ATÉ QUANDO?
Não sou socióloga. Não
entendo nada de psicologia. Dito isto, sinto-me bem mais à vontade para esta
conversa.
Quando eu era criança, os
adultos costumavam pedir para eu me afastar, se queriam conversar sobre coisas
que eram impróprias aos ouvidos infantis. Embora algumas pessoas julgassem tolo
o pedido, dado a minha pouca idade, minha mãe invariavelmente insistia porque
sabia que eu era capaz, sim, de entender quase tudo que seria dito. Ela não
tinha dúvidas. De nada valia a minha angelical expressão e o meu, planejado
olhar inocente.
- Querida! Vá brincar lá
fora um pouquinho com as meninas!
Eu ia. Danada da vida.
Bem devagar... para dar tempo de saber do que tratariam. Distante, observava as
expressões: sorrisos, olhares, cochichos, gestos, etc. Tentava decifrá-los.
Por que eu estou dizendo
isto?
Porque vivi o suficiente
para usar esta observação, exercitada durante anos, em benefício da minha
perspicácia. Provavelmente, o fato de ter minha mãe morrido quando eu ainda era
criança exacerbou meu instinto de defesa e apurou minha sensibilidade neste
sentido.
- “Ler as entrelinhas” é
mais que interpretar o texto. É atingir o âmago da intenção do autor( dizia
meu amado Professor Manoel de Cavalcante Proença).
Estendi esta habilidade
adquirida às conversas, aos discursos. Fui muito além dos textos escritos.
Será que isto tem alguma
implicação com o motivo da minha angústia atual?
Às vezes, não é
necessário ser tão arguta para perceber quando há um descompasso entre gestos,
ações e a natureza dos propósitos que percorrem caminhos tortuosos e
íngremes tentando desnortear a observação para impedir a descoberta dos
espúrios objetivos?
Compliquei?
Esclareço!
Você acha que há pessoas
capazes de obstruir sua própria inteligência e sensibilidade para evitar ter
que tomar decisões que lhe irão contradizer a impressão, fragilizar a convicção
já explicitada, defendida até com certo furor, ou melhor, a opinião concebida e
já desmoralizada sobre uma idéia, uma escolha ou sobre alguém.
Pior é quando esta
impressão se caracteriza falsa e se deteriora pela força das evidências.
Insistir em mantê-la latente torna-se questão de honra porque mudar de opinião,
corrigir este engano será para certos indivíduos, assumir a cumplicidade no
engodo evidenciando um erro de avaliação. Isto fere a própria vaidade. Arruína
sua autoconfiança. Destrói sua credibilidade. Esta sua nociva crença sedimenta
sua decisão. Covardemente, então insiste no erro. Cala. Omite-se.
E quando estas pessoas se
multiplicam, multiplicam, multiplicam e atingem o número desalentador de
milhões - um povo?
Penso: o que lhes faltou?
1 - Ser expulso da
conversa de adultos?
2 – Ter a mãe morta na
sua infância?
3 - Ter sido aluno do
notável Prof. Manoel de Cavalcante Proença?
4 – Ter a marca da
Dignidade de meu Pai?
Ou saber que a Coragem é
a Razão Maior da Própria Existência?
Creio que fui clara. Entretanto,
aconselho a todos cuja dignidade ainda clama começarem a “ler as entrelinhas”.
Coragem.
Duras palavras, mas como sempre, sábias e verdadeiras.
ResponderExcluirConfesso que fiquei preocupada, será que cometo esses erros?
Bom texto para reflexão.
Te amo.