terça-feira, 5 de março de 2013

UMA VIAGEM EXCITANTE



       UMA VIAGEM EXCITANTE
Mas não é maravilhoso?
Raramente, fico tão entusiasmada como agora.
Acabo de chegar de viagem. Logo, eu vi. Ninguém me contou. Foi emocionante. A criatividade brasileira, na minha opinião, atingiu o ápice em matéria da tecnologia aplicada à arte...Será arte? Talvez seja, pois é tamanha a inovação usada na cobertura de estradas... É sensacional! A cada momento o inusitado acontece!
São pistas novas, mão dupla, recém- construídas e isso é o formidável. Sabe o que inventamos?
- O asfalto solúvel!
Não conhece? Explico,claro, de uma forma simplista porque  tecnicamente, não tenho competência para tanto. Vamos lá!
Trata-se de uma espécie de calda. Isso. Uma calda rala de asfalto, carinhosamente derramada, pulverizada, sobre uma colcha de pedras britadas. Entendeu? Agora o melhor: ela se dissolve com água.
 Você sabia que isso existe?
        Não?!
Pode sentir orgulho grande porque acabamos de inventar as “estradas movediças”! Uma surpresa!
- Uma hora tem... outra...não tem.
Não é incrível? Deixa qualquer Montanha Russa desmoralizada! Dirigir nestas estradas é pura adrenalina porque o trânsito incessante obriga o motorista a manter os nervos tensos e o cérebro numa excitação mórbida para enfrentar o inesperado. Para torná-las mais excitantes não há acostamento nem sinalização. O mato que margeia as pistas teima em querer atravessá-las. Não devia estar ali. Quando em vez, alguém irresponsável  atira um cigarro, ainda aceso, pela janela e incendeia  o capim ou a turma da manutenção ateia fogo para poupar esforço e, aí, a fumaça cria uma densa cortina impedindo a visão e o perigo se instala.A desorientação perturba todos os sentidos de quem dirige.
O movimento nessas estradas é dominado por enormes carretas de trinta metros de comprimento, lindas, muitas equipadas com tecnologia avançada,  espetaculares, carregadas com toneladas de soja, algodão, milho, madeira, etc. A produção agrícola do centro-oeste brasileiro transportando uma parte importante da economia do país e que segue rumo a portos distantes, bem distantes. Inconcebível não haver transporte ferroviário... mas isto é outra história.
        Como eu ia dizendo, estes veículos ziguezagueiam numa coreografia infernal por estas estradas movediças para evitar os buracos que se sucedem. Quando em vez, eles e vans e automóveis, todos os que percorrem essas vias são inevitavelmente  surpreendidos e tombam pelo caminho porque seus eixos se quebram ou pneus estouram ou no desvio para driblar as abissais crateras formadas, eles avançam no sentido  da mão oposta e se chocam, se incendeiam, se destroçam, não por direção perigosa, extrema  velocidade  ou condições péssimas de seus veículos e sim, pelo inesperado - os criminosos obstáculos imprevisíveis. Não, por imperícia e sim pela inacreditável invenção brasileira – a rala camada, a tal calda dissolve!
        Essas estradas não foram planejadas e pavimentadas para o fim a que também se destinam: transporte de cargas pesadas.
        Aqui, não são os motoristas - os bêbados. São as estradas que são bêbadas, drogadas porque elas se perdem no traçado e na construção. De repente, se desfazem. E são tão jovens! Lamento.
        Quando as autoridades são interpeladas sabem o que dizem?
        - É a chuva! A chuva acaba com as estradas!
        Viu? Elas são solúveis na água! Acredita?
Não sei, não! Como é que as estradas de outros países construídas há dezenas de anos aguentam tempestades, sol, neve e continuam como tapetes? Maravilhosas!
        Sabe o que eu penso? Acompanhe meu mísero raciocínio:
1 1 -  Se a estrada tiver sua construção sólida vai demorar anos a se realizar licitação fabulosa para sua manutenção. Humm? 
   2  - A calda de asfalto prova a competência das nefastas intenções da organização. Funciona.
   3 -   Não é de domínio público a responsabilidade da fiscalização e controle dessas obras. Não quero só responsabilizar órgãos. Quero nomes de quem levou vantagem pecuniária com o engodo. Quero sua “cabeça a prêmio”. Quero acompanhar sua fortuna. Quero perseguir seu caráter.
   4 -  Qual o custo real de manutenção?    
   5 -  Como a engenharia brasileira de estradas e pontes não se constrange com a desmoralização da sua competência? Como suporta?
   6 - Qual o montante destinado às estradas movediças?
   7 -  Ah! Quanto pagamos para erguer os viadutos gigantescos construídos aleatoriamente, monumentos “abobalhados”, coitados, perdidos em meio do nada. Um caminho de não sei onde, levando a lugar nenhum? Envelhecidos, já deteriorados. Monumentos  abortados, decadentes. São muitos. Imagina o prejuízo! Alguém ficou rico. Muito rico! Alguém não!Alguéns! Só rindo pra não chorar!
   8 -  Quais são as grandes empresas, de verdade, que camufladas sob outro apelido atuam nesta área?
Cinicamente.
   9 -   Como eu podia esquecer das pontes? Ah! As pontes... Imagina! Que pontes?
1 10 -   Qual a responsabilidade dos vereadores, prefeitos, governadores, ministros e presidentes nesta trama sinistra? Afinal, eles  são os funcionários que nos devem a qualidade do produto de seu trabalho e nós os pagamos regiamente por isso. Somos seus patrões.
 

Nota de Esclarecimento:
Para ser justa devo esclarecer que as estradas  movediças não são privilégio da Região Centro-Oeste. Elas estendem a doçura de sua rala calda asfáltica e a distribuição equânime de suas crateras também pela região norte e as demais.

Agora, sabe por que isso acontece?
Sabe por que morrem filhos, pais, mães, crianças, velhos? Sabe por que são mutiladas, cegas inutilizadas tantas pessoas?
       Porque a gente merece.

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