A PORTA
Ei-la: a Porta!
Há que abri-la!
Isto importa: romper esta Porta!
A última fronteira da
curiosidade derradeira
O que será que oculta a
imensa porta de madeira?
De madeira carcomida, de
remota procedência...
Tão antiga...
Parece que a conheço de
outra existência!
Imponente, sem detalhes, sem
símbolos, sem presságios...
Imóvel, indevassável, solene,
inolvidável
Uma porta... e sua maçaneta
inquebrantável!
Fechadura lacrada à espera
do toque exato
-Eu e a Porta.
Ao abri-la, o que será que
me aguarda?
- Tanta claridade que obriga
aos olhos, fechá-los?
Ou tamanha escuridão, que
mesmo o olhar arregalado
Não verá o horizonte capaz
de norteá-lo?
Um mergulho colorido nos
sons que me embalaram?
O silêncio comovido das
palavras que calaram?
Lembranças inesquecíveis?
Amigos idolatrados?
Espaço infinito e multiplicado
a cada passo?
Lugar exíguo que não cabe um
grito, um traço?
Saudades que sempre tive?
Pessoas que me faltaram?
Gestos indefiníveis?
Os braços que me ampararam?
Paisagens indescritíveis?
Os bichos que me encantaram?
Perigos imprevisíveis?
Amores que me amaram?
Vaidades, egoísmos... pecados...
Tudo assim exibido num tempo
destravado?
A Porta...
Condenso as energias num
suspiro letal!
Nas mãos, a última coragem...
-Torço a maçaneta...
E abro a Porta, afinal!
Zelia /04/08/2005(RO)
zeliadacostamt@gmail.com
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