Sempre fui criticada pela mania de
falar com animais como se fossem pessoas. Eu, por condescendência comigo ouso
dizer, com pseudo suavidade, que a palavra mais coerente a ser aplicada neste
caso é hábito. Mania tem uma conotação negativa, uma carga de desequilíbrio que,
como todo louco, nego aceitar.
Quem pode afirmar o domínio humano
sobre qualquer conhecimento?
Quando era criança ficava horas observando a
formiga fazendo seu caminho e, durante o percurso, se deter ao encontrar outra
e nesta pausa, num tempo exíguo, executarem movimentos quase imperceptíveis,
uma espécie de mímica que eu tentava decifrar. Tenho a certeza de que elas conceberam
um código de comunicação e acredito que seja um aviso do tipo:
- Vá em frente! A barra está limpa!
Se eu lhes interceptava o caminho, elas enlouqueciam.
Era um “salve-se quem puder”! Corriam sem destino e não mais se comunicavam.
Entendi, ainda criança que, como os humanos no desespero, o instinto de
sobrevivência garante a preservação da espécie.
Eu sempre falei com gatos e cachorros,
mas via minha mãe conversar e cuidar, sem poupar elogios, das esplêndidas
plantas que, vaidosas, exibiam flores e folhas. Ela exaltava o viço dos “brotinhos”
que surgiam e os saudava, efusivamente, como se fora surpresa o irromper dos
novos e bem vindos membros da família.
Cansei de ouvir as vizinhas reclamarem
que as mudas que tinham comprado juntas, não estavam com o mesmo viço que as da
minha casa. Achavam que minha mãe escondia o “segredo” que usava para ter tanto
sucesso! Acreditavam na “magia” de algum adubo “secreto”.
Foi, portanto minha mãe, que morreu
quando eu ainda era criança, que, talvez por premonição, abriu para mim o
caminho da comunicação com todos os seres vivos, impedindo desta forma que eu
vivesse a grande solidão da sua ausência.
Próximo a minha casa havia um pedaço
de floresta que um riacho atrevido cortava e desaparecia, logo depois, canalizado sob a
rua. Em meio aquela mata, eu construí uma “cabana” de bambu, coberta de folhas
de bananeiras que eu renovava de quando em vez. Aos cinco anos, alfabetizada
por minha mãe, num processo indolor, eu amava ler. Levava meus livros para meu
refúgio quando queria ficar longe do sofrimento que eu não entendia.
Eu tinha muitos amiguinhos. Brincava de tudo que
hoje as crianças desconhecem. De “pular carniça”, “pique”, “procurar o anel”, “batatinha
frita”, “estátua” até as brincadeiras de roda: “pai Francisco”, o “cravo e a
rosa”, “roseira”, “eu entrei na roda” e outras
e outras e outras...
Havia, porém aqueles momentos em que
eu queria ficar com meus livros, os antigos e os novos que ganhava dos amigos
da família. Eles achavam “graça”, naquela época, eu ser tão pequena e ler, por
isso constantemente me presenteavam. Nessas ocasiões eu ia para a “cabana”, não
era como a de “Tarzan”, mas era a minha. Dos livros que eu mais gostava tenho
trechos decorados até hoje! De poesias a estórias!
Bem, como eu ia dizendo...agora tenho
que interromper, o almoço está posto. Com licença!
- Ah! Perdão! Está servido?
zeliadacostamt@gmail.com
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