sábado, 4 de julho de 2020

      ERA UMA VEZ... OUTRA VEZ

       Lá estava ele. Ele não. Eles. 
      Em seu entorno, um público fiel, acrescido de uma plateia de várias nacionalidades que se renovava a cada momento, atraída pela arte daquele jovem cigano. Em verdade, a dupla era irresistível: 
     - O cigano e seu títere. -
       Nós, eu e minha filha que estudava piano na cidade de Viena, na Áustria, éramos parte daquelas pessoas e, seduzidas, já nos tornáramos espectadoras assíduas daquele espetáculo, sensível e acolhedor, de arte popular.
       O jovem que manipulava o brinquedo parecia dominar a linguagem universal, que ativa, se fazia efetivar através dos cordões que ele acionava com maestria, como antenas.
       Nunca soube o nome do artista, porém sua arte era universal e traduzida na leitura dos gestos  exagerados, ora vertendo expressões carinhosas de modo suave, ora fazendo eclodir formas de exagerada ternura, na maestria do toque que o títere cômica ou dramaticamente se fazia executar.
       Quando me via chegar o boneco gritava:
         - Mama!
     E abria os braços e logo os fechava num caloroso abraço imaginário, pois, nos tornamos íntimos pela convivência. Comovida, eu revidava.
     Quando alguma jovem era atraída, os olhos do boneco saltavam das órbitas, encantados e encantando no susto, a recém chegada.
     Tudo ocorria ao som de músicas seletas e obedecendo a uma sonoplastia manipulada pelo cigano de forma sensível e comovente.
     As pessoas que participavam  da plateia não se negavam a  deixar sobre o grande e colorido lenço estendido no chão da calçada, moedas e notas, que se transformavam no "ganha pão" do criativo artista.
     Eu, distante de meu país e cheia de saudades de minha família e amigos, era grata ao cigano, seu boneco e sua arte que, sempre e generosamente, me saudavam com um grito:
    - Mama!
    (Um filho, que me fazia atravessar em segundos - oceano e  tempo!}
    -Sim. Um cigano e seu títere que nunca me permitiram descobrir afinal:
    - Quem era "o boneco"?
    Pois, o títere desenvolvera irresistível personalidade e inegável domínio de comunicação... Assim, era ele, em verdade, quem ganhava o pão do artista!
    À nobreza dessa Arte Popular, mas não vulgar, meus aplausos  eternos,gratos e comovidos!
    Zelia da Costa/Nova Lima/MG/04/07/2020/21:52

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