SE CORRER...
Bem, chegamos à Santa Cruz!
Agora nos restava agradecer ao engenheiro/apicultor que nos deu a carona e continuar no caminho para nossa escola. Antes de ir embora, ele me recomendou que não desistisse de levar até as crianças, a atividade de Apicultura:
- Professora! As abelhas foram lhe "procurar"! Por favor! Não desista! Não deixe que as crianças percam essa oportunidade única! As abelhas são amigas queridas e extremamente úteis e importantes, verdadeiramente necessárias! Insubstituíveis na Natureza! ! A ignorância vai exterminá-las! Proteja-nos, defendendo-as!
Agradecemos a surpreendente viagem e descemos da carona muito abatidas! Era o que nos restava fazer. A tristeza estampada nos rostos foi logo identificada pelo nosso amigo motorista:
- O que houve? Tá todo mundo desanimado... Que tristeza é essa?
- O senhor nem pode imaginar... É inacreditável! Estamos ainda sob o efeito do choque da dolorosa surpresa. Respondi-lhe amargurada.
- Gente! Dá pra me contar?
(Insistiu ele, agora aflito!)
Narrei, ainda sob impacto e com pesar, a coincidência infeliz. Ele ficou estarrecido!Era um episódio, absolutamente, chocante!
Afinal, Seu Inacinho tinha sido também personagem daquele episódio, pois fora quem logo nos acudiu levando "seu Galdino", o velho apicultor que nos presenteou com a caixa de peroba rosa para abrigar nossa fabulosa colmeia.
- Não acredito! Que coincidência medonha! Acontece cada coisa.... É quase inacreditável!
Ah! Professora... Será que ele foi capaz dessa maldade?... Que safadeza!
(A expressão grosseira foi logo corrigida.)
- Desculpe, saiu sem querer!
Era um tempo em que se pedia desculpas pela falta de respeito, mesmo que a causa justificasse.
Estávamos no carro, rumo a nossa escola quando súbito ouvimos dele, outra exclamação irritada:
- Ah! Isso não vai ficar assim!... (Gritou, espancando o volante). A senhora "tava" tão contente... E as crianças "tavam" aguardando a surpresa... Todo mundo ansioso...
- Bem, seu Inacinho! Verdade! Tem razão!O senhor me convenceu a tomar uma decisão! Certo!Eu vou procurar esse homem como "seu Rogério"falou e não vou deixar "barato" esse episódio! Aqui se faz...Aqui se paga..."
- Ah! Vai! E vai mesmo! E vai ser já! Deixo as professoras na escola...A senhora "topa"ir agora resolver essa "pendenga"?
- Todo mundo concordou! E assim foi feito!
Ao chegar ao km47 havia um grupo de homens, funcionários da escola, cuidando dos jardins. Quando perguntei, com expressão pouco simpática, onde encontrar o tal professor?... Eles me indicaram ser naquele prédio mesmo e quando nos encaminhamos para o espaço interior , ouvi a expressão:
- "O bicho vai pegar"!
Fiquei intrigada...
Por que a razão daquele comentário?
Eu não os conhecia, mas de alguma forma fui identificada.
De repente, em meio a um pátio, cercado de colunas, vi o professor que me apontavam os funcionários e gritei:
- Por favor, senhor, quero lhe fazer uma pergunta!
Ele gritou:
- Por isso é que eu não gosto de "negócio" com professorinha!
- Espera! Como sabe quem eu sou? O senhor já me esperava?
Rápido, ele correu para a "caminhonete"!
Mais rápido que ele, seu Inacinho, berrou pedindo que esperasse e correu em direção do nosso veículo, ligando o motor!
- Entra agora no carro, professora... Rápido! Esse cara não vai conseguir fugir de mim!
Foi quando ouvi, o tal funcionário dizer:
- Ele tá acostumado a fazer isso e não "vira nada"... Dessa vez, "se estrepou "!
Seu Inacinho atravessou-lhe, perigosamente, o caminho e desceu do carro comigo.O homem estava pasmo!
Antes que ele fugisse de novo, gritei:
- Vou comunicar ao gabinete do Ministro(que foi quem o indicou), o que ocorreu na minha escola... O senhor trate de me devolver a caixa e minhas abelhas... O senhor não me conhece, moço... Conserta a "besteira"por que eu o faço perder o emprego... Estou cansada de gente assim como você... Conhece o doutor( e aí, eu lhe disse o nome do moço da carona e ele ficou pálido)!... Você deixou lá na minha escola uma colmeia em desagregação, numa caixa destruída! Conserta isso, moço!Minhas crianças não merecem esse desprezo, precisam da Esperança! O senhor nos traiu!
Quando passei de volta pelos funcionários, vi que estavam surpresos e deixavam entrever um sorriso estranho...
Perguntei-lhes a razão do espanto e ía comentar o motivo do espetáculo negativo que eu tinha apresentado, mas antes, resolvi indagar por que um deles tinha dito a expressão "o bicho vai pegar"? O autor da ironia respondeu, para minha surpresa, que sabia quem eu era. Havia acompanhado o professor transgressor até a minha escola pra fazer aquele "serviço"e ouviu quando o "meu motorista" me chamou de "professora Zelia" e que entendia a razão da minha ira.
- A senhora desculpa, mas a gente trabalha e cumpre ordem.
Ouvi seu Inacinho "rosnar" qualquer coisa "entre dentes".
Partimos, encerrando o episódio.
Dia seguinte, fui recebida com um largo sorriso pela dona Maria, a merendeira:
- Fia...Tem uma surpresa lá no fundo du quintá... Corre lá!
Corri!
Linda e recendendo o aroma de madeira nobre...Lá estava nossa linda caixa de volta e cheia das nossas queridas abelhas!
Ele devolveu!
Logo, as crianças foram apresentadas à colmeia, com uma palestra apaixonada, proferida pelo senhor Galdino, que soube encantar todos nós e seus pequenos ouvintes.
Aos poucos, fomos ganhando a confiança de nossas incríveis parceiras. Uma experiência inesquecível de uma história rara, verídica, mas difícil de se crer e que não acaba aqui!
Zelia da Costa/NM/MT/sábado/10/07/2021/12:43
Nenhum comentário:
Postar um comentário