terça-feira, 13 de julho de 2021

NÃO CONTEM PRA NINGUÉM

               NÃO CONTEM PRA NINGUÉM!

        Bem, nos reunimos aqui hoje porque quero marcar este momento com a presença de todos.O sr.Galdino, nosso amigo, que doou essa linda caixa para "nossas abelhas"viverem em paz, construindo sua colmeia,já nos informou o quanto é importante para elas, a nossa proteção.Elas foram colocadas nesse cantinho, mais distante um pouco das nossas árvores, para que não sofram ataques de pássaros e outros insetos.

          Aprendi, que não devemos nos aproximar da colmeia porque as abelhas acreditam que somos inimigos e atacam para se defender.              Também, devemos evitar os movimentos bruscos para enxotá-las porque elas pensam que queremos machucá-las.

            - Abelha pensa, professora?

           - Eu desconfio que sim, porque para sobreviver, elas criaram um plano de construção da colmeia. Uma arquitetura frágil e ao mesmo tempo resistente, inserida numa espécie de projeto que garante o manejo da conservação de seu produto e natural sobrevivência desses insetos. Para mim, isso é pensar - talvez, forma diferente da humana,mas inteligente.

           - Vocês já foram informados que elas recolhem o pólen das flores, aquele pozinho que existe dentro das flores e o submetem a um processo que resulta em MEL.Ocorre, que as abelhas ao pousarem, de flor em flor, provocam a multiplicação das espécies vegetais porque depositam o pólen nas flores.  Muitas espécies de plantas raras só sobreviveram graças a reprodução provocada pelas abelhas nas densas florestas e também nos jardins.

          Atenção!Por favor! Não "abanem com as mãos" tentando evitar a aproximação das abelhas porque isso é interpretado como "ataque" nosso, contra elas!

          - Mas, aí. ela vai "morder a gente"?

          - Abelha não morde...Ela pica!Mas...isso só acontece quando se sente ameaçada, e aí, ela se defende!

    Eu li,que elas são capazes de armazenar odores e os reconhecerem. Então,ela " identificará" você como "amigo", se você não lhes fizer mal. 

      Elas vão viver aqui no fundo do quintal... Podemos visitá-las mas, vamos "dar um tempo"pra que elas entendam que estão vivendo entre amigos protetores.

   Vamos deixar que elas nos conheçam melhor!        Vamos provar que não lhes faremos mal e que elas nada tem a temer.

     É hora de deixá-las em paz e como são muito inteligentes e sensíveis logo nos reconhecerão!

   - Quem não gosta de fazer amigos?

   - Amigo de abelha, professora?

   - Deixa eu lhes contar um segredo.Já fiz amizade com um maribondo.Eu deixava escorrer um filete de água da torneira e ele ía lá beber.E quando ele entrava em minha casa e não me via,  me procurava por todo canto pra eu abrir a torneira e ele se servir.Às vezes, levava para algum lugar, uma gotícula segura entre as patinhas! Penso que era para ajudar na construção de sua casinha!Quem sabe?

       Converso com passarinhos... Falo com árvores...E sempre fiz grandes amigas entre as borboletas! Não acreditam?Pois bem, querem fazer amizade com as abelhas? Então faremos!

      - Mas elas picam e minha mãe disse que dói muito!Ela disse que não entende por que a senhora "inventou de criar esse bicho"?

       -Diga a sua mãe que ela vai se arrepender...

        E, assim, demos início ao trabalho de inserção ao Projeto  Apicultura!

       O tempo passou e agora, dado o excesso de produção, era preciso coletar o mel, cortando favos. Conseguimos,graças aos amigos, que um jovem fosse nos prestar esse serviço.

       Levei as crianças para assistir ao "evento"!

       O moço chegou e se dirigiu para os fundos da escola.Da bagagem que levava retirou uma capa de plástico negra e vestiu. Ele já estava com botas de cano longo e aí, para nosso espanto, retirou um pequeno "lança-fumaça" e pediu-me que retirasse as crianças porque as abelhas, certamente, reagiriam atacando.

      - Senhor! Eu e as crianças somos reconhecidos por elas como amigos. Nunca houve aqui uma criança picada! Olha, como elas pousam na gente.Queria lhe pedir que não usasse tanto a fumaça...      Experimenta mexer nelas sem atacá-las...          Por favor...O senhor já está todo protegido...Faça essa experiência...Por favor!

          Ele coçou a cabeça...

          - Bem, peça então, pra eles ficarem mais distantes.

        Atendemos e nos afastamos.

        Sem excessos,ele abriu a caixa.Houve uma reação como se as abelhas estivessem surpresas, mas não atacaram. Voavam ao redor dele, enquanto cortava os favos e os depositava em um recipiente, previamente, higienizado que cedemos.

       Eu e as crianças a curta distância assistíamos Mesmo assim, elas voavam e pousavam em nós,   sem nos atacar!

        Terminada a operação o moço despiu de toda aquela parafernália e veio falar comigo:

        - Olha, professora, a senhora não conta pra ninguém o que aconteceu aqui, porque ninguém vai acreditar! Nunca fiz isso desse jeito e vou lhe dizer que estava preocupado que o pior acontecesse.

         "Suas abelhas" tiveram uma reação estranha, surpreendente e eu nunca pensei que isso pudesse acontecer.

        -  Bem...Que bom que o senhor me atendeu. Todos os dias viemos até aqui.As crianças até cantam pra elas e elas reagem voando ao redor e, muitas vezes pousando nas cabeças e braços.Sei que contado ninguém acredita,mas isso não tem importância!

           Olha, professora, aqui está seu mel.Uma produção e tanto. Parabéns!

          - Agora vou mandar um potinho para aquela mãe que não gostou de eu "criar esses bichos"!

          Ele riu!

          - Moço! Sou filha de uma mulher que "conversava com as plantas"e as elogiava pela beleza. Todos se admiravam com o exuberante frescor que exibiam.Elas pareciam entender o carinho.

            Creio que toda a Natureza tem uma "linguagem" e que podemos traduzi-la quando, de verdade, ela sente que não as ameaçamos e o quanto sua vida nos importa!

          Esclareci minhas crianças sobre o fato de as abelhas destinadas à reprodução receberem uma alimentação especial - um mel especial  de alto valor nutritivo - porém omiti, que a primeira que "nasce"elimina as outras, ainda no "berço", para que não haja competidora a desafiar seu "status" de poder.

          A colmeia é uma sociedade sustentada por "cativos". Tanto a "Rainha", quanto o Zangão e as Operárias são "escravos da sobrevivência". Um modelo que  devemos considerar como similar a muitos "governos humanos" que tornam o povo submisso e cativo. Porém,paradoxalmente,esses governantes   gozam de privilégios imperiais, uma condição vil, rejeitada pelas abelhas,que tem como razão natural da existência da soberana Rainha reproduzir sua  espécie até o fim da própria e curta existência!

      

   Doces lembranças de amargo modelo!

  Zelia da Costa/NM/MT/13/07/2021.

      

    

   

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