ABÊNÇÃO VOVÔ!
“Isso é malhar em ferro frio”
Esta é uma expressão em desuso, muito
citada pelo meu avô que era um brasileiro à moda antiga. Naquele tempo, ele
ouvia todo dia no rádio, às sete horas da noite, (ninguém dizia dezenove horas),
“A Hora do Brasil”. Ficava atento. Eu
lhe perguntava por que o interesse e ele me respondia que era preciso
acompanhar o noticiário pra saber como o governo agia:
- O País é nosso! Eles tem que prestar
conta e a gente tem que ficar alerta. São todos funcionários públicos como eu:
presidente, senador, deputado! Todos empregados do Brasil, dizia com orgulho.
De
vez em quando, ele sorria feliz, mas não raramente, se aborrecia e bradava queixas
e reclamações como se alguém pudesse ouvi-lo. Alguém responsável por provocar
tanta indignação.
As lembranças da minha
infância são vivas e perturbadoras quando hoje recordo a frase:
-
O País é nosso!
Percebo
que as pessoas eleitas ao assumirem os cargos incorporam uma “entidade” que se exibe de forma quase
demoníaca. Parece que eles acreditam, realmente, serem deificados e agem ora como imperadores, ora como faraós, portanto
acreditam que os tesouros do país fazem parte do “seu patrimônio” e os tomam para si ou os desbaratam em
experiências desastrosas com a convicção de que não devem a seus súditos - nós -
os míseros contribuintes, nenhuma, eu ia dizer satisfação, porém prefiro pensar
na prestação de contas de suas nefastas investidas na economia, no absurdo
desbaratamento do nosso dinheiro conspurcado em fétidas transações corruptas.
Confundem os recursos públicos com interesses privados. Parece que a realidade
se esvaiu. Presidentes, deputados, senadores deviam ser submetidos, com frequência,
a testes de sanidade mental e moral, indispensáveis para permanência no cargo.
Comece
a observar a maneira que eles se comunicam com a gente. Não falam como se fosse
obrigação de competência dos seus cargos cumprir os projetos nacionais de forma
objetiva, racionalizando tempo e recursos. Não! A coisa é dita assim:
- Nós
pretendemos a partir de agora colocar todo nosso empenho para garantir que...
Aí,
começam a citar coisas que são absolutamente indispensáveis a qualquer nação
por mais porcaria que seja: creches, conjuntos habitacionais populares,
hospitais decentes, escolas, etc. E ficam aguardando que nós, financiadores e
razão de tanta majestade sintamos o privilégio de sermos lembrados e
supostamente beneficiados.
A
Educação vai mal!
Mentira!
Quem
diz isto não tem a menor noção do verdadeiro estado em que ela se encontra. Está
péssima. Eu diria em adiantado estado de putrefação. Embora a propaganda governamental
exacerbe sua excelência, está acéfala.
Qualquer
empresa se preocupa com o seu produto final. É monitorando todo o processo que
ela consegue constante aperfeiçoamento e estabelece seu índice de qualidade e
supremacia.
A
Educação também funciona assim.
Que
cidadão nossa Educação pretende formar? Qual o objetivo final do processo?Que conceitos,
habilidades, procedimentos didáticos, conteúdos primordiais e experiências
sociais serão colocados à disposição deste projeto humano de integração e
respeito à individualidade.
Até
agora o produto final preocupa e deixa muito a desejar.
E a
Saúde?
Como
podem funcionar hospitais sucateados?
Como
podemos aceitar estradas. Eu disse estradas?
Perdão! É melhor que perguntem aos caminhoneiros amputados
ou às viúvas e filhos órfãos. Quantos motoristas são vítimas e sofrem prejuízos
fatais e financeiros por transitar nestas vias mortais.
Acabo
de ver na televisão o sucesso da seca no nordeste! Ela é perfeita nos seus
objetivos, porém não é surpreendente: gado morto, seco; lavoura morta, seca; até
a caatinga não resistiu e o homem seco de esperança, nem chorava. Mas que
importância tem isso?
E o seu governador? Onde? Quando?
A notícia
mais importante ocorreu dias depois quando a presidente do Meu País e mais cinquenta
(50) piedosos devotos, convidados oportunistas, se hospedaram no mais luxuoso
hotel da Itália. Cinquenta e dois quartos. Além do custo do transporte aéreo e alimentação, a formidável diária:
sete mil reais. Despesa acrescida do aluguel de trinta viaturas entre
automóveis e furgões.
Total:
mais de cem mil reais por dia. Pagos por nós.
Tudo
por um vídeo, uma foto com o Papa e uma piada copiada de Pelé, gracinha da
presidente repetida à exaustão pela imprensa.
Enquanto isso, o povo do Rio de
Janeiro assiste impassível à destruição apressada de um conjunto habitacional,
construído para abrigar as vítimas das enchentes e desmoronamentos e que não
pode ser ocupado porque ameaça desabar. O custo total da obra: vinte e dois(22)
milhões de reais. Ela esta integrada ao projeto Minha Casa, Minha Vida financiado
pela Caixa Econômica,ou melhor, com nosso dinheiro.
A
rapidez do desmonte traduz a urgência em não deixar que o assunto detone as
aspirações políticas estaduais e federais de eleições e reeleições.
São
muitos prédios. Custo dois (2) milhões cada.
É um
espanto! É inacreditável! É surreal!
E
daí?
Daí?
Nada!
Eu só
estava pensando no Vovô.
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