A UM AMIGO INESQUECÍVEL
Nosso encontro foi assaz
perturbador.
Praticamente nos
confrontamos. Os dois assustados. Passou por mim e retornou pelo corredor em
direção à cozinha. Lembrei-me, então, de tê-lo visto na véspera, pousado na
torneira, sugando uma gota que teimava em não cair.
Quando cheguei à cozinha ele
já pousara na torneira que, bem fechada, negava-lhe a oportunidade de saciar
sua sede.
Ao me ver voou na minha
direção.
Não sei por que razão não temi sua investida.
Não exibi nenhum gesto de repulsa ou temor.
Fui até à bica e delicadamente tentei deixar uma gota d’agua retida e me afastei ficando a observar.
Não sei por que razão não temi sua investida.
Não exibi nenhum gesto de repulsa ou temor.
Fui até à bica e delicadamente tentei deixar uma gota d’agua retida e me afastei ficando a observar.
O reluzente e grande
maribondo voou em torno da minha cabeça, agradecido.
Era negro brilhante, porém
algumas regiões do corpo emitiam um tom vermelho bem escuro.
Delicadamente, ele pousou e
após saciar a sede, recolheu a minúscula gota que levaria num voo para algum
lugar. Certamente para usar na construção de sua casa, pensei.
Esta amizade inesperada e curiosa durou
algum tempo.
Se eu esquecia de manter a
torneira pronta para sua utilização, ele percorria as dependências da casa a
minha procura e voava sob minha cabeça executando um arabesco aéreo que eu traduzia
rápido e aflita, correndo à cozinha e me desculpando no caminho pela distração.
Ele fazia várias viagens. Saía pela janela da
área por onde entrava e que eu nunca mais fechara.
Quando não me via, voava
pelos cômodos da casa a minha procura e ao me encontrar executava um desenho
aéreo a meu redor e eu, erguendo-me, caso estivesse sentada ou deitada,
agradecia a saudação cumprimentando-o em voz alta e rindo da alienada situação.
Não raras vezes, voava
diante de mim, tão próximo que eu ouvia o zunir das asas. Eu também exibia
movimentos suaves falando, rindo, saudando a irresistível, enigmática e querida
presença.
Ficamos amigos. Eu e o
maribondo. Nosso convívio durou algum tempo.
Um dia ele parou de vir.
Continuei deixando a
torneira pronta.
Ele não veio mais. Fiquei triste.
Muito triste.
Sua curta existência foi
para mim uma experiência mágica, rara, inusitada, inesquecível.
Aprendi com ele que o tempo
é insignificante diante da grandeza dos sentidos e nada, nada é improvável,
tudo pode ser comunicado, intensamente vivido e compartilhado neste fantástico e imprevisível universo
das emoções.
Zelia
da Costa/NM/MT/23/08/2015/13h42min
zeliadacostamt@gmail.com
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