ERA UMA VEZ... OUTRA VEZ
Lá estava ele. Ele não. Eles.
Em seu entorno, um público fiel, acrescido de uma plateia de várias nacionalidades que se renovava a cada momento, atraída pela arte daquele jovem cigano. Em verdade, a dupla era irresistível:
- O cigano e seu títere. -
Nós, eu e minha filha que estudava piano na cidade de Viena, na Áustria, éramos parte daquelas pessoas e, seduzidas, já nos tornáramos espectadoras assíduas daquele espetáculo, sensível e acolhedor, de arte popular.
O jovem que manipulava o brinquedo parecia dominar a linguagem universal, que ativa, se fazia efetivar através dos cordões que ele acionava com maestria, como antenas.
Nunca soube o nome do artista, porém sua arte era universal e traduzida na leitura dos gestos exagerados, ora vertendo expressões carinhosas de modo suave, ora fazendo eclodir formas de exagerada ternura, na maestria do toque que o títere cômica ou dramaticamente se fazia executar.
Quando me via chegar o boneco gritava:
- Mama!
E abria os braços e logo os fechava num caloroso abraço imaginário, pois, nos tornamos íntimos pela convivência. Comovida, eu revidava.
Quando alguma jovem era atraída, os olhos do boneco saltavam das órbitas, encantados e encantando no susto, a recém chegada.
Tudo ocorria ao som de músicas seletas e obedecendo a uma sonoplastia manipulada pelo cigano de forma sensível e comovente.
As pessoas que participavam da plateia não se negavam a deixar sobre o grande e colorido lenço estendido no chão da calçada, moedas e notas, que se transformavam no "ganha pão" do criativo artista.
Eu, distante de meu país e cheia de saudades de minha família e amigos, era grata ao cigano, seu boneco e sua arte que, sempre e generosamente, me saudavam com um grito:
- Mama!
(Um filho, que me fazia atravessar em segundos - oceano e tempo!}
-Sim. Um cigano e seu títere que nunca me permitiram descobrir afinal:
- Quem era "o boneco"?
Pois, o títere desenvolvera irresistível personalidade e inegável domínio de comunicação... Assim, era ele, em verdade, quem ganhava o pão do artista!
À nobreza dessa Arte Popular, mas não vulgar, meus aplausos eternos,gratos e comovidos!
Zelia da Costa/Nova Lima/MG/04/07/2020/21:52
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