ignorância. Não dimensionam o prejuízo e nem a própria subserviência mascarada pela vaidade.
Esvaiu-se o bom-senso.
O processo de comunicação escrita e oral, a desenvoltura para ensinar a ler, interpretar e escrever demanda técnica, ambiência e especial humor.
Se acaso houvesse algum interesse, realmente honesto, a primeira medida seria possibilitar serviços de saúde especiais para este atendimento.  Crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, seja lá com que idade, podem enxergar mal. Muitos alunos são sacrificados por problemas na visão. Outros são considerados hiperativos porque não ouvem bem. Só atendem com insistentes chamados. São crianças agitadas, ansiosas. Na maioria das vezes, os pais não percebem, mas um professor atento e esclarecido pode identificar a dificuldade, no mínimo desconfiar. Os problemas na fala dificultam qualquer investida na evolução natural. A desnutrição bloqueia o sucesso na aprendizagem. E, olha que a desnutrição não é monopólio das famílias carentes!
Estar alerta, manter esses serviços o quanto mais cedo, é melhor. O ideal é que o Sistema Pré – Escolar fosse orientado neste sentido. Seria um enorme ganho.
Problemas emocionais, familiares ou não, também interferem, gravemente, na evolução de um aluno. A implantação de serviços de atendimentos psicossociais facilitaria a compreensão e auxiliaria os professores.
Há ainda uma questão pessoal e intransferível: o ritmo. Não há como determinar o tempo de assimilação individual do conhecimento.
Inegável é que aprender seja lá com que idade é um processo de permanente evolução.
Alimentar e provocar o desejo de estudar, fazê-lo de forma sistemática, porém indolor, garante a latente motivação.
Ninguém ensina ninguém. O indivíduo apreende.
Cada um absorve o conhecimento na medida de seu interesse e da sua potencialidade e, é este interesse que deve ser provocado de maneira efetiva na criança quando se utilizam técnicas atraentes, divertidas, lúdicas, mas objetivas - incentivos medidos e bem aplicados.
Iniciar o processo de alfabetização aos seis anos favorece o aluno, mas exige do governo investimentos, providências quanto a cuidados médicos imediatos para atender à demanda desta enorme população infantil, espaços físicos e profissionais capacitados. O custo financeiro seria alto. Melhor brincar de faz de conta. Fingir-se guardião.
Ninguém “aprende cedo”, se apreendeu é porque era sua a hora.
Tem gente que envelhece incapaz de irromper seus próprios limites.
Ninguém seria obrigado a ler aos seis anos, mas também não deveria ser impedido de ver a luz.
Ler, interpretar e escrever dá a cada um o domínio de sua própria fé.
zeliadacostamt@gmail.com

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