MÁFIA
Estou assustada!
Aos poucos, sub-repticiamente,
vamos abandonando o nosso idioma e o substituindo por expressões alienígenas
que fogem inteiramente do sabor castiço e moleque, natural da “nossa” língua
portuguesa. Será isso evolução?
É verdade. Será que em outros países, outras nações, a língua
pátria está se tornando obsoleta, incapaz de traduzir com velocidade e
perfeição o moderno cenário social, científico, filosófico, moral, religioso,
jornalístico, enfim, a expressão humana falada e escrita de seu povo pela
linguagem estrangeira?
Será que alemães, franceses, italianos, austríacos, sempre
tão fiéis às suas origens estão também abdicando do idioma de suas pátrias?
Os portugueses costumam “aportuguesar” a linguagem exótica.
Sei que a língua tem vida própria e evolui naturalmente, o
que a torna rica e preciosa.
Não sou ingênua para renegar o vocabulário inserido pelas
novas tecnologias e essa não é a questão. O fulcro do problema, insisto, mesmo
você torcendo o nariz para fulcro, está acredito, na pobreza das intenções em
que nossa linguagem é conceituada. Aliás, há muito percebo que neste aspecto e
em alguns outros, a globalização vem diluindo o apego aos sentimentos de
nacionalidade que só se exacerbam em competições esportivas ou manipulados por
interesses políticos inescrupulosos.
Parece que está sendo orquestrada de forma magistral a
ignorância, o alheamento, a grosseria. A Língua de uma nação é sagrada.
É garantia de sucesso no domínio de um povo, mantê-lo alheio
a questões importantes, diluí-las em meio a informações desencontradas ou
divulgadas de forma a que não sejam consideradas primordiais para a sociedade,
enfim, para evolução do país.
A ideia de que o presidente do país é pai ou mãe do povo traz
no seu núcleo o sentido de isolamento como se, eleitos esses funcionários pagos
para coordenar a administração do país, também fossem investidos de um poder
especial, um poder patriarcal que não admite interferências quanto a sua autoridade
de chefe de família.
Pode parecer uma ideia advinda do período colonial, porém
também pode ser algo importado, um sistema de comando bastante disseminado pelo
mundo e atribuído à Cosa Nostra, patriarcal e criminosa.
Interessa a esse tipo de governante o alheamento causado pelo
desbaratamento das informações que subtraem a confiabilidade popular. Assim, de
inúmeras maneiras se distancia o povo das consequências traumáticas das suas
ações governamentais.
Uma das primeiras intenções, por mais grotesca que possa
parecer, é conservar o povo analfabeto. O ensino deficitário eleva ao curso
universitário alunos que não conseguem redigir. A massa de analfabetos é grata.
A baixa escolaridade os mantém reféns dos desígnios impostos pelos governantes.
Tem aspirações reduzidas e são fiéis e dependentes.
Interessa manter um sistema de ensino
absolutamente ineficiente, cujo objetivo seja limitar a capacidade de
interpretação e para cálculo. Condicionar a população à compreensão superficial das
ideias e prognósticos. Não acredita?
Pensa. A quem interessa?
Um governante de baixa instrução não pode avaliar um Projeto
de Educação, um projeto de desenvolvimento, porque dependerá sempre de um
ministro escolhido, sob que condições?
Assim, um país governado pelo bobo da corte tende a se
desintegrar.
Povos instruídos evoluem. Eles se organizam. Respeitam-se.
Cobram de seus governantes seus deveres.
A quem interessa as condições brasileiras.
Quem não duvida, não argui, não questiona, não fiscaliza, não
condena não se impõe. Não é capaz de se sentir competente para avaliar danos
futuros ou de exigir medidas que não pode escalonar. Apoia e aplaude por ignorância. Impotente,
deixa que os gestores desonestos ajam com a liberdade de um poder
inquestionável.
Esta é a receita dos ditadores.
E qual a relação entre a linguagem e a política?
É a supremacia.
Também o político de pouca instrução necessita de um tradutor
para compreender a legislação que rege o país e obedece a indubitável
interpretação de “seu tutor”. Esta dificuldade o faz dependente. Precisa de um
“escriba” para organizar seu pensamento, compor “seu” texto que, como um
papagaio treinado ou um ator canastrão, interpreta.
Acaba por desenvolver uma personalidade viscosa e para
ocultar sua ineficiência se exibe com ironia ou ultrajante agressividade nos
momentos de insegurança, o que o torna capaz de agregar a seu redor um grupo de
caráter duvidoso, bajulador sórdido e ávido pelo poder.
- Ah! Isto pode ocorrer com qualquer um. Você deve estar
pensando.
Sim, mas a incompetência tem uma forma tão nociva de
administrar que não dimensiona o descalabro. Por incalculável vaidade não
aceita seu despreparo e impõe à população, vítima de seu projeto de poder, um
trágico destino.
Um povo que não sabe ler, interpretar e escrever “de verdade”é incapaz de “pensar”,prosperar
e se orgulhar de sua nacionalidade, de sua língua, de sua origem. Ele não
dimensiona a grandeza de Seu País!
Diga-me como falas e escreves. Eu te direi quem és.
Ou melhor, de onde és!
Ou ainda, se és!
Zelia da
Costa/NM/MT
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